Perder alguém não é fácil. Mais difícil ainda repentinamente, e sendo alguém que você ama. E assim foi com Yuriko Kawakani Chinen, com seu pouco mais de 1,50m, cabelos curtos e ruivos e os olhos puxados em busca de esperança. Um mês após o falecimento do marido após um infarto fulminante, a “lírio” (flor perfumada e tradução literal do apelido “Yuri”) busca maneiras para manter-se viva, além de homenagear o amado.

Florescer

Yuriko Kawakani mudou-se para o em 1992 em busca de uma nova vida. Ela morava em Guaratinguetá e tinha recém se divorciado do ex-marido com quem teve seu primeiro filho, Lucas. Aos 30 anos, deixou o filho de 6 no Brasil, enquanto trabalhava e ganhava uma renda extra, mantendo contato com os familiares.

Em 1997, Yuriko tinha conhecido alguns pretendentes mas nenhum trazia o relacionamento sólido que procurava, o sonhado romance dos filmes. E assim seguiu até que um amigo, Carlos, decidiu que apresentaria um colega que tinha acabado de chegar do Brasil em Hamamatsu, cidade japonesa localizada na província de Shizuoka.

Trocaram números, indiretamente por meio do amigo em comum, e tiveram seu primeiro contato por telefone. Sem foto, sem vídeo. Afinal, era o final dos anos 90, nem se pensava em Whatsapp. Na primeira ligação, Yuriko conheceu Paulo Chinen Júnior, 12 anos mais jovem e no auge de seus 23, o que ela considerou muito novo fazendo com que mantivesse apenas uma amizade em primeira instância.

Lírio japonês: a saudade do marido e o desejo de agradecer
Paulo Chinen Júnior, falecido em Fevereiro de 2019, durante a década de 90 na praia no Japão. (Foto: Arquivo Pessoal)

Depois do primeiro encontro e de conhecer o jeito “brincalhão” de Paulo, Yuriko percebeu que a idade não era um empecilho e, com o decorrer do tempo a relação foi se fortalecendo até que começassem a namorar. Durante a virada do milênio, entre 1999 e 2000, já consolidados como casal, passaram 12 meses tentando engravidar até que obtiveram sucesso.

Os dois, que carinhosamente se chamavam de “Pai” e “Pi”, se casaram em 6 de Novembro de 2000 na prefeitura da cidade japonesa de Saitama. O filho, por coincidência, nasceu um dia depois, em 7 de Novembro de 2000. Hoje, com 18 anos, o sonho do filho, nomeado de Paulo Neto, é servir a aeronáutica.

Crescer

Depois de 18 anos vivendo na Terra do Sol Nascente, chegou a hora de retornar. Viviam felizes no Japão, até que a crise de 2008 e 2009 afetou a economia e os postos de trabalho. Paulo, que trabalhava numa fábrica de peças para carros, acabou desempregado, e vivia de bicos.

O casal e o filho voltaram ao Brasil em 2010, e logo perceberam as diferenças culturais. No país oriental, ir a praia, acampar e pescar despreocupados com os pertences era uma prática comum da família, o que não era mais possível pela falta de segurança.

Além, perceberam que as pessoas não eram tão calorosas quanto imaginavam, ou se lembravam. “Os brasileiros no Japão são mais amigos uns dos outros do que aqui. Acho que o maior motivo disso é a saudade da família e amigos que todos temos”, comentou Yuriko.

Lírio japonês: a saudade do marido e o desejo de agradecer
Da esquerda para a direita: Paulo Chinen Júnior, Yuriko Kawakani, Paulo Chinen Neto e Lucas Kawakani Neves (Foto: Aquivo Pessoal)

A família também trouxe para o Brasil o cachorrinho “Chico”, um presente de um amigo para Paulo em troca de um emprego. O cãozinho viajou por 13 horas junto com o casal, que mesmo com muitas adversidades (como serem impedidos em um aeroporto alemão sem ter noção alguma do idioma e do inglês), chegou ao Brasil são e salvo e virou colega de mais outros 19 cães que Paulo e Yuriko adotaram.

A dupla de imigrantes que retornava ao Brasil chegou cheia de planos e com dinheiro, suado durante mais de uma década trabalhando 10 horas por dia, para investir. Em tentaram vários projetos que, por falta de experiência, não obtiveram sucesso: dois lava-jatos, um restaurante e imóveis. Assim, Paulo começou a trabalhar como taxista, e Yuriko fazia sushi na Feira Central e em restaurantes da região.

Procurar o Sol

Em 10 de Fevereiro de 2019, um acontecimento pegou todos de surpresa. Enquanto faziam a faxina habitual de todo domingo, Paulo sentiu um mal estar e caiu no chão. Teve um infarto. Apesar dos esforços de Yuriko, que em desespero tentou até fazer uma respiração boca a boca para manter o marido vivo, os bombeiros não conseguiram salvar Paulo, que faleceu na ocasião, aos 44 anos.

As lembranças do amado ficaram na memória já que poucas eram as fotos juntos e as que tinham ficaram no Japão e se perderam. “Não tínhamos esse costume. O que mais temos são fotos dos cães. Mandamos algumas fotos para uma amiga no Brasil enquanto estávamos no Japão, mas elas sumiram sem satisfação”, ressaltou Yuriko.

 

Impossibilitada de trabalhar por causa da Síndrome do Túnel do Carpo adquirida depois de esforços repetitivos, a agora viúva Yuriko Kawakani não tem como trabalhar. Por isso, busca doações e fará um Arroz Carreteiro no valor de R$15 no próximo dia 13/04 no Espeto da Orla, localizado na Av. Noroeste, 2080, para arrecadar fundos para manter a casa e os 19 cãezinhos que tanto ama. Seu sonho é abrir um canil para resgatar animais de rua e dar uma nova vida a eles.

Bom dia meus amigos.Vou resumir e falar pq eu estou ajudando minha amiga.No dia que seu Marido faleceu ela me ligou…

Posted by Xandão Protetor De Animais on Wednesday, March 6, 2019

Uma de suas principais vontades, contou ao Jornal Midiamax emocionada, é encontrar uma banda que saiba tocar músicas japonesas para poder cantar a música “Saigo no Iiwake”, do cantor Tokunaga Hideaki, música que tocava quando conheceu o amor da sua vida, em Hamamatsu. A tradução literal é “O Último Perdão”. Ouça abaixo:

O Último Perdão

Eu nunca pensei que fingir estar dormindo seria tão difícil
Esta gota que caiu é uma lágrima, não é?
Você vai me deixar assim que a noite terminar
Eu sei disso, porque você tem medo da escuridão

A coisa mais preciosa vai para o mais longe de mim
Tudo que eu sei de você se tornarão lembranças

Tenho certeza de que todos gostarão de você
Você não tem com o que se preocupar
Eu sinto sua falta
Você se forçou a pensar que esta partida é o melhor para mim
Você é assim
E é por isso que sinto sua falta

Mesmo que eu seja a pessoa mais próxima a você
Não podemos nos entender
Tudo o que você amou em mim se transforma em desculpas

A coisa mais preciosa vai para o mais longe de mim
Tudo que eu sei de você se tornarão lembranças

Mesmo que eu seja a pessoa mais próxima a você
Não podemos nos entender
Tudo o que você amou em mim se transforma em desculpas

A coisa mais preciosa vai para o mais longe de mim
Mesmo que eu seja a pessoa mais próxima a você
Não podemos nos entender

A coisa mais preciosa vai para o mais longe de mim
Tudo o que eu sei sobre você…
Se torna lembranças…