“E eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos.” Atribuída por anos a Vinícius de Moraes, este verso do poema sobre amizade, que você encontra ao final da matéria, intitulado “Amigos” ou “Meus Secretos Amigos” é, na verdade, da autoria de Paulo Sant’Ana, cronista esportivo e um dos maiores torcedores do Grêmio Football Porto-alegrense.

Créditos devidamente citados, o intento é falar de amizade, como é necessária e marca nossas vidas. Aquilo que, quando a gente lembra, dá um calorzinho no peito. 

Para ilustramos este dia tão especial, vamos contar histórias emocionantes, marcadas por atos singelos de fidelidade, coincidências assustadoramente mágicas, fortes parcerias e idas e vindas que não foram capaz de desatar os laços.

Amigas de fechar a rua

Tábata Rauschkolb, Kamila Torres e as irmãs Laís e Ísis Miranda eram vizinhas e se conheceram quando tinham 6 ou 7 anos. “Na rua tinha muitas crianças e brincávamos juntos. A gente fechava a rua”, relembra Tábata. Nas festas juninas que os moradores da rua organizam, elas, que já não moram mais naquele endereço, se reencontram.

Tábata também relata que elas se chamavam por outros nomes: Tábata virou Day, Kamila passou a ser chamada de Bia, Laís ganhou o apelido de Lalá e Ísis permaneceu com o mesmo nome. “Sempre fomos amigas, mesmo que, por algum tempo, estivemos afastadas”, acrescenta.  

Tábata e Kamila entraram juntas para a faculdade, algumas se mudaram da rua onde todas se conheceram, mas aconteceu a reaproximação e o laço ainda era o mesmo. “Sou madrinha da primeira filha da Kamila, a Gabriela e ela teve gêmeos que são os bebês mais lindos do mundo”, se derrete.

 

“Evidências” de amizade no balanço do quintal

Quando Thais Bett, de 32 anos, tinha 6 o avô foi diagnosticado com câncer e a família precisou vender a casa em que moravam, onde, no quintal, havia um balanço que ela adorava e foi o pivô da amizade com Tatiana Sá Oliveira. Quando os compradores foram ver a casa que elas se conheceram e Tatiana adorou a casa que “tinha até parquinho”. “Queria que vocês ficassem amiguinhas”, disse o pai de Tatiana, “Assim você chama a Thaís para vir brincar no balanço”, relembra. Como a família de Thaís mudou-se para a casa ao lado que era de seus avós, tudo deu muito certo. “É uma lembrança bonita, a gente balançava e cantava a tarde inteira. A gente cantava Evidências”, ri Thaís ao lembrar. Quando elas tinham 10 anos, formou-se um trio com a chegada de Franciele Fillipi. E tem os apelidos de cada uma, Thaís é chamada de Tatá, Tatiana é Tati, naturalmente, e Franciele, Títi.

Quando, aos 12 anos, Thaís mudou-se com a família para Sidrolândia, o contato era mantido por cartas. E viam-se em quase todos os finais de semana. Quando voltou para , Tatiana voltou para Brasília. “Tivemos uma ligação muito forte, desde sempre. Quando descobri que minha mãe estava com câncer ela veio me visitar. Elas são presentes mesmo na distância. Fomos para Brasília para o casamento da Tati com a Agnes e, agora que elas estão se mudando para o Canadá, vou pra lá de novo para me despedir. A Títi também vai pra lá. A gente sempre se encontra nestas situações e conversa todos os dias.”

 

Amizade em todas as coisas

Os laços de amizade às vezes extrapolam a convivência social e unem os amigos também profissionalmente. É o caso de Bruno Xavier, de 36 anos, e José Augusto Faria que se conheceram há mais de 15 anos. Mas foi em uma viagem de faculdade que eles criaram um vínculo maior.  “Nós dois cursávamos Publicidade e Propaganda, mas em universidades diferentes. Além disso, sempre tivemos outras coisas em comum, como sermos corintianos. Foi uma época bem gostosa, de amigos, bar e festas. Depois da faculdades desenvolvemos projetos juntos, montamos uma agência e tivemos um grande crescimento profissional”, conta.

Mesmo com a sociedade desfeita, eles continuaram amigos, tanto que Bruno foi padrinho de casamento de José Augusto e acompanhou o nascimento da filha do amigo. Eles voltaram a trabalhar juntos por duas vezes e hoje Bruno congrega na igreja em que José Augusto é pastor. Amigos de fé!

 

Amizade de mais de 30 anos

Camile Bruel, de 36 anos conheceu Daniela Morrison antes dos 6. “Meu pai que fez a mudança da família dela para a rua em que morávamos e logo descobrimos afinidades. Brincávamos de tudo juntas: boneca, pulava elástico e amarelinha, teatro, esconde esconde e por aí vai”, enumera Camile. Todas aquelas fases e experiências da infância, adolescência e fase adulta ela tiveram juntas, como a primeira comunhão e nem a distância conseguiu afrouxar o nó da amizade. “Ela foi morar do Rio de Janeiro e nos correspondíamos por cartas. Ela voltou para Campo Grande na adolescência e continuamos juntas, na escola e nos finais de semana passeando no shopping, nas primeiras baladas estávamos juntas”, relata.

