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Desafio escolar de catar papelão para ver Ana Castela vira denúncia de trabalho escravo em MS

Além de ter carro queimado durante desafio, mãe agora tem que prestar esclarecimentos por denúncia de trabalho escravo e infantil
João Ramos -
ana castela denuncia trabalho escravo ms
Mãe lamenta consequências sofridas após filha participar de desafio na escola - (Fotos: Arquivo Pessoal e QG Ana Castela)

Se dedicar para ajudar a filha a realizar o sonho de entrar no camarim da cantora Ana Castela virou um pesadelo e agora até processo por acusação de trabalho escravo para a dona de casa Ana Paula Alves da Silva, de 33 anos.

Em julho deste ano, a mãe deu o sangue para que a pequena Anny Gabrielly, de 8 anos, vencesse um desafio escolar proposto pelo prefeito da cidade de , em Mato Grosso do Sul. Contudo, dois meses depois, Ana segue colhendo tempestades como consequência do empenho em tornar a menina campeã.

O mais novo motivo da dor de cabeça é uma denúncia anônima protocolada ao Ministério Público do Trabalho, acusando a menina de ter sido submetida a situação de trabalho infantil para vencer a “brincadeira”.

Lançado por Maycol Queiróz () no final do mês de junho, o concurso intitulado “Camarim Ecológico da Ana Castela” desafiava crianças da rede municipal de ensino de Paranaíba. As regras estabeleciam que aluno que arrecadasse a maior quantidade de papelão ganharia uma pulseira para entrar no espaço reservado à cantora, em show realizado no dia 3 de julho, na festa do aniversário da cidade.

Sonho foi realizado e até Ana Castela ficou sabendo: “você é top”

Assim que Maycol deu a largada, o município praticamente entrou em guerra e estudantes de todas as escolas, pais, familiares, amigos e conhecidos iniciaram uma mobilização coletiva em busca de papelão, com direito a empurra-empurra e crianças passando mal de tanta ansiedade.

Após uma semana de coleta, Anny Gabrielly, da Escola Municipal Profª Liduvina Motta Camargo, se consagrou como vencedora absoluta. Ela teve ajuda de toda a família, em especial da mãe Ana Paula, e juntou 1,7 toneladas do material reciclável.

Resultado: ganhou a pulseira e entrou no camarim de Ana Castela, onde ouviu da própria cantora que era “top” por ter conseguido reunir o vultuoso monte de papel, e ainda abraçou a ídola.

Carro da família foi queimado durante concurso

Mas o esforço custou caro. Durante a competição, quando os papelões foram pesados e todos descobriram que Anny era a aluna que mais havia arrecadado, Ana Paula teve o carro que usava para catar o material incendiado. O veículo era de seu irmão e havia sido emprestado para que pudesse aumentar a coleta.

No dia do anúncio do vencedor, o automóvel amanheceu queimado e até hoje a história não foi esclarecida, mas a suspeita da família é de que o crime tenha sido uma retaliação pelo esforço da mãe. Na época, a história viralizou e até Ana Castela chegou a comentar publicação do Jornal Midiamax nas redes sociais se propondo a ajudá-los, mas, segundo Ana Paula, isso não aconteceu.

Agora, além ter um carro queimado durante o concurso, a dona de casa relata ao Jornal Midiamax que virou alvo de denúncia do Ministério Público do Trabalho, junto com a Escola Liduvina e o Prefeito Maycol Queiróz. A manifestação estaria acusando as três partes envolvidas de submeterem Anny Gabrielly a trabalho escravo e infantil pela intensa coleta de papelão.

Desafio escolar virou denúncia por trabalho escravo

O município responde pelo crime, mas escola e mãe também são autuadas pois estavam sob a responsabilidade da criança e teriam sido coniventes com sua participação em “atividade inadequada”. No entanto, embora centenas de menores tenham embarcado na “brincadeira”, somente o nome de Anny Gabrielly ser citado.

Ao Jornal Midiamax, Ana Paula Alves conta que estava em casa quando recebeu uma ligação da escola e foi chamada para uma reunião com o da Prefeitura. Chegando lá, descobriu que teria que responder à denúncia anônima enviada ao MPT-MS.

“Foi denunciado que a Anny Gabrielly fez trabalho infantil, trabalho escravo. Printaram tudinho as fotos dela com os papelões e fizeram uma denúncia anônima, está sob sigilo. Mas, como assim? Sendo que não foi só minha filha que catou papelão pra isso e por que trabalho escravo se a família toda se uniu pra isso?”, questiona a dona de casa.

“Isso [trabalho escravo] não aconteceu. Eu tive uma equipe, minha família toda ajudou. Ah não, mas denunciaram, me mostraram o papel lá e disseram que não era pra eu falar pra ninguém, que vai vir intimação”, lamenta Ana Paula.

Por que só o caso de Anny foi denunciado?

Nesse caso, o que mais indigna a mãe, além do desafio escolar resultar em processo, é o fato de apenas Anny ser envolvida.

“Não vão me calar, estou sendo muito caluniada. Agora vou ter que responder até processo por um concurso que a prefeitura lançou? E a menina ficou em segundo lugar com mais 1 tonelada de papelão, a outra em terceiro com 900 kg? Por que só a minha filha foi denunciada, nenhuma outra criança? Tô quieta desde o mês passado, estou a ponto de explodir”, desabafa.

Nervosa com a situação, Ana ainda nem conseguiu digerir o fato do carro de seu irmão ter sido queimado, há dois meses, e agora precisa lidar com mais essa intempérie causada pelo desafio. “Tá difícil, muito difícil mesmo”, revela, dizendo que a vida do irmão ficou muito complicada após o veículo ser incendiado.

Vale lembrar que, semanas após o incêndio virar notícia, uma mulher que se identificou como sendo da equipe de Ana Castela entrou em contato com a mãe e afirmou que a cantora queria ajudar com um Pix. Porém, até hoje, a doação não chegou.

“Não valeu a pena”, diz mãe sobre arrecadação de papelão

Diante dos fatos, o Jornal Midiamax acionou o MPT-MS, a Escola Liduvina Motta Camargo e o Prefeito Maycol Queiróz, mas ambos não se manifestaram até a publicação deste texto.

O processo corre em segredo de Justiça, mas, informações obtidas pela reportagem são de que apenas o município é réu da denúncia, enquanto mãe e escola precisam prestar esclarecimentos por estarem sob responsabilidade da criança de 8 anos durante a prática da atividade.

Questionada se todo o esforço para catar quase 2 toneladas de papelão e dar à vitória à filha valeu a pena, a mãe de Anny Gabrielly é enfática: “pra mim, não”, finaliza.

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