O ano era 2011, quando o padre Marcelo Tenório recebeu um artigo sobre Carlo Acutis, o jovem que tinha fama de milagreiro em Assis, na Itália. Ao ler sobre a breve história de vida do rapaz e sua dedicação à divulgação do evangelho por meio da internet, o pároco de Campo Grande (MS) sentiu que o mundo precisava conhecer sua trajetória de fé.
A partir do momento em que descobriu a existência do garoto, Marcelo entrou em fascínio pelo empenho que Carlo tinha em promover a Igreja Católica e achou que ele poderia e deveria servir de modelo para outros jovens em todo o mundo.
“Em 2011, já tinha o site da Associação Carlo Acutis, que é da família, e alguém me mandou um artigo sobre o Carlo em italiano. Um ano antes, eu estive em Assis e alguém me disse ‘aqui tem um jovem que tem fama de santo’, mas eu não me interessei. Quando recebi o artigo, achei muito interessante a foto do Carlo e a frase que ele gostava: ‘A eucaristia é a minha autoestrada para o céu'”, recorda o sacerdote, em entrevista ao Jornal Midiamax.
Pronto. Bastou isso e a conexão espiritual foi estabelecida. Após ler o material sobre o adolescente, Marcelo acionou a família de Acutis na Itália, por meio do e-mail disponível em no site da “Associação Carlo Acutis”, e pediu autorização para perpetuar o legado do menino.

Padre de Campo Grande foi o primeiro a divulgar Carlo Acutis no Brasil
Não demorou muito e o sacerdote recebeu o aval de dona Antônia, mãe de Carlo. Com o respaldo, o padre então criou um blog, onde passou a publicar tudo o que sabia sobre o jovem. Também teve acesso a arquivos pessoais da família, incluindo fotos, e decidiu distribuir panfletos com a história do adolescente em Campo Grande, onde já atuava como padre, na Capela Nossa Senhora Aparecida.
“Entrei em contato direto com o site da associação e falei com a mãe dele, dizendo que estava disposto a divulgar. Eles mandavam folhetos e um livro, mas tudo em Italiano. Então, consultei se era possível fazer um movimento no Brasil e em Português. Nesse início, não tinha nada. Se pegar de 2012 em diante, nos arquivos do Google, só vai encontrar coisas que nós publicamos, porque não havia fotos do Carlo. Todos os arquivos e postagens do Carlo partiram de nós”, relata ao MidiaMAIS.
E esse foi o ponto de partida para, 14 anos depois, Acuti ser declarado Santo pelo Vaticano neste domingo(7). “Quando eu conheci sua trajetória, quis divulgar, e fundamos o apostolado brasileiro. Mandamos fotos do Carlo com novenas para o Brasil inteiro, totalmente grátis. A primeira novena foi aqui conosco, em Campo Grande. Era muito interessante… na época, ninguém sabia quem era, e tínhamos que produzir fotos para poder mostrar para as pessoas. Mas ninguém era devoto”, relembra o padre.