Outra ida e volta aconteceu e elas passaram outra etapa da juventude juntas, até que Daniela mudou-se definitivamente para São Paulo a trabalho, e com a tecnologia, a comunicação ficou mais instantânea e nunca perderam contato.

“Ela foi a primeira a saber da minha gravidez, antes mesmo da minha família”, confessa. Quando a filha de Camile foi batizada, Daniela veio mesmo grávida para recebê-la como afilhada. E Camile será a madrinha do filho recém nascido de Daneila.

A definição de Camile sobre a amiga mostra como é bonito o amor dos amigos. “A Dani sempre foi autêntica e a frente do seu tempo, sabe mais de mim do que eu mesma e tem muito bom gosto, criatividade, humor e inteligência, mas é muito doce e romântica. Não tem “papas” na língua, fala tudo o que pensa.”

 

Amizade cheia de coincidências

“A gente se se conheceu lá pelos anos 90, ainda na quinta série. Foi amizade verdadeira à primeira vista! Éramos um grude e compartilhamos tudo, segredos, medos, anseios. A gente se divertia demais, a alegria era sempre presente”, conta Luciana Modesto sobre a amiga Heliane Moraes Garboza. Sobre a afinidade, elas descobriram algo surpreendente, que faziam aniversário no mesmo dia, o que as deixou mais unidas ainda e pode explicar tamanha semelhança entre as duas.

“Cada minuto na escola era importante. A gente parava pra cantar e dançar – meu Deus, que vergonha – as músicas da Madonna, dividir as figuras que a gente colecionava naquelas intermináveis agendas”, relembra Luciana. Elas chegaram a apelidarem-se de Fanta e Pastel em referência aos garotos que cada uma gostava: “era o código para nos referirmos a eles”.

Elas se distanciaram quando terminaram o ensino médio mas outras coincidências trataram de aproximá-las novamente. “Quando meu filho Artur, que hoje com 15 anos, estava na escolinha aos 4 anos, fui chamada para uma reunião na escola que veio a surpresa. Nessa época o Artur vivia falando do melhor amigo dele, o Pedro Paulo. Quando cheguei na reunião descobri que a mãe do Pedro era na verdade a minha melhor amiga de infância!”

Depois disso elas passaram a encontrar-se todos os anos e não perderam mais contato. “Mesmo que se passem meses entre um encontro e outro, a gente sempre tem aquela sensação de termos nos encontramos há dias apenas”, descreve Luciana. E o acaso continua atuando entre as amigas. “Esse ano, quando a gente se encontrou percebemos que coincidentemente tinhamos marcado encontro na mesma data do encontro do ano passado.”


Meus Secretos Amigos

Paulo Sant’Ana

Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos.

Não percebem o amor que lhes devoto e a absoluta necessidade que tenho deles.

A amizade é um sentimento mais nobre do que o amor, eis que permite que o objeto dela se divida em outros afetos, enquanto o amor tem intrínseco o ciúme, que não admite a rivalidade.

E eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!

Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus amigos e o quanto minha vida depende de suas existências …

A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem. Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida.

Mas, porque não os procuro com assiduidade, não posso lhes dizer o quanto gosto deles. Eles não iriam acreditar.

Muitos deles estão lendo esta crônica e não sabem que estão incluídos na sagrada relação de meus amigos.

 

Mas é delicioso que eu saiba e sinta que os adoro, embora não declare e não os procure.

E às vezes, quando os procuro, noto que eles não tem noção de como me são necessários, de como são indispensáveis ao meu equilíbrio vital, porque eles fazem parte do mundo que eu, tremulamente, construí e se tornaram alicerces do meu encanto pela vida.

Se um deles morrer, eu ficarei torto para um lado. Se todos eles morrerem, eu desabo! Por isso é que, sem que eles saibam, eu rezo pela vida deles.

E me envergonho, porque essa minha prece é, em síntese, dirigida ao meu bem estar. Ela é, talvez, fruto do meu egoísmo.

Por vezes, mergulho em pensamentos sobre alguns deles.

Quando viajo e fico diante de lugares maravilhosos, cai-me alguma lágrima por não estarem junto de mim, compartilhando daquele prazer …

Se alguma coisa me consome e me envelhece é que a roda furiosa da vida não me permite ter sempre ao meu lado, morando comigo, andando comigo, falando comigo, vivendo comigo, todos os meus amigos, e, principalmente os que só desconfiam ou talvez nunca vão saber que são meus amigos!

A gente não faz amigos, reconhece-os.


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