Com dias contados no Instagram, psicólogas explicam se dependência dos filtros pode ser prejudicial

Filtros do Instagram serão suspensos a partir do dia 15 de janeiro

Ouvir Notícia Pausar Notícia
Compartilhar
Filtros do Instagram serão descontinuados. (Ana Laura Menegat, Midiamax)

Desde que a Meta anunciou o fim dos filtros no Instagram, a internet se pergunta como será se acostumar com a falta do recurso na rede social. Entre aqueles que os usuários sentirão mais falta, os de beleza são os mais citados. Frases como “não vou sobreviver sem os filtros de beleza do Instagram”, circulam pela web.

O desespero de algumas pessoas se deve ao fato de que os filtros alteram a aparência, desde pequenos retoques até grandes mudanças no visual. Assim, desde 2019, quando foi inserido na rede social, o recurso se tornou uma zona de conforto para aqueles que se sentem inseguros com a própria aparência.

Mas, a partir do dia 15 de janeiro, a dona do Instagram garante que os filtros criados por terceiros estarão fora da plataforma. “Se o Instagram excluir o filtro que destaca os olhos e a boca, minha vida acaba”, publicou uma usuária no X, antigo Twitter. Além disso, memes envolvendo o assunto não param de surgir, como a comparação da personagem Fiona, do filme Shrek, na versão princesa e ogra.

— baka (@midoryin) January 6, 2025

Filtros de beleza e a dismorfia corporal

Com casos de dismorfia corporal aumentando entre adolescentes e adultos, até que ponto a dependência dos filtros deixa de ser aceitável e passa a ser visto com um sintoma de não-aceitação própria? A reportagem do Jornal Midiamax conversou com psicoterapeutas para tentar entender a relação entre o recurso e transtornos relacionados à imagem.

Conforme a psicóloga Emília Gimene Luna, os casos de dismorfia corporal aumentaram absurdamente nos últimos anos. O principal motivo segue sendo a pressão estética pelo corpo perfeito, aliado ao excesso de exposição que as redes sociais proporcionam.

“Com o avanço das mídias sociais, imagens de corpos perfeitos são mais expostos e assim as comparações acontecem, gerando tanta insegurança. Além disso, o ser humano tem a necessidade de se sentir aceito, acolhido, pertencente a um grupo. Cada vez mais essa aceitação vem com a percepção de que ‘só serei aceito se for perfeito’. Está cada vez mais difícil as pessoas se olharem como ela realmente são, aceitando as suas características próprias”, explica a psicóloga.

Dessa forma, os filtros são apenas mais um recurso que demonstra essa fragilidade. Por isso, a pessoa que apresenta esse transtorno, dificilmente usará a rede social sem o filtro. “Ela não se sente segura para tanto”, afirma a profissional.

Assimetrias são vistas como “imperfeições”

A psicóloga Mariana Mendes Bonato ressalta o incômodo cada vez maior da sociedade com as “imperfeições”, que são apenas assimetrias comuns da face. “As imperfeições fazem parte do ser humano. Um lado do rosto um pouco diferente do outro, a boca um pouco mais levantadinha do lado direito…ninguém é perfeito, e ninguém tem essa simetria tão grande”, comenta.

Contudo, esses traços podem se tornar um grande problema, quando já existe a pressão estética das redes sociais. Com isso, os filtros ganharam cada vez mais popularidade. Eles deixam a pele mais lisinha, aumentam os cílios, colocam sardinhas no rosto. Os que deixam o visual mais “natural” são os preferidos dos usuários.

“Quantas vezes a gente abre o Instagram, vê alguém falando alguma coisa, e de repente no story seguinte, a primeira coisa que ela fala é ‘eu precisei por um filtrinho aqui, porque vocês não merecem ficar olhando com essa cara’. Então as pessoas o colocam”, diz a psicóloga.

A psicóloga especialista em terapia cognitivo comportamental, Juliana Nowak, reforça que os filtros podem gerar insatisfação com o próprio corpo quando não usados. Isso pode acontecer porque pode gerar uma comparação do que se vê realmente no espelho, com a imagem retocada. Contudo, a profissional defende que a comparação é inerente ao ser humano, por isso, insatisfação é diferente de sofrimento.

“Usar filtros não é necessariamente um sintoma [da dismorfia]. Não sozinho. Ele pode estar incluído no comportamento de camuflar as imperfeições reais ou imaginárias do indivíduo, como já fazemos com a maquiagem a anos. Considero o excesso de comparação com outras pessoas mais perigoso do que o uso de filtros”, explica.

Fim dos filtros nas redes sociais

Mesmo com os dias contados no Instagram, os filtros não vão sumir de vez! O uso no Instagram será restringido para aqueles criados pela própria plataforma. Além disso, é possível publicar vídeos que tenham sido editados com filtros em outros aplicativos.

“Não ter mais os filtros vai gerar um impacto, mas eu não sei se necessariamente na diminuição dos casos [dos transtornos]. Vai ter muita gente com muito desconforto em aparecer, pelo menos por um tempo. Talvez recorram a outros meios para ter esses filtros de alguma maneira, como gravar e por filtro por fora, e depois colocar no Instagram”, afirma Mariana Bonato.

Com isso, a discussão da dependência dos filtros ainda está longe de acabar. Mas a iniciativa da Meta pode significar um passo para o aumento da autoaceitação. Contudo, a psicóloga Emília Gimene não acredita que seja possível uma mudança de imediato.

“Pode ser que tenha um efeito a longo prazo. Mas eu vejo que a mudança deveria ser mais ampla, em vários contextos. As mídias deveriam estar envolvida nessa mudança também”, defende.

Siga o Jornal Midiamax nas redes sociais

Você também pode acompanhar as últimas notícias e atualizações do Jornal Midiamax direto das redes sociais. Siga nossos perfis nas redes que você mais usa. 👇

É fácil! 😉 Clique no nome de qualquer uma das plataformas abaixo para nos encontrar:
Instagram, Facebook, TikTok, YouTube, WhatsApp, Bluesky e Threads.

💬 Fique atualizado com o melhor do jornalismo local e participe das nossas coberturas!

Conteúdos relacionados

hotel caiman pantanal
bbb pantanal casa decoração