Em época de São João, nem fumaça impede fronteiriços de comemorar tradição em MS
A festança que acontece em Corumbá e Ladário é Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil
Priscilla Peres, Clayton Neves –
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Na fronteira de Mato Grosso do Sul com a Bolívia o Arraial do Banho de São João é mais do que tradição. A festança que acontece em Corumbá e Ladário é Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil e nem a rotina de incêndios e fumaça impede a comemoração.
Na noite de quinta-feira (21), equipe do Jornal Midiamax que está na região para cobrir os incêndios, presenciou a abertura do Arraial do Banho de São João de Ladário. Neste ano, a festa tem como tema “Onde o São João é patrimônio e o Arraial é de todos!”.
Corumbá e Ladário são cidades irmãs, que compartilham os problemas e também tradições. Na quinta-feira à noite, centenas de pessoas se reuniram na praça Igreja Santuário Nossa Senhora dos Remédios, para a festa de Ladário. Nesta sexta-feira (21), o Arraial começa em Corumbá.
Ambas as festas têm shows, barracas com comidas típicas, dança e o famoso banho de São João. Além de comemorar a tradição, fazer uma renda extra, o Arraial também é uma oportunidade para aliviar a tensão dos dias ‘quentes’.
População unida na comemoração
O cenário é atípico. Os dias de clima ameno deram lugar ao calor e a úmida, antes presente, agora é escassa e os moradores respiram fumaça. Enquanto a natureza pede socorro e os moradores tentam lidar com as mudanças, chega o São João para lembrar que sempre é época de comemorar a vida.
A servidora pública Kely Baná, 39, afirma que não tem como parar tudo que já estava programado. “Esse tipo de festa no interior é um marco, além de trazer renda extra para a população, lazer para famílias, crianças e idosos se unem, um momento para espairecer a cabeça”.
O funcionário público de Ladário, Luiz Herinque Coelha, 58, participa todos os anos e se diz ‘ladarense raiz’. “Se a gente for ligar para as dificuldades não vive, além disso, quem ia adivinhar que as queimadas viriam bem na época do São João”.
Já o professor André Motta, 39, destaca que é preciso continuar com alegria e a festa vem para ajudar. “Esse não é o período das queimadas, nesse mês estávamos acostumados e envolvidos com as funções da festa. É claro que nesse cenário tudo fica mais estressante e difícil, mas a festa é justamente um canal para que a população consiga descansar da preocupação diária”.
Vinicius Soares, 25, vendedor, afirma que a fumaça que paira no ar é oportunidade para conscientizar sobre as queimadas. “A cidade toda está reunida, então é uma oportunidade de levar informações, falar sobre as queimadas, cuidados necessários, é uma forma de chamar a atenção para o problema”.
Escuridão da noite dá lugar ao ‘clarão’ do fogo
Os incêndios florestais avançam sem controle pelo Pantanal e quem vive na fronteira de Mato Grosso do Sul com a Bolívia convive diuturnamente com as chamas. Durante o dia, a fumaça branca invade o horizonte de Corumbá, mas na escuridão da noite, o visual que se instala é ainda mais angustiante.
Devido aos incêndios que atingem a região pantaneira, a escuridão que chegava com o pôr do sol deu lugar ao clarão do fogo que queima a vegetação e pode ser visto de longe. Na Avenida Rio Branco, a última antes que se chegue à margem do Rio Paraguai, os ‘clarões’ provocados pelas chamas avançam em direção ao rio e mudam a paisagem da via.
Para quem vive na região, além do fogo e da fumaça, a preocupação é com o surgimento cada vez mais comum de animais silvestres. Encurralados, cutias, jacarés e até onças-pintadas, atravessam a margem em direção à área urbana, aumentando a incidência de resgates na região.
Seja no Cristo Rei, no Porto Geral ou em algum ponto alto da cidade, a noite corumbaense é sinalizada pelos reflexos em tons vermelho e laranja.
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