A história do idoso de 112 anos que vive no Guanandi e pode ser o homem mais velho do mundo

Sem uma ruga no rosto, dificuldades de fala ou locomoção, morador do bairro Guanandi, em Campo Grande (MS) se mostra em plena saúde aos 112 anos de idade. Apontado pela família como homem mais velho do mundo, Antônio José Fernandes abriu as portas de sua casa e recebeu a reportagem do Jornal Midiamax nesta terça-feira (3) para tirar as memórias do baú e contar um pedaço de sua centenária história de vida.

Natural de Aracaju, Sergipe, ele vive em uma residência modesta na capital de Mato Grosso do Sul, onde mora com a filha mais velha, a neta Patrícia, o marido dela e mais três bisnetos filhos do casal.

Segundo os familiares, Antônio não toma nenhum remédio, não tem pressão alta, diabetes e qualquer outra enfermidade comum para pessoas de idade avançada. Muito pelo contrário, com a saúde “tinindo”, ele pode conquistar o título de homem mais velho do mundo.

Isso porque, na última semana, depois que o Guinness Book confirmou outro idoso, mais jovem que ele, como detentor do título, a família procurou o Jornal Midiamax, mostrou a documentação e relatou que Antônio é quatro meses mais velho que o homem registrado como mais longevo pelo livro dos recordes.

Agora, os parentes têm a intenção de inscrever seus dados no Guinness World Records para provar que é ele o recordista quando o assunto é tempo de vida.

Antônio não tem rugas e ninguém acredita que já passou dos 100

Mas, enquanto a classificação da autoridade global não chega, o sergipano curte a plenitude da terceira (ou quarta) idade cercado de carinho, afeto e cuidados de seus descendentes no bairro Guanandi.

Feliz em ter o avô por perto, a neta Patrícia conta ao MidiaMAIS um pouco da rotina do patriarca. “Ele gosta de acordar tarde. Se acorda um pouco mais cedo, dorme nas cadeiras. É tranquilo, brinca com os guris [bisnetos], assiste televisão. Ama manga. Senta ali na frente de casa, vai com a gente na igreja… É assim que ele vive”, detalha.

Conforme a designer de sobrancelhas, quem olha para seu Antônio tem dificuldade de acreditar que ele já viveu 112 anos. “Não tem uma ruga no rosto e o povo até tira foto com ele quando fica sabendo da idade”, diz ela.

“Ele fez filho depois dos 50”, conta neta de Antônio

Em relação ao passado, as histórias são desencontradas e se confundem com o decorrer dos anos, afinal, a memória já não é a mesma depois de mais de um século de existência. De acordo com os relatos, Antônio saiu de Sergipe ainda criança a trabalho, descendo o Brasil de fazenda em fazenda, até firmar morada em Mato Grosso do Sul.

“O que eu sei é que ele casou duas vezes. A primeira esposa ficou grávida de gêmeos e os três morreram no parto”, revela a neta à reportagem, sem precisar uma data. Depois de um tempo de luto pela viuvez, Antônio conheceu a avó dela, Maria Messias, e assim nasceu a família sul-mato-grossense do sergipano. “A minha mãe, de 57 anos, é a mais velha dos filhos”, comenta a neta.

Foi em Nioaque que Antônio passou a maior parte da vida. Em uma chácara na cidade localizada a 183 quilômetros de Campo Grande, ele se casou com Maria, assumiu quatro filhos que ela já tinha, teve mais quatro filhos biológicos com ela e ainda adotou mais um.

“Minha avó tinha quatro filhos já e o filho mais velho dela foi quem apresentou os dois. Só que meu avô já tinha mais idade. Ele fez filho depois dos 50, cuidou e amou todos sem distinção, incluindo os que não eram de sangue“, afirma Patrícia.

Os relatos do próprio Antônio

No ano de 2001, com a morte de Maria Messias, Antônio ficou viúvo mais uma vez. Perto dos 90, ele passou a levar uma vida mais solitária e, entre idas e vindas a Campo Grande, decidiu vender a propriedade em Nioaque e se mudar para a capital, onde há 10 anos vive aos cuidados da filha mais velha e da neta Patrícia.

