Motivado pela indignação, o biólogo Carlos Gentil Vasconcelos criou um conto no qual sugere que os animais do Pantanal se unam para tirar a onça que comeu os restos mortais do caseiro Jorginho do cativeiro para onde foi levada. Morador de Aquidauana (MS), ele conhece bem a região do Touro Morto, onde o incidente aconteceu, e não se conforma com o destino do animal.
Nas redes sociais, o professor costuma publicar poemas com ilustrações geradas por inteligência artificial. Na época da morte de Jorge Ávalo, em abril deste ano, Vasconcelos escreveu um texto no qual simulava uma conversa entre o caseiro e a onça, junto a uma imagem do animal e a vítima tomando um café no Pantanal.
‘Homem, este chão me pertence’: ataque de onça a caseiro vira poema e gera comoção
O conteúdo viralizou e, desde então, o biólogo passou a usar sua escrita e as gravuras de I.A. para defender a onça-pintada e impedir que ela fosse levada do Touro Morto. Mas nada adiantou. Ainda em abril, o animal foi capturado e posteriormente transferido para um Instituto em São Paulo, onde viverá em cativeiro até o fim de seus dias.
Novo conto mostra animais salvando onça do cativeiro
Meses se passaram e Gentil não aceita que o felino tenha sido retirado de seu habitat natural. Por isso, na tentativa de sensibilizar mais pessoas com a situação, escreveu e ilustrou a narrativa do resgate promovido pela própria fauna pantaneira.
“É muito estranho o que aconteceu naquele lugar. Então eu bolei uma história em que o Zé Caré sobe no morro, tem até o encontro dele com o governador, tentando convencer a libertar a onça. Como o governador não aceitou, o Zé Caré resolveu reunir a bicharada do Pantanal e soltar a onça. Aí ele monta toda essa estratégia”, relata ao Jornal Midiamax.
Confira as imagens:
No conto, o jacaré também se indigna ao ler as notícias sobre a onça e convoca sucuri, raposa, tamanduá e outras diversas espécies para irem até São Paulo resgatá-la. Sem apoio do poder público e da imprensa, os bichos entram no Instituto onde a onça está, a libertam e trazem de volta à natureza. Já no Pantanal, todos comemoram felizes o retorno do predador.
“É lógico que isso é uma história pra ver se toca o coração das pessoas. Eu tenho conversado com os pantaneiros e eles me falaram uma coisa muito séria: tiraram o organismo que mantém a saúde do Pantanal é a onça e tiraram ela. Foi uma ação completamente fora do eixo, não tem nada a ver com o equilíbrio”, afirma.
A relação com a região toca ainda mais o biólogo, que também sugere estudos sobre o local.
“Conheço o Touro Morto, já fiquei lá vários dias gravando um filme para a Petrobrás, não existe um lugar tão belo no Pantanal, fora a Nhecolândia, quanto o Touro Morto. Não consigo entender o motivo pelo qual entraram lá e tiraram aquela onça. Poderiam ter colocado uma extensão da Universidade Federal ali naquele lugar para estudar aquele ambiente, que é um ambiente do Pantanal diferente de todos os lugares. Estou indignado com a ação do poder público”, finaliza.
Leia abaixo o texto completo com a historinha do resgate da onça:
A Grande Missão: Libertar a Onça do Toro Morto
No coração verde e alagado do Pantanal, Zé Caré conta a notícia e ela correu mais rápido que ariranha em dia de pescaria: a onça do Toro Morto havia sido levada para São Paulo e estava presa.
Capivara, sempre de orelha em pé para novidades, foi a primeira a saber e convocou uma reunião urgente debaixo da figueira centenária, à beira do rio.
— “Compadres e comadres, não podemos deixar nossa amiga atrás das grades!” falou Capivara, com firmeza.
Raposa, que adorava uma estratégia, já afiava as ideias: “Precisamos de um plano! E rápido!”
Peixe Dourado, que morava nas águas calmas, pulou fora do rio só para dar seu recado:
“Se ela não voltar, o Toro Morto nunca mais será o mesmo!”
Zé Caré, com seu jeito lento, mas certeiro, soltou: “Eu conheço um caminhoneiro que passa aqui carregando melancia pra São Paulo. Podemos ir de carona na carroceria!”
E assim, na noite seguinte, começou a Operação Resgate.
Capivara, Raposa, Zé Caré e até o Peixe Dourado (num balde cheio de água) se esconderam no caminhão. Durante três dias de viagem, enfrentaram poeira, buracos e até um posto de gasolina onde quase foram descobertos.
Chegando a São Paulo, encontraram a onça em um grande parque.
Ela estava triste, olhando para o horizonte, sonhando com o cheiro das flores e o barulho das águas do Pantanal.
Raposa assumiu a liderança: “Zé Caré, distrai o segurança. Peixe, você faz barulho na fonte d’água. Capivara, eu e você vamos abrir o portão.”
O plano deu certo! No silêncio da madrugada, a onça saiu correndo para a liberdade. Eles voltaram juntos, pegando carona em outro caminhão que transportava feno para o interior.
Quando chegaram ao Pantanal, foi uma festa! Os tuiuiús dançaram, as ariranhas deram saltos no rio, e até os jacarés sorriram mais do que o normal. A onça, feliz, disse:
— “Nunca vou esquecer que vocês arriscaram tudo por mim.”
E desde aquele dia, uma nova lei não escrita foi criada no Pantanal: “Se mexer com um, mexe com todos.”
Carlos Gentil Vasconcelos
Biólogo e Capelão
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