Nem parecia um último capítulo. A autora Manuela Dias matou a novela na quarta-feira (7), quando aconteceu o encontro e a revelação envolvendo Lurdes (Regina Casé) e Domênico (Chay Suede). Na derradeira desta sexta (9), o folhetim ofereceu ao público cenas silenciosas, algumas com diálogos utópicos constrangedores e comportamentos forçados por parte de personagens que a autora enche o peito para dizer que são realistas.

A emoção ficou por conta de Regina Casé (como sempre), Taís Araújo e Adriana Esteves, que carregaram o capítulo final nas costas, apresentando ao telespectador cenas comoventes quando Thelma já estava no hospital.

Todo mundo sumiu. O desfecho mostrou pequenas pílulas de personagens que foram importantes no decorrer da história. Até Lurdes apareceu pouco. Destaque negativo para as cenas enormes e repetitivas envolvendo o núcleo de Durval (Enrique Diaz) e sua fantasia de unicórnio. Diálogos e ações constrangedores escritos para os intérpretes em ação. A culpa não é deles, fizeram o que estava no papel.

Não se redimiu

Sem muito a oferecer, e com a criatividade em máximo estado de bloqueio, a autora Manuela Dias optou por caminhos óbvios já vistos em outras centenas de folhetins. Os sequestros de reta final são uma péssima muleta para o escritor que não sabe como concluir sua história e se vê perdido na hora de criar um fim.

Não contente em bolar, do nada, o rapto de Lurdes (que foi dada como morta e agoniou o Brasil), um dia após libertar a heroína da trama, a autora inventou outro sequestro envolvendo um bebê para movimentar seu último capítulo.

Oferecendo sequências de extrema angústia e acontecimentos pesadíssimos nas semanas finais, Manuela Dias tinha a missão de se redimir com o telespectador propondo um desfecho bonito, que de alguma forma apagasse os capítulos de horror que marcaram a reta final.

Nas cenas do encontro de Lurdes e Danilo e quando todos descobriram que ela estava viva, parecia que a redenção estava acontecendo. O Brasil foi fisgado pela emoção carregada e bem trabalhada naquele momento. Mas depois tudo desandou novamente e o último capítulo não teve força para limpar a má impressão e se desculpar com o telespectador pelos acontecimentos anteriores que foram considerados um “show de horrores”.

The End

As melhores partes do fim de “Amor de Mãe”, foram, sem dúvida, a sequência das três protagonistas conversando no hospital e relembrando a trama, a despedida de Thelma e Danilo quando ela morre, e a cena final quando Domênico chama Lurdes de mãe. Ponto positivo para o discurso de Camila (Jéssica Ellen) a seus alunos. Foi absolutamente utópico, mas emocionou. E também para a cena entre Raul (Murilo Benício) e Vitória (Taís Araújo), quando ele lê um trecho de Guimarães Rosa, afirmando que “a vida pede coragem”. Foi lindo.

O constrangimento ficou para as cenas da fantasia de unicórnio e todas envolvendo o personagem ativista de Vladmir Brichta, que até foi parar na ONU (Organização das Nações Unidas). A autora decidiu por idealizar um mundo pós-pandemia nos últimos momentos, mostrando os personagens já voltando à vida normal e sem máscaras. Hoje, essa realidade ainda parece muito, mas muito distante de acontecer.

Tumultuada desde o início, “Amor de Mãe” foi uma das novelas mais retalhadas e alteradas que já se teve notícia. Por inserir a pandemia, a necessidade de alterações no roteiro foi ainda maior. O folhetim termina com uma boa média de audiência, sem grandes recordes e arroubos, e também inferior aos números conquistados pela reprise de “Fina Estampa” ano passado.

Imagem da cena final: Lurdes reunida com todos os seus filhos (TV Globo)