‘Família’ formada na rua e pobreza levam seis pessoas a montarem barraco em torre de alta tensão
Moradores detalham como é ouvir o som da “energia chegando” e, ao mesmo tempo, a água caindo ao redor do barraco e os fazendo correr risco de morte
Graziela Rezende –
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A chuva deixou turva a visão da janela do carro, mas não o suficiente para ver algo que parece inacreditável: uma casa montada sob a base de uma rede de alta tensão, localizada na Avenida João Ministro Arinos, em Campo Grande.
Nesta quinta-feira (10), o que surpreendeu a equipe do Jornal Midiamax e nos fez “dar a volta” para conhecer os moradores, assusta também pelo perigo aos moradores, que detalham como é ouvir o som da “energia chegando” e, ao mesmo tempo, a água caindo ao redor do barraco e os fazendo correr risco de morte.
Ao todo, seis pessoas dizem viver no local. Quem nos recebeu primeiro é uma mulher, a qual se identificou como Laura Cristina, de 45 anos.
“Eu estou aqui há um mês, mas, o meu namorado já está há mais tempo. O desemprego, a pobreza e o afastamento da família nos faz morar aqui. E quando tem chuva é assim: a gente escolhe um canto e espera passar”, disse, enquanto se encolhia ainda mais na cama embaixo de lonas, algumas delas com furos.
Ao redor, malas, roupas e pertences tomavam chuva. Segundo Laura, o companheiro também trabalha com reciclagem e, por isso, conseguiu “algumas coisas”. Ao perguntar sobre o fato de montar o barraco justamente ali, ao redor da torre, ela disse que ia chamá-lo, pois, poderia explicar melhor.
Ao chegar, o homem de 42 anos disse querer não se identificar, pois, saiu da cadeia há pouco tempo e foi morar ali porque “envergonhou” a família e ninguém o aceita.
“Tenho filhos, minha mãe é missionária, mas, vivo aqui porque não me querem por lá. E eu também não quero ter a vida que querem pra mim. E a torre funciona sim, mas, eu tenho conhecimento, não dá problema”, comentou.
Além do casal, outros quatro rapazes residem ali. Eles chegam em seguida, mas, são de poucas palavras. “No meu caso é a segunda chuva aqui. A primeira foi de ventania. Mas eu penso que Deus protege”, falou Laura. E o outro morador emenda: “A gente sabe quando tá vindo a carga, faz um vum vum na torre, mas, não dá problema não”, finaliza.
Laura disse que trabalha como cozinheira e diarista e, quem quiser ajudar, pode entrar em contato pelo telefone (67) 99253 – 3487.
Torre de servidão de 138 mil volts
Sandro Bagui, coordenador do departamento de Manutenção e Transmissão da Energisa, detalhou que na área onde a família está fica uma torre de servidão de 138 mil volts. “Estas torres na cidade, em geral, são feitas na área urbana de forma que não tenha nenhuma edificação próxima, então, a notícia de que pessoas estão habitando ali, é algo urgente a se resolver. Pode haver alguma descarga atmosférica, cair algum fio e eles serem atingidos por 138 mil volts”, pontuou.
Conforme o coordenador, quando eles alegam que escutam o escutam “barulho da energia chegando”, na verdade, se trata do vento, principalmente porque a torre permanece energizada 24 horas por dia. “É uma loucura isso. São condições insalubres, pois, existe o risco de algum peça cair, o vento que solta um cabo da energia, por exemplo”, argumentou.
Em anos anteriores, houve casos de pessoas que subiram ali. “Nestes casos, o Corpo de Bombeiros é acionado imediatamente e a linha é desligada. Ali não é o lugar ideal, principalmente porque tivemos toda uma autorização da prefeitura de “andar com a linha”, na área urbana, isso desde a década de 70. É um trabalho antigo, de servidão administrativa que fizemos, para que nada seja construído ali embaixo”, finalizou.
Rastro de destruição
O temporal que caiu na tarde de quarta-feira (9) deixou um rastro de destruição em Campo Grande. São ruas sujas de barro, de lixo, queda de árvores, de placas e até outdoor. Ao todo, foram 38,2 mm de precipitação.
No fim de semana, não deve chover e as temperaturas começam a voltar a subir, mas não ao patamar recorde dos últimos dias.
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Veja mais algumas imagens do barraco montado sob a rede de alta tensão:
* Matéria alterada às 15h33 pra acréscimo de informação
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