Negociador do sequestro de Silvio Santos explica tática ‘leite-moça’ e por que não é recomendada: “Nunca usamos”

Ex-comandante do GATE (Grupo de Ações Táticas Especiais), Diógenes Lucca, deu palestra gratuita em Campo Grande

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Diógenes Lucca deu palestra gratuita, em Campo Grande. (Montagem/Midiamax)

Na tarde de terça-feira (8), o ex-comandante do GATE (Grupo de Ações Táticas Especiais), Diógenes Lucca, responsável por negociar o sequestro do apresentador Silvio Santos, em 2001, palestrou em Campo Grande. O negociador compartilhou táticas para abordagem de sequestradores. E além de dividir os segredos com o público, explicou sobre uma técnica que, apesar de usada em alguns momentos na polícia, ressaltou que deve ser evitada por negociadores: a chamada ‘tática do leite-moça’.

A tática nada mais é do que tratar o criminoso de forma agressiva, para ‘revidar’ seus comportamentos impulsivos: o famoso “bateu, levou”. Essa, deve ser evitada pelos negociadores e substituída pela capacidade de ouvir e dar atenção aos sequestradores, a fim de convencê-lo de que a melhor opção é aceitar a negociação, entregar os reféns e ir para a cadeia.

“A gente segura a onda, a gente respeita. Nesse dia eu aprendi essa lição, aprender a ouvir. Fazer a pessoa se sentir valorizada, olhar pra ela, dar atenção pra ela. O negociador, antes de tudo, é um bom ouvinte. Para negociar não basta falar bonito, tem que ouvir bonito também, e ouvir é uma virtude que a gente para de aprender com a idade”, explicou.

Negociador aprendeu lições no sequestro de Silvio Santos

De acordo com Diógenes, o criminoso, no final de uma ocorrência, tem apenas dois destinos: “ir para a cadeia ou para o cemitério”. Assim, o negociador tem como principal missão, tentar chegar a um consenso com o sequestrador, mesmo que as exigências sejam absurdas e até ‘revoltantes’.

“A magia da minha arte como negociador, é convencer o cara de ir pra cadeia feliz, porque fez um bom negócio, porque a outra opção, é a pior. Eu vou com esse propósito de fazer o cara ser convencido de que o melhor é fazer assim, entregar, liberar os defesos, estar vivo, preso, e como eu dizia sempre: sem um fio de cabelo desarrumado”, detalhou.

Além de aprender sobre a importância de ouvir o ‘cliente’, na hora da negociação, Diógenes saiu da mansão de Silvio Santos com outras lições na bagagem. Entre elas, a de organizar o local antes da negociação. Isso porque, no momento em que o apresentador estava sendo mantido refém, o barulho no local, não estava contribuindo para uma abordagem positiva.

“Dentro dessa mansão tinha um cômodo. Ele estava sendo mantido refém pelo sequestrador. Mas, a sala do Silvio Santos parecia uma festa da firma. Tinha secretário de estado, coronéis da polícia. E lá no outro cômodo, ele estava sendo mantido refém, por um moleque megalomaníaco, meio inconsequente”, contou.

Assim, a solução que o negociador encontrou foi chamar o comandante-geral e pedir que conseguisse tirar as pessoas do local. Assim, conseguiu conduzir a negociação com o sequestrador. “Eu aprendi uma lição importante nesse dia: é importante organizar o local. Quando você for para uma rodada de negociações com seu cliente, organize o local para ter uma conversa pacífica, sem interrupção”, compartilhou.

No momento da negociação não há espaço para nervosismo

Apesar de muitos acharem que Diógenes estava com o coração acelerado ou nervoso, no momento da negociação, ele afirma que estava com o coração batendo 60 por minuto, ou seja, batimentos normais. “Eu explico: eu me preparei para fazer o que eu fazia. Eu estudei muito para fazer o que eu fazia”, explicou.

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