Devido ao sincretismo religioso, os irmãos gêmeos Cosme e Damião são celebrados, no Brasil, tanto pelos católicos quanto pelos umbandistas. No catolicismo, os santos são lembrados como médicos que curavam as pessoas sem cobrar pelos atendimentos. Já na religião de matriz africana, são os orixás Ibejis, filhos gêmeos de Xangô e Iansã.
Para a Igreja Católica, São Cosme e Damião tinham vocação em curar doentes e não cobravam nada por isso. De acordo com a Canção Nova, os irmãos viveram na Ásia Menor e ficaram conhecidos por unirem ciência e oração em seus atendimento, portanto levavam para muitos a saúde do corpo e da alma.
Os irmãos chegaram a ser perseguidos por Dioclesiano, no ano 300 d.C, acusados de usar feitiçaria para disfarçar a cura. Ao serem presos, contudo, respoderam com firmeza: “Nós curamos as doenças em nome de Jesus Cristo e pelo Seu poder”. Ainda assim, foram decapitados no ano 303 d.C.
Desde então, São Cosme e Damião são considerados os padroeiros dos farmacêuticos, médicos e das faculdades de medicina. No catolicismo, os santos são celebradros no dia 26 de setembro.
Segundo o Arcebispo de Campo Grande Dom Dimas Lara Barbosa, em Campo Grande a devoção a São Cosme e Damião não é tão difundida, mas se faz presente na Capital. “Temos aqui em Campo Grande, na Paróquia de Santo Agostinho, uma Capela dedicada aos santos Cosme e Damião, que está em festa hoje”, ressalta.
O Arcebispo afirma que a tradição de entregar doces às crianças é um costume dos católicos, como a entrega de presentes é para o Natal. “Possivelmente em alguma igreja ou comunidade mais antiga, até não descarto que tenha sido a Europeia, essa tenha sido uma proposta, como acabou se desenvolvendo no Natal a entrega de presentes”, explica.
Orixás Ibejis e sicretismo religioso
Na Umbanda, Cosme e Damião são associados aos Orixás Ibejis, e representam as crianças, conforme explicado pelo bàbá Augusto de Lógunẹ̀dẹ. Assim, eles regem a alegria, doçura e infância.
“É importante dizer que São Cosmo e Damião é um santo cristão, então é um santo católico associado à figura de Ibeji, que é um orixá que rege a alegria, a doçura, a vida com longevidade, representa o duplo. Então, todas as pessoas que são gêmeas, são consagradas à Ibeji, representam as crianças e principalmente as crianças espirituais do orum, do mundo espiritual”, explica.
A questão de sicretismo religioso foi um tática dos escravos africano para que a sua cultura ritualística não se perdesse ao decorrer do tempo, principalmente devido à intolerância religiosa. Dessa forma, invocavam a seus deuses Orixá, Oxalá, Ogum com os nomes de São Sebastião, São Jorge e Jesus. O mesmo aconteceu com os orixás Ibejis, identificados como Cosme e Damião.
“O povo africano, muito esperto, muito inteligente, criou essa tática, dizendo para os padres e outras pessoas que não gostavam das ritualísticas de religião de matriz africana, que eles estavam cultuando o santo católico. Mas, na verdade, eles estavam cultuando seus orixás”, afirma bàbá Augusto.

Data de comemoração diverge nas duas religiões
Por muito tempo, a comemoração de São Cosme e Damião era marcada, dentro da Igreja Católica, no dia 27 de setembro. Contudo, houve uma recente mudança no calendário católico, antecipando a data comemorativa para o dia 26 de setembro.
Conforme o Pai Juan Sángò, da Casa de Caridade Dona Tida, em Campo Grande, até 1969 a data na Igreja Católica era comemorada no dia 27. Uma hipótese para a mudança da data é o ‘conflito’ com a celebração de outros santos.
“Dizem ter um conflito com o calendário de outros santos, por isso jogaram ele para dia 26. Também há uma outra visão que diz que os católicos brasileiros, por essa concorrência com o culto afro-religioso, pediram essa alteração de data para poder desmembrar o culto às crianças afro-religiosas”, afirma.

Culto e entrega de doces se fundiu entre as religiões
Pai Juan Sángò explica que, no Brasil, o culto de ambas as religiões se fundiu, algo que não acontece em outros lugares do mundo.
“A entrega do doce e do caruru de Ibeji, na Bahia, se fundiu com o culto da Igreja Católica, coisa que não acontece fora do Brasil, mas isso aí é uma questão da miscigenação. Vários rituais que hoje são denominados católicos, eles vêm das religiões de matriz africana, como por exemplo as fogueiras dos santo julinos, a entrega de doce de Cosme e Damião, as fitinhas de senhor do bonfim, tudo isso tem origem dentro dos terreiros”, explica.
Aliás, a distribuição de doces vem do fato de que na Umbanda há o costume de comungar os alimentos em troca de bençãos.
“Essa tradição de comungar é oferecer a energia desta divindade, pedindo cura, pedindo bênção, pedindo saúde para aquelas crianças, para todas as crianças da comunidadei. Antigamento os terreiros faziam entrega na frente das suas casas para todo o pessoal. Então, foi fazendo promessas e promessas e passando a tradição em diversas famílias que até hoje seguem fazendo essa entrega”, explica o Pai de Santo.

Serviço
Entrega de doces e festa de Cosme e Damião
- Data: 27 de setembro (sábado)
- Local: Casa de Caridade Dona Tida – Quintino Bocaiúva, 869
- Horário: 17 horas
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