A professora de telejornalismo foi direta na pergunta: “Grazi, qual é a pessoa que você é fã e gostaria muito de entrevistar? E como conduziria esta entrevista?”. Meados de 2006. Eram tempos de estudante e, confesso que ainda estava meio sonolenta, mas, não hesitei em responder:

“Silvio Santos. Sou muito fã dele. É o maior apresentador que temos e é alguém que faz parte da minha casa, da minha família. E já que é pra sonhar eu me vejo sentada, ao lado dele, na cadeira de balanço da minha avó, conversando, o tempo todo com o coração disparado e uma listinha de perguntas, mas, com a coragem que todo jovem carrega, fingindo naturalidade…”, disse.

A pergunta não foi feita só para mim naquele momento, mas, aos colegas, futuros jornalistas. Hoje, quase completando 16 anos de carreira, ainda me lembro deste fato. Nunca consegui entrevistá-lo, obviamente. E ali nem imaginava o momento que perderíamos o ícone Senor Abravanel, popularmente conhecido como Silvio Santos, o que ocorreu na madrugada deste sábado (17), após agravamento do quadro de H1N1.

Na verdade, não sei explicar direito que sentimento é este, mas, sempre admirei Silvio Santos, é como se fosse uma extensão dos meus, da minha família, o que, em tese, “restou” do meu avô José que eu tanto amava. Aliás, quem tem ou teve o presente de conviver com os avós sabe do que estou falando. Na casa deles, tinha uma só regra, a qual jamais poderia ser infringida:

Hora do sorteio da Tele Sena era ‘sagrada’

(Graziela Rezende/Jornal Midiamax)

Todo domingo, na hora do sorteio da Tele Sena, ninguém podia abrir a boca. Enquanto saíam todas as bolas sorteadas, na televisão de tubo e sob o comando do nosso amado Silvio Santos, era silêncio e uma tensão gostosa, já que o meu avô comprava o título de capitalização todo mês e sempre tinha certeza que ganharia e estaria ao lado do icônico apresentador, pegando aquele cheque gigante e comemorando. Ele ganhou sim, alguns prêmios, quantias pequenas, e eu torcia e vibrava com ele.

Nós últimos tempos, era até engraçado. Bem idoso, meu avô gostava de dormir cedo, porém, deixava a porta do quarto entreaberta e a televisão ligada. Ouvia Silvio Santos mesmo deitado. No sofá, ficávamos eu a minha avó, aguardando as “pegadinhas” para juntas, darmos risadas, e só aí acabava o domingo e a segundona brava podia começar. São memórias, de tantas que o “dono da alegria” deixa em nossos corações.

O tempo passou, meus avós se foram, e o Silvio era sempre aquele “alguém especial”…

E meus amigos mais próximos sabem. Sempre emprestei livros, fiz trocas, mas, o do Silvio Santos jamais. Tenho ciúmes dele. É uma edição especial, autorizada por ele e que conta como um simples vendedor de caneta, no Rio de Janeiro, se tornou esta potência que hoje conhecemos como o dono do SBT (Sistema Brasileiro de Televisão), mas, como empresário de sucesso que foi, possuía inúmeros outros investimentos.

Fica o talento, fica a alegria, fica o aprendizado, fica o amor ao próximo, fica a simplicidade, fica o exemplo de um grande homem, o mais imitado de todos os tempos. O Brasil perde a figura humana, o céu o recebe com “MÁ OI, MÁ OI, VÉM PRA CÁ, VEM PRA CÁ”, em festa.

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