Moradores de Campo Grande (MS) que curtiam o feriado prolongado no último final de semana foram surpreendidos por uma cobra, a princípio não identificada, que apareceu na residência onde moram, no bairro Nova Campo Grande.
De início, a família ficou assustada com a aparição da serpente e tentou descobrir que espécie era aquela. Uma breve pesquisa na internet fez com que concluíssem, inicialmente, que se tratava de uma Muçurana (Clelia clelia), conhecida como “cobra do bem” por comer serpentes venenosas como jararacas e cascavéis.
“Quem viu foi meu filho de 10 anos, ele ficou com medo. Depois pesquisamos no Google pelas características, descobrimos que não era peçonhenta e que inclusive poderia comer outras cobras“, detalha a moradora do Nova Campo Grande que registrou a visita indesejada do animal.
Ao constatarem que o exemplar não representava perigo, os donos da casa então deram um destino justo para a cobra.
“Colocamos em uma APP (Área de Preservação Permanente) que tem próxima. Inclusive estão desmatando do lado, achamos que por isso ela foi parar em casa. Só devolvemos à natureza por não ser peçonhenta, porque se fosse venenosa, iríamos chamar a PMA“, afirma a moradora.
Cobra era mesmo uma Muçurana?
Ao receber o relato, o Jornal Midiamax consultou biólogos que pudessem confirmar se o animal era mesmo uma Muçurana – predadora que, apesar de ser implacável com espécies peçonhentas de outras cobras, é considerada totalmente inofensiva para seres-humanos.
De acordo com o Instituto Butantan,“a muçurana vence da jararaca, da cascavel e da urutu. Na hora do bote, ela se enrola em volta da outra cobra para pressioná-la e, geralmente, começa a se alimentar pela cabeça – para evitar que a presa tente morder para se defender”.
“A muçurana engole sua vítima por inteiro. A única capaz de matá-la é a coral-verdadeira, que tem o veneno mais letal entre todas as serpentes do Brasil. Mas nem só de outras cobras vive a muçurana: em sua dieta entram também pequenos mamíferos, aves e lagartos”, esclarece o centro de pesquisa.
A verdadeira espécie da cobra que visitou moradores na Capital
Entretanto, não era esta a “cobra do bem” que apareceu na casa dos moradores de Campo Grande (MS). Eles ainda pensaram que, pela coloração avermelhada e as listras pretas e vermelhas na cabeça, poderia se tratar de uma falsa cobra-coral, mas, a opção também acabou descartada.
Questionados pela reportagem, profissionais da biologia identificaram o animal fotografado na Capital como um exemplar da complexa Serpente-buraqueira ou escavadeira (Phalotris tricolor).
De acordo com a bióloga mestra Fernanda Alves, do biotério da UCDB (Universidade Católica Dom Bosco), esta é uma cobra fácil de ser encontrada e suas aparições são comuns, apesar de seu hábito de viver a maior parte do tempo debaixo do solo.
Características da Sepente-buraqueira
E, embora não coma serpentes venenosas como a Muçurana, que se alimenta até de cascavéis, a cobra escavadeira engole outras parentes mais inofensivas. “Não é uma serpente peçonhenta e também costuma se alimentar de outras cobras, incluindo cobras-cegas e cobras de vidro, esta última sendo um lagarto, apesar do nome”, detalha Fernanda.
Sobre algumas outras características do animal, a bióloga destaca: “Ela é ovípara e, como estratégia de defesa, costuma apresentar movimentos erráticos (mudança brusca e repetida de posição)”.
Desse modo, assim como a Muçurana, a Serpente-buraqueira também é inofensiva e não representa perigo para as pessoas, mas não deixa de ser um animal silvestre. Por isso, em casos de avistamentos da espécie em áreas urbanas, o recomendado é acionar a Polícia Militar Ambiental para que o órgão capture o exemplar e tome as medidas cabíveis. O telefone para contato é (67) 9984-5013.
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