Em conversa com a reportagem, o idoso demonstra sua lucidez e recorda momentos do passado. Ele diz que o trabalho que mais se lembra é em uma usina de açúcar, ainda na infância, em Sergipe.

Questionado sobre qual seu segredo para todos esses anos bem vividos, o centenário responde: “Eu trabalhei muito”. E complementa: “[Trabalhei] em usina e em fazendas… Nas fazendas eu mandava na turma [capatazes]. Era uma aqui em Mato Grosso do Sul e outra em Sergipe”, relembra.

O idoso também diz que sua mãe andava junto com Maria Bonita, esposa de Lampião, em seu estado de origem. Conta ainda ter um irmão gêmeo perdido, que não sabe se está vivo, e tem ciência de que viveu muito mais do que a maior parte dos brasileiros.

“Agora já esqueci tudo”, afirma, sobre as lembranças do último século.

“Saúde eu tenho”, afirma idoso que pode ser o homem mais velho do mundo

A equipe do Jornal Midiamax perguntou a Antônio se, atualmente, aos 112 anos, a vida está boa. Sem pensar duas vezes, o idoso respondeu: “Graças a Deus, saúde eu tenho”. Ainda o indagamos sobre quantos anos mais pretende viver. “Ele que tá lá em cima [Deus] é quem decide”, disparou o sergipano, que também relatou suas atividades preferidas: “Gosto de almoçar, dormir e passear na cidade”.

Patrícia, a neta, é designer de sobrancelhas em Campo Grande, mas dedica a vida a cuidar do bem-estar do avô. Cheia de orgulho do patriarca, ela acredita que o idoso vai passar dos 120 anos. “Ele fala ‘vou enterrar tudo vocês’”, revela a campo-grandense.

Para ela, o segredo da longevidade de Antônio pode estar relacionado à fé. “Meu avô ora todos os dias depois das refeições e antes de dormir. Pode esquecer de qualquer coisa, mas nunca disso. Ele também vai à igreja toda semana com a gente, onde louva animado. Talvez seja isso, essa fé em Deus que o fez chegar tão longe e vivendo tão bem“, conclui a neta.

Registro no Guinness Book

Mas o morador de Campo Grande não é o único idoso a ter 112 anos de idade no Brasil. Inclusive, na semana passada, o Guinness Book confirmou o cearense João Marinho Neto, da mesma idade, como sendo o homem mais velho do mundo. O problema é que João nasceu em outubro de 1912, enquanto Antônio nasceu em junho do mesmo ano.

Ou seja, conforme dados de documentos pessoais, Antônio José Fernandes é quatro meses mais velho que João Marinho Neto e, portanto, seria o homem de maior idade vivo no planeta.

Ao saber do novo registro do livro de recordes, a família que mora no bairro Guanandi, em Campo Grande, não acreditou. Em conversa com o Jornal Midiamax, Patrícia Ajala, neta de Antônio, diz que pensou em acionar o Guinness Book para informar da existência de seu avô, mas não sabe como fazê-lo.

Agora, diante das informações e com a ajuda do Jornal Midiamax, a neta pretende inscrever os dados do patriarca no guia de recordes. Para tanto, ela está juntando a documentação necessária e deverá oficializar a inscrição nos próximos dias.

João Marinho Neto está no livro dos recordes como homem mais velho do mundo

Para entrar para o Guinness Book, é preciso realizar cadastro no site oficial do livro e participar de várias etapas para comprovação do reconhecimento solicitado. Confirmado pela entidade na semana passada como homem mais velho do mundo, João Marinho Neto passou por esses processos.

Segundo o LongeviQuest, usado pelo Guinness, o brasileiro completou 112 anos no último dia 5 de outubro. Anteriormente, ele já era reconhecido como o homem vivo mais velho do Brasil e da América Latina.

Além disso, o Guinness considera João como o último homem sobrevivente que nasceu no ano de 1912. Entretanto, com a contestação dos campo-grandenses, os dados se mostram equivocados.

Ainda assim, as comprovações oficiais, bem como qualquer reconhecimento, só deverão acontecer após uma nova confirmação da autoridade global em quebra de recordes diante da papelada apresentada pela família campo-grandense.

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