Buscar os panos de prato, na associação onde a mãe trabalhava, seria o momento mais difícil para Rosemeire Moura Aguirre. Na ocasião, ainda depressão, precisou ir lá retirar o restante do trabalho, com uma pessoa que cuidava do espaço e era amiga de sua genitora, porém, encontrou muito mais do que isto: recebeu aconchego e uma conversa que mudaria o rumo de sua vida.
Chamada de talentosa pela também artesã, a qual Rose carinhosamente chama da Dora (Auxiliadora), entendeu que poderia fazer trabalhos manuais, assim como sua mãe fazia e assim como a amiga faz até hoje. Há 30 anos, aliás, Rose fala que a sua intimidade com bordados é grande, porém, foi reproduzindo animais da fauna sul-mato-grossense, de peso de porta a chaveiros, que teve o seu trabalho reconhecido pelo governo do Estado e até enviado para outros países.

“Eu primeiro levei um sacode do meu filho, após minha mãe falecer. Não queria sair de casa para nada, então ele disse: ‘Levanta mãe, não pode ficar assim’. Aí eu fui lá na associação, a AOMS [Associação dos Ostomizados de Mato Grosso do Sul], e lá eu encontrei a Dora. Ela me disse que eu era talentosa, e incentivou a colocar os meus trabalhos lá, a participar da associação também. Ela me salvou, na verdade”, afirmou Rosemeire ao MidiaMAIS.
‘Tive medo de não dar conta’, relembra artesã sobre novo desafio
Na época, Rose ressaltou que fazia chinelos bordados, porém, ficou com medo de não dar conta, principalmente, pelo fato das artesãs saberem costurar e ela não. “Só que aí eu me interessei. Via os panos de prato, os trabalhos de cozinha, a costura criativa como um todo. E aí eu comprei uma máquina e pedi ajuda da minha madrinha, que é uma costureira de mão cheia, uma baita profissional. É até engraçado, porque ela me ensinou a colocar a linha e eu fiz vários pontinhos, tudo escrito com caneta permanente na máquina”, relembrou.

Com o tempo, a artesã já estava fazendo panos de prato e envolvida na costura criativa. “A associação precisou sair do endereço onde estava, daí achei que meu mundo ia acabar de novo, porque é ali que eu me levantei. Só que aí eu encontrei forças e fui atrás de uma associação, até que entrei na Praça dos Imigrantes, com a ajuda do meu marido. Ele me levou lá para conhecer e vi mais de 30 expositores, então, entrei confiante em uma das lojinhas, só que aí me cobraram um trabalho regional. O meu trabalho era aceito, bem-vindo, vendia bastante, mas, tinha esta questão”, contou.
Sendo assim, Rose foi buscar inspirações. “Daí um dia eu estava passeando no shopping e vi um peso de porta de tucano. Me interessei e até queria comprar, só que achei o preço puxado, então, só fiquei namorando. Na terceira vez que no shopping, para passear, o tucano estava lá. O meu esposo então foi lá conversar com o gerente, explicou que eu iria replicar e ele deu um baita desconto, daí comecei a tirar o molde do tucano e a responsável pela Praça dos Imigrantes me orientou a fazer outros bichos regionais”, explicou.

Trabalhos já foram enviados para EUA, Alemanha e Portugal, diz Rose
No decorrer dos dias, nasceu a capivara, a arara, diversos trabalhos. “Fazia no tecido tricoline e vendo bem, só que eu ainda queria achar um tecido mais parecido com o corpinho, a pele da capivara. E foi justamente o que aconteceu, até bicho-preguiça e tamanduá eu consegui fazer e não parei mais, então, este é o meu trabalho. Que encanta crianças e adultos e já foi parar nos Estados Unidos, Alemanha e em Portugal. Muitos vão às feiras buscar, faço três aos fins de semana, e outros vem até na minha casa”, ressaltou.
Atualmente, a artesã disse que está fazendo chaveirinhos também, inclusive, com grandes encomendas. “Tem muitos eventos em que dão brindes, então, eu faço. Meu trabalho está exposto também na Casa do Artesão, no Bicho do Mato e, recentemente, na Casa da Cultura. A Praça dos Imigrantes parou para reforma, então, estamos lá na Morada dos Baís por um tempo. Todos os artesãos estão lá e eu vou toda quinta-feira para vender os meus produtos”, argumentou.
Conforme a artesã, que atualmente está com 52 anos, os filhos chegam a comentar que ela deve “desacelerar um pouco”. “Só que eu não consigo, vejo o povo gostando do meu trabalho, vindo em casa buscar, é muito gratificante. Amo tudo o que eu faço e atendo muito bem os clientes. Ver o sorriso de uma criança, um adulto, quando olha o meu trabalho. É lindo, maravilhoso, uma felicidade imensa. E assim que eu vivo. Desde quando minha mãe faleceu, achei esta renda para poder ajudar em casa, manter os meus gastos, minhas coisas. Mas não é só por isso. É por todo o trabalho em si”, finalizou.
Conheça alguns trabalhos da artesã em Campo Grande:






