A morte do caseiro Jorge Ávalos após o ataque de uma onça-pintada no Pantanal do Touro Morto, em Mato Grosso do Sul, reacendeu discussões sobre os limites entre turismo de natureza, convivência humana e preservação da fauna silvestre. O caso, considerado atípico por especialistas, ocorreu em uma área rural, fora das rotas tradicionais de ecoturismo, mas gerou alerta em todo o Estado — especialmente em regiões que exploram a presença das onças como atrativo turístico.
Avistamento de onças no Pantanal

Em meio às polêmicas em torno do caso, a Fazenda San Francisco, um dos principais destinos para turistas que buscam avistar onças-pintadas em seu habitat natural no Pantanal, se posicionou sobre o ocorrido. O local lamentou a morte de ‘Jorginho’, como era conhecido, mas garantiu que os passeios seguem todos os protocolos de segurança.
A fazenda atua no turismo desde 1989, sendo reconhecida por seus passeios de observação da fauna, principalmente de felinos. Carolina Coelho, turismóloga e diretora da Fazenda San Francisco, destaca que o turismo de observação de onças no Pantanal é um aliado à preservação da biodiversidade local.
“O turismo é uma atividade econômica de baixo impacto ambiental. Isso cria um ciclo de valorização da fauna silvestre, que culturalmente é caçada ou desvalorizada”, afirma.

Protocolos de segurança
Contudo, ela alerta para a importância de práticas responsáveis, como a limitação do número de visitantes e o treinamento adequado dos guias, para garantir a segurança tanto dos animais quanto dos turistas.
“Os passeios têm duração média de 2h30. Eles percorrem as áreas de reserva florestal, campos de arroz irrigado e áreas de criação de gado bovino e búfalos da fazenda. Os grupos variam de 10 a 35 pessoas. Além disso, temos atividades fluviais, que ocorrem em barcos tipo chalana ou voadeira, com grupos de 10 a 35 pessoas”.
Para isso, a fazenda utiliza veículos safári adaptados e barcos que possibilitam o avistamento não só de onças-pintadas, mas também de onça-parda, jaguatirica e outros animais de hábitos noturnos como a anta, o lobo guará. Segundo a turismóloga, desde 2005, a Fazenda San Francisco monitora as estatísticas de avistamento de onças. No entanto, não há garantia de avistamento, já que a onça-pintada é um animal de comportamento esquivo e territorialista.
“No passeio de focagem noturna, temos o controle de avistamento das onças desde 2005. Estatisticamente, 22% dos passeios são bem-sucedidos no avistamento, mas os meses de junho, julho, outubro e novembro são os melhores para avistamento”, explica.
Os visitantes recebem orientações como o uso de sapato fechado, calça comprida, chapéu ou boné, repelente de insetos e protetor solar. Antes de todas as atividades, os guias realizam o briefing para introduzir os visitantes ao passeio, na qual são informadas a duração da atividade e as regras de segurança.
Riscos da ‘Ceva’
Apesar de sua popularidade, a presença de onças nas áreas de observação não está isenta de riscos. Por isso, Carolina esclarece que o local adota uma série de medidas para garantir a segurança dos visitantes, como o treinamento contínuo de guias, uso de rádios comunicadores durante os passeios e um Sistema de Gestão de Segurança onde ocorrem as análises de risco.
Além disso, há preocupação com a chamada “ceva”, prática ilegal de alimentar animais selvagens, que pode alterar o comportamento natural das onças. Isso porque, a onça-pintada, quando alimentada por humanos, perde o medo do homem e pode se tornar mais agressiva, o que torna os encontros com turistas mais perigosos.
“Os passeios de encontros com as onças são naturais sempre mantendo distância prudente com respeito aos animais e a segurança aos visitantes. Para aumentar a segurança, estamos considerando o uso de sprayv usado nos EUA para evitar ataques de ursos. Neste contexto, temos que considerar que a onça cevada, que apresenta uma grande mudança em seu comportamento, pode vir a atacar seres humanos”.
Ataques de onças são raros
A tragédia no entanto, tem deixado turistas apreensivos o que pode impactar o turismo local. Em resposta, a Fazenda se reuniu com os guias de turismo e anunciou que irá realizar uma revisão de seus protocolos de segurança, com a ajuda do especialista Dr. Rafael Hoogesteijn, veterinário, assessor da WWF (World Wildlife Fund) e consultor do Instituto Ampara.
Segundo o especialista, em sua experiência, os ataques de onças não são comuns, especialmente quando os animais não são habituados à presença humana e não são alimentados. “A onça, por natureza, evita o confronto direto com seres humanos”, afirma Hoogesteijn.
Embora o turismo de observação de onças seja uma fonte importante de renda e uma ferramenta de preservação ambiental, ambientalistas alertam para a necessidade de um manejo responsável, que respeite o habitat natural dos felinos e minimize os riscos de interação indesejada com os seres humanos.
“Desde que não haja ceva o risco de acontecer um acidente é muito baixo. A onça, habituada à movimentação de carros e barcos sem ceva, não associa humanos a alimento. A experiência de avistar uma onça na natureza é e vai continuar sendo, sem dúvida, emocionante. Mas ela precisa vir acompanhada de muito respeito e responsabilidade”, conclui Carolina Coelho.
Onça segue no CRAs de Campo Grande

Na última quinta-feira (24), a onça-pintada capturada no Pantanal, chegou ao CRAS (Centro de Reabilitação de Animais Silvestres) de Campo Grande para receber atendimentos veterinários. A onça, um macho de aproximadamente 9 anos e com 94 quilos, está bem abaixo do peso e debilitada.
“O felino, após retornar da anestesia, está consciente, e não apresentou novos problemas de saúde – vômito, regurgitação – na primeira noite no CRAS, e de modo geral apresenta comportamento dentro da normalidade”.
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