Durante a Guerra do Paraguai, uma mobilização por parte de italianos, alemães e negros que viviam no sul do Brasil foram a fagulha para o entrelaçamento das tradições sulistas à cultura sul-mato-grossense. Neste sábado (20), é comemorado o Dia do Gaúcho, e o Jornal Midiamax traz um pouco da história por trás da migração gaúcha em Mato Grosso do Sul.
Para entendermos sobre o que motivou a vinda dos gaúchos para o Estado, é preciso voltar ao século XIX, mais especificamente entre 1864 e 1870, quando o Império do Brasil reunia forças de diversas regiões para lutar na Guerra do Paraguai. Um grupo sulista prontamente se voluntariou para migrar para a região do antigo Mato Grosso.
De acordo com a professora, arquiteta e urbanista Graciana Goedert, ao chegarem às terras, o grupo encontrou condições favoráveis para ocupação, plantio e criação de gado. Assim, ao retornarem aos seus locais de origem, compartilharam a boa nova sobre os grandes campos de onde estiveram.
“Eles levaram essa notícia de que havia esses grandes campos e aí começaram um processo de migração, trazendo outros grupos para se estabelecerem ali, naquela região. Inicialmente, na região de Amambai, Ponta Porã, Bela Vista e também Dourados”, explica.
Em busca de melhores condições, gaúchos migram para o Centro-Oeste
Em 1930, já no governo de Getúlio Vargas, uma nova onda de migração aconteceu na região, quando o então presidente empreendeu a chamada Marcha para o Oeste. Mais uma vez, os gaúchos se prontificaram a vir povoar a região.
“Era uma tentativa de intensificar a ocupação dos territórios. Então, eles incentivavam a migração e direcionavam para as regiões Norte e Centro-Oeste, que eram regiões até então pouco povoadas e detentoras de terras”, ressalta Graciana.
Os gaúchos viram na Marcha para o Oeste uma forma de buscar melhorar suas condições financeiras, aliando vastas experiências na lida com a terra à oportunidade oferecida pelo governo. Mas, também, enfrentaram dificuldades e percalços pelo caminho.
“É importante dizer que o cenário encontrado por esses migrantes é de natureza praticamente intocada, com matas fechadas, com pouca ou nenhuma infraestrutura urbana. As estradas eram de pouco acesso e desenvolvimento social. Eles ainda precisavam lutar com a presença de indígenas hostis, que não aceitavam a ocupação, além da dificuldade do clima, doenças, como a malária, e a ausência de maquinários”, explica a arquiteta e urbanista.
Cultura gaúcha é mantida por gerações através dos CTGs
A perpetuação da cultura e das tradições gaúchas se dá, principalmente, pela atuação dos CTGs (Centros de Tradições Gaúchas). Mas, para entender a formação destes centros, Graciana Goedert ressalta que é preciso lembrar que a migração acontecia em grupos, formando comunidades que fortaleciam os seus costumes.
“Os gaúchos se deslocavam em grupos familiares e se instalavam próximos ou no mesmo terreno. Cada um edificava a sua moradia, e ali eles conseguiam manter os seus costumes e se fortaleciam, mantinham as suas tradições, como o chimarrão, as comidas típicas que eles estavam acostumados a consumir, suas vestimentas o seu linguajar”, explica.
Dessas pequenas comunidades, originaram-se os Centros de Tradições Gaúchas. O CTG Farroupilha foi o primeiro a surgir no Estado, em 1º de maio de 1962. “Posteriormente, o conceito desse aglomerado em torno da perpetuação da cultura gaúcha fez sentido também para os demais grupos e, assim, passaram a surgir outros CTGs também”, afirma a arquiteta.

Vale salientar que a proximidade entre parentes e vizinhos é uma característica muito presente na cultura deste povo. Segundo Graciana, os almoços de domingo, com a família reunida em torno da mesa, é uma tradição que remonta a esse passado da migração.
“As raízes culturais dos gaúchos estão no amor pela terra, na sua relação com o modo de vida nas instâncias, a agricultura e a pecuária. A identidade gaúcha se perpetua por meio dessas tradições que envolvem o uso das vestimentas típicas, o churrasco, o chimarrão, que são elementos de partilha, e também os almoços de domingo em família”, conclui a arquiteta e urbanista.
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(Revisão: Dáfini Lisboa)