Os traços e cores são únicos. Espalhados por Campo Grande (MS) e até em outras cidades do Estado, esses gatinhos “malucos” grafitados em paredes e superfícies diversas têm um simbolismo especial para a artista por trás das gravuras. Em cada bairro da Capital, pontos de encontro coletivo ou muros de esquina, os animais “psicodélicos” desenhados por Thais Maia marcam presença.
Basta fazer qualquer tour pela cidade ou simplesmente ir ao mercado da esquina para se deparar com uma arte da muralista campo-grandense. E os felinos não passam despercebidos, porque, além dos contornos marcantes e autorais da artista, as cores vibrantes também os destacam onde quer que estejam.
Ao Jornal Midiamax, a ilustradora Thais Maia, de 29 anos, explica qual o significado dos desenhos tão únicos e chamativos que hoje já podem ser vistos não apenas em Campo Grande, mas nos quatro cantos de Mato Grosso do Sul. Segundo ela, além de serem uma espécie estimada, os gatos também são uma autorrepresentação.
“Todo o meu trabalho está ligado aos animais, porque prefiro bicho do que gente, não necessariamente só aos gatos, mas o que eu gosto muito é de criar personagens com eles. Meu foco maior é nos gatos porque eles são negligenciados, abandonados e maltratados, e minha personalidade bate com a deles, não sou muito de pessoas”, afirma ao MidiaMAIS.

Como os gatos viraram a marca da arte de Thais
Ela diz que sempre viveu cercada de bichos e carregava gatos de rua para casa desde quando era bebê. Mas, em março de 2021, a ligação se estabeleceu de um modo que transformou tudo. “Na época, dois gatinhos filhotes cruzaram o meu caminho, foram abandonados numa caixa na chuva. Eu adotei! Foi amor à primeira vista e a chegada deles mudou tudo pra melhor”, recorda.
Muito rapidamente, Thais conta que “testou positivo” para “obcecada por gatinhos” e aqueles animais indefesos, jogados ao relento, dominaram seu coração e sua mente. Como boa artista, ela precisava expressar o que havia dentro de si – e foi assim que os gatos saíram de seu coração e foram parar nos muros da Capital.

“Foi inevitável começar a criar um monte de gatos malucos, eles tomaram conta da minha cabeça. Comecei a enxergar gatos em todo lugar. Do nada, esse gato chegou ganhando o coração da galera. Me encontrei muito feliz criando e percebi que eu estava amarradona neles”, revela.
Após treinar esboços, Thais começou a pedir muros pela cidade para praticar e melhorar seus desenhos. A partir de então, eles foram aparecendo e dando vida com ao cenário urbano de Campo Grande.
Posteriormente, durante viagens, a ruiva começou a espalhar as gravuras em muros de outras cidades de Mato Grosso do Sul, deixando seus traços por onde passava. Hoje, esses gatos fazem tanto sucesso que estão em estampas de canecas, camisetas, quadros e produtos em geral. Transcenderam as paredes.

Autodidata, Thais já deixou de comer para comprar tinta
Thais também relata que pinta paredes desde que se entende por gente. Tudo é criação dela, não há nada que pegue de algum lugar e faça releitura. “Eu era criança e rabiscava todas as paredes que via, a arte sempre esteve na minha vida”, detalha.
Especialista em colorimetria há mais de 13 anos, a campo-grandense de 29 anos é autodidata e diz que jamais investiu na carreira ou recebeu apoio moral e financeiro de alguém.
“Sempre fui muito pobre, nunca tive apoio nenhum. As pessoas pensam que a gente precisa ter apoio. A arte ela é natural pra mim, assim como respirar. É uma coisa que foi acontecendo, eu não tinha dinheiro nem pra comer, a galera começou a procurar muito e foi virando uma profissão”, relata.
A muralista vive do trabalho artístico e sua renda é 100% oriunda disso. “O primeiro desenho que eu vendi eu tinha 5 anos de idade”, complementa. “Não tem nenhuma história de conto de fadas por trás, eu não tinha apoio, não tinha família, não tinha nada, não tinha dinheiro. Eu literalmente deixava de comer pra poder comprar tinta“, pontua.
“Nunca tive curso, ninguém dando tapinha nas costas e falando ‘vai lá, você faz isso bem’. A galera olha pra mim e jura que eu sou burguesa, tenho a vida feita e faço arte por hobby. Na verdade, eu trabalho muito antes de ter idade pra trabalhar. Enquanto a galera estava na balada, eu estava trabalhando. Não existe nada que tenha me feito virar a chave, eu simplesmente faço isso desde que nasci e não sei viver sem estar no meio disso, tanto da arte quanto dos animais“, enfatiza.
Ir embora é um plano
Sobre os locais onde pinta: “não tem muito critério, a maioria dos meus muros são autorizados e, fora esses, acabo pegando muito lugar abandonado na cidade e gosto de dar uma revitalizada, que é o que a arte faz“, dispara.
“Sou de Campo Grande, nasci em Campo Grande, mas não pretendo continuar aqui, a nossa cultura é um lixo, é triste, bizarro, desesperador. Já neguei muitas oportunidades pra fora porque amava muito Campo Grande e queria muito ficar. Hoje eu penso totalmente diferente“, lamenta.
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