Documentário norte-americano ouviu ribeirinhos da reportagem

Um dos biólogos mais famosos do Brasil, Richard Rasmussen, está sendo acusado de pagar ribeirinhos do Amazonas para matarem botos cor-de-rosa para a gravação de uma reportagem exibida pela Fantástico, em 2014. A acusação é do documentarista norte-americano Mark Grieco.

A reportagem mostrava que pescadores da região utilizavam a carne do boto como isca para a piracatinga, peixe que integra boa parte da pesca dos ribeirinhos amazonenses – até a veiculação da reportagem.

Após ser exibida pelo Fantástico, a notícia repercutiu e levou o governo Federal a emitir uma moratória suspendendo a pesca da piracatinga por um período de cinco anos, a fim de proteger a caça ao boto, animal em risco de extinção.

A proibição teria afetado a vida dos ribeirinhos, que tinham na piracatininga sua maior fonte de renda, segundo o documentário A River Below (Um Rio Abaixo, em tradução nossa), de Mark Grieco. O documentário foi exibido em abril no Festival de Cinema de Tribeca, em Nova York.

Grieco viu a reportagem no Fantástico e se interessou em fazer um documentário sobre a matança dos botos no Amazonas. Mas ao chegar nas comunidades visitadas por Rasmussen na reportagem, ouviu o outro lado da história.

Ribeirinhos disseram ao documentarista que as pessoas que aparecem nas imagens matando os botos não eram da comunidade, e que foram levadas ao local onde mataram os animais pelo próprio biólogo.

Grieco passou seis meses buscando pelos homens que apareciam nos vídeos. Em relato gravado, os evnovlidos acusam o biólogo Rasmussen de pagar R$ 100 para cada um para que reproduzissem em frente às câmeras as práticas de caça ao boto.

Rasmussen ainda teria dito que as imagens não seriam exibidas na TV, apenas seriam encaminhadas ao governo, segundo os homens. Grieco levou as acusações até o biólogo, que após ter dado uma entrevista, ficou irritado.

O documentarista ainda disse ao biólogo que sua atitude de mostrar a matança dos botos teria prejudicado a tradição pesqueira e a renda das famílias ribeirinhas do Amazonas, e que Rasmussen estaria “jurado de morte” nas comunidades que visitou.

O biólogo voltou às comunidades depois de ser entrevistado para o documentário. “Eu nunca pretendi prejudicar a comunidade e, por isso, precisava entender por que estavam ‘me jurando de morte’, utilizando as palavras do diretor do documentário. Eu sempre tive a confiança das comunidades por onde passei”, justifica ele.

O diretor Mark Grieco O diretor torce para que seu filme seja exibido no Brasil. “Acho que vai ser interessante mostrar o longa para os fãs dele [Rasmussen]. Algumas pessoas vão defender o que ele fez, outras vão perder a fé nele”, diz.