Entre linhas, agulhas e o olhar atento, está Natan Rafael de Araújo Nunes, de 27 anos. O jovem, que trazia temor diário ao sair de casa, já que trabalhava como pizzaiolo durante noites e madrugadas, mudou totalmente a rotina e passou a costurar com a mãe, a experiente costureira Tereza Lins Araújo, de 54 anos.
Ambos trabalham em uma confecção, que inovou recentemente ao entregar vestidos de festas já com reparos, na Rua 13 de maio, região central de Campo Grande. No entanto, pouco antes, era somente Terezinha, como é conhecida, e a irmã, que atuavam no local.
Ocorre que Natan surpreendeu a mãe e a todos, ao pedir para aprender a profissão e agora a mãe brinca que ele “tomou a clientela”, já que muitas mulheres pedem para ele tirar medida ou então que faça os ajustes nas peças, principalmente as “coroas”, conforme a mãe.
‘Pretendo fazer de tudo’, fala jovem costureiro

“Por enquanto ainda estou aprendendo, então, faço coisas mais simples, como barra de vestido e calças, troca de zíper, então, são consertos mais simples, mas, futuramente, com a experiência, pretendo fazer de tudo. Antes eu trabalhava como pizzaiolo e minha não gostava do horário, tarde e noite, de madrugada, então, como ela estava precisando aqui, tanto na parte da mão de obra, uma costureira, como um social media e questões administrativas, decidi vir ajudar”, afirmou Natan ao MidiaMAIS.
No entanto, como a mão de obra era “algo mais urgente”, o jovem decidiu aprender. “Foi aí que começou o meu interesse, porque tem prazos para entregar um vestido. E daí eu falei: ‘Me ensina que eu vou te ajudando no que for possível’. Eu comecei em novembro e está sendo tudo novo, mas, estou gostando bastante. É muito melhor estar ao lado da família”, ressaltou.

Além do aprendizado, Natan fala que passou a ter um outro olhar sobre a profissão dos pais. “Tenho ainda mais admiração, porque não é uma missão fácil, tem que ter muita dedicação. E não é uma confecção em que você faz várias roupas, são peças que são de clientes, ela compra e a gente já ajusta, então, é necessário um cuidado maior ainda. Minha mãe é muito experiente nisso e meu pai costurava também, minha mãe que ensinou ele, inclusive, então, acho que tudo isso me inspirou de certa forma”, disse.

Na rotina de trabalho, mesmo sendo um garoto tímido, Natan passou a chamar a atenção da clientela.
“Eu achava que ia ter preconceito e o que aconteceu foi justamente o contrário. Muitas clientes falam que querem que eu faça os ajustes”, disse. “Principalmente as coroas. Querem que o novinho tire as medidas”, brincou a mãe.
No entanto, sério e focado, o jovem ressalta que a sua contribuição, em geral, é desafogar as demandas e ajudar a crescer o negócio.
“Ajudei já implantando um sistema aqui, fazendo as postagens da rede social e costurando, vou fazendo um pouco de cada coisa. Acredito que, no mundo de hoje, faz parte pensar em tudo isso”, finalizou.
Mãe do costureiro tinha 14 anos quando aprendeu o ofício

A mãe, Tereza, conta que a história na costura começou na juventude.
“Eu tinha 14 anos quando comecei a costurar. Achava caro demais os vestidos, lembro de um que, na época, paguei algo em torno de R$ 350. Aí comecei a viajar muito para São Paulo e percebia o quanto as pessoas ganhavam em cima, então, comecei trazendo aos poucos e depois pensei em entregar o vestido pronto, já com os ajustes, pronto para festa”, ressaltou.
Com tamanha experiência, Terezinha diz que já pensava como seriam os próximos anos e, agora, com o filho se tornando um costureiro, ela ficou muito feliz.
“É uma profissão que está ficando muito escassa, está difícil conhecer quem sabe costurar e é bonito ver um menino que sabe costurar. Eu ensinei o pai dele, e agora ele, e diziam que costurar era coisa de velho, mas, imagino o quanto o pai ficaria orgulhoso. Meu outro menino também seguiu a profissão do pai, então, é muito bom tudo isso que está acontecendo. E aqui, na loja, o Natan está me ajudando bastante”, finalizou.
Confira aqui um pouco da rotina dos costureiros: