Eva Maria de Jesus, mais conhecida como Tia Eva, mulher negra, ex-escravizada que foi alforriada em 1887. Nascida em Mineiros, em Goiás, veio para o antigo estado do Mato Grosso e fundou a Comunidade Quilombola São Benedito, localizada em Campo Grande, no ano de 1905.

Uma promessa feita a São Benedito e o desejo de ser feliz com suas três filhas foram o bastante para que Tia Eva partisse rumo ao seu destino. Ao chegar, com as filhas Lázara, Sebastiana e Joana, comprou um terreno com 85 mil réis, local onde mais tarde deixaria seu legado.

Em 1912, Tia Eva construiu a primeira igrejinha da comunidade, em agradecimento a São Benedito, por curar a sua perna de uma ferida, assim que chegou ao antigo estado de Mato Grosso. Mais tarde, em 1919, a igreja foi reconstruída em alvenaria, e houve a primeira Festa de São Benedito no local. Desde então, a comemoração acontece anualmente.

Parteira, cozinheira, curandeira e benzedeira, Tia Eva se tornou uma referência na comunidade. Nestes oito hectares de terra, ela construiu toda a sua vida e seu legado, que hoje deixa para os seus descendentes. Atualmente, mais de 200 famílias moram na região.

Liderança religiosa

Reconhecida como uma liderança religiosa, quem desejava se benzer, procurava Tia Eva. Conforme os relatos de seus descendentes, consultados no site Comunidade Quilombola Tia Eva, além de benzedeira, era boa parteira, e muitas pessoas nasceram pelas suas mãos.

Em sua promessa a São Benedito, assumiu o compromisso de fundar a igreja em homenagem ao santo e de realizar uma grandiosa festa todos os anos, enquanto restasse um único descendente. Esses preservam a tradição, lutando para que a sua herança de fé não caia no esquecimento.

No dia 5 de maio de 1998, a Igrejinha de São Benedito recebeu o definitivo tombamento como parte do Patrimônio Histórico de Mato Grosso do Sul, pelo governo do Estado. A construção é conhecida como a segunda igreja mais antiga da cidade.

Como não existe nenhum registro fotográfico de Eva Maria de Jesus, o busto que hoje fica na frente da igreja, em sua homenagem, ganhou inspiração no rosto de uma de suas filhas, que diziam ser muito parecida com ela.

Seu falecimento ocorreu em 1926. Assim, Tia Eva foi enterrada em frente à igrejinha, onde outros membros da família também foram. Contudo, passados 46 anos de sua morte, um de seus bisnetos transferiu seus restos mortais para um túmulo construído dentro da igreja.

Controvérsias na história

A história reconhecida oficialmente sobre a fundação de Campo Grande tem início com a chegada de José Antônio Pereira, vindo de Minas Gerais. Conduzindo uma expedição composta de 11 carros mineiros, que traziam sementes e mudas diversas, o desbravador se fixou na confluência dos córregos Prosa e Segredo. A região veio a se tornar Campo Grande em 1889.

Contudo, histórias orais contam que José Antônio Pereira encontrou uma comunidade quilombola na região do antigo Cascudo, onde atualmente fica o bairro São Francisco. Essa comunidade seria a de Tia Eva. Ao Jornal Midiamax, em entrevista no ano de 2015, a tataraneta de Eva Maria, Lúcia da Silva Araújo, contou que essa era a história contada entre a família.

“Sempre nos falaram que quando José Antônio Pereira chegou por aqui, ‘não havia nada’, só uma comunidade negra nos altos do São Francisco. Esta comunidade só pode ser a nossa. Foi a Tia Eva que fixou o povoado na região do ‘Alto’ São Francisco”, relatou.

Lúcia mencionou, entretanto, acreditar que a versão não tem reconhecimento por se tratar de um povoado de ex-escravos, fundado por uma mulher negra. Neste caso, a discriminação não permite que a história vá além de uma lenda, que corre pelas ruas da comunidade. “Na terra do agronegócio, esperar que reconheçam a Tia Eva como fundadora é demais. Vai ser muito difícil de isso acontecer”, ressaltou.

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