Relatos de um blog explicam tudo
Ainda em 2011, Marcelo narrou em seu blog o quanto descobrir Acutis o encantou, ainda que postumamente. As palavras explicam, em poucas linhas, por que o sacerdote quis tanto que o adolescente ficasse conhecido.
“Tomei conhecimento, poucos dias atrás, da breve existência de Carlo Acutis, um jovem que, com apenas 15 anos de idade, oferece a sua vida, seu sofrimento, suas dores, pelo Santo Padre e pela Santa Igreja. Impressionou-me a forma como Nosso Senhor costuma conduzir as almas para Si. Uma vida simples, desprovida de qualquer fato sobrenatural, mas vivida com intensidade, unidíssima a Jesus e à Maria, assim foi como viveu Carlo Acutis”, escreveu na época.
“Olhando o relato de sua vida, nós nos deparamos com a angústia de um jovem que constata a crise que assola a sociedade; dói-lhe na alma ver a Igreja desacreditada, sobretudo em seu país, e a figura augusta do Santo Padre, tão combatida e odiada”, justificou Tenório.
Visita à casa de Carlo Acutis, proximidade com a família e a relíquia do 1º milagre
O interesse em Carlo, aliás, fez com que o pároco se aproximasse da família dele. Por isso, em 2013, combinou uma visita à casa dos Acutis, em Assis, na Itália. Ao ser recebido, Tenório observou cada canto do lar onde o milagreiro vivia, entrou no quarto dele e até se ajoelhou em sua cama para orar. (Veja nas fotos do carrossel acima).
Ainda no passeio, visitou o túmulo do adolescente e conheceu lugares que foram importantes para ele na cidade, em uma verdadeira imersão ao cotidiano do jovem na Itália.
Antes de voltar para Mato Grosso do Sul, o padre ganhou de dona Antônia um pedaço de uma camisa do jovem.
De forma artesanal, a matriarca foi até o guarda-roupa do filho, pegou uma roupa, cortou parte do tecido e entregou a Marcelo, que trouxe o artefato para Campo Grande e o transformou em relíquia. Foi ao tocar a peça que o pequeno Matheus Lins, de apenas 3 anos de idade, curou-se de uma grave doença no pâncreas.
Anos depois, este foi reconhecido pelo Vaticano como o primeiro milagre de Carlo Acutis, e a Capela Nossa Senhora Aparecida, onde tudo aconteceu, passou a ser conhecida como “Capela do Milagre”, na Capital de Mato Grosso do Sul.
14 anos se passaram e Carlo virou santo graças a padre Marcelo
Mais de uma década se passou e, neste domingo (7), Tenório vê seu empenho chegar à máxima elevação no Vaticano: Carlo Acutis será declarado Santo pelo papa Leão XIV. Antes disso, em 2020, o jovem já havia sido beatificado e o reconhecimento de um novo milagre, na Itália, possibilitou a canonização. Leia mais sobre o segundo milagre aqui.
Todo esforço para que Carlo fosse canonizado partiu do sacerdote de Campo Grande, que se mostra orgulhoso da trajetória de 14 anos para que aquele adolescente fosse mundialmente reconhecido por sua fé. Hoje, a capital de Mato Grosso do Sul é o local mais associado a Acutis, e a capela onde o milagre aconteceu tornou-se templo de referência mundial ao rapaz.
Na igreja, há um relicário com fios de cabelo e um fragmento do coração do Santo, além de um pulôver azul escuro, enviado pela mãe de Carlo ao padre Marcelo. Sob a guarda do religioso, as relíquias atraem fiéis de várias partes do mundo e ajudam a perpetuar os feitos de Acutis.
A vida de Carlo Acutis
Em seu blog, Marcelo Tenório relata que Carlo Acutis nasceu em Londres, no dia 3 de maio de 1991, filho de Andrea e Antonia. “Desde pequeno, o seu coração demonstrou alegria, determinação e humildade em sua caminhada rumo à ‘santa viagem’, vivendo na normalidade as suas atividades diárias, como a escola, os amigos, o amor pelo Criador e, sobretudo, a fé na extraordinariedade do Evangelho. Cresceu em uma família profundamente cristã; escolheu livremente dizer o ‘sim’ com a própria vida, ao mistério que o envolvia. Assim, a fé crescia com ele”, destaca.
“Cada momento da sua vida, na família, na escola, nas relações com os outros, se tornava ocasião de testemunho natural da sua fé. Preocupava-se muito com sua pureza e por isso confiava-se à Virgem Maria e às orações das monjas enclausuradas […]. Nos debates aos quais comparecia, Carlo era um defensor apaixonado da sacralidade da família contra o divórcio, bem como da vida contra o aborto e a eutanásia”, conta Marcelo.
Morte e coincidência com o Brasil
Em linhas gerais, Acutis usava a internet para propagar a palavra e sua religião. Até que, no início de outubro de 2006, aos 15 anos de idade, foi atingido por uma gravíssima leucemia, incurável. Também neste momento, o amor venceu o medo e, no hospital, ele teria dito: “Ofereço todo o sofrimento, de que deverei padecer, ao Senhor, pelo papa e pela Igreja, para não passar pelo purgatório e ir direto ao Paraíso”, narra o pároco.
“Quando o doutor que o acompanhava perguntou se sofria muito, Carlo respondeu com coragem: ‘Existem pessoas que sofrem muito mais do que eu!'”, descreve Tenório. Após lutar contra o câncer, Carlo Acutis não resistiu à doença e morreu às 6h45 de 12 de outubro de 2006, Dia de Nossa Senhora Aparecida, a mesma que dá nome à capela onde o primeiro milagre aconteceu, em Campo Grande (MS).
Diante dos fatos, o padre não acredita em coincidências e reforça que há, sim, uma ligação entre o adolescente e Nossa Senhora, bem como uma relação fortíssima e espiritual entre Carlo e o Brasil, terra que o acolheu.
Atualmente, Marcelo Tenório se dedica a escrever um livro, no qual documenta mais detalhes da vida, dos milagres e todo o processo até a canonização do “padroeiro da internet”, “cyberapósto da eucaristia” e tantas outras alcunhas que lhe foram designadas.
A partir deste domingo (7), aliás, todos os devotos espalhados pelos quatro cantos do mundo poderão esbravejar, sem equívoco, e com mais fé do que nunca: “Viva São Carlo Acutis!”.

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(Revisão: Dáfini Lisboa)