Conheça o Papai Noel ‘sem Natal’ que se doa há 32 anos para manter magia em Campo Grande

Desde que começou a fazer o ‘bico natalino’, nunca mais conseguiu comemorar a data, porém, diz que ama o que faz e já conseguiu fazer muitas crianças largar da chupeta e dormir sem a mãe

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Papai Noel (Alicce Rodrigues, Midiamax)

A genética fez a barba e os cabelos ganharem tons claros, até que esbranquiçaram de vez quando Silvio Fernando Degaspari ainda era jovem. Mas, como ele mesmo diz, a profissão de Papai Noel chegou “quando era magro e tinha cabelo escuro”. Atualmente, com 62 anos e mais da metade deste tempo exercendo o bico natalino, não consegue comemorar a data. No entanto, ao lado da esposa, mantém a magia para milhares de crianças, fazendo muitas delas largarem a chupeta e dormirem sozinhas após uma simples conversa.

“Eu era solteiro ainda, dava aulas no Osvaldo Cruz e a diretoria me pediu para fazer uma encenação com o Papai Noel, para crianças da pré-escola que estavam formando, aí eu fiz. Depois, fui chamado para fazer o mesmo personagem na antiga feira central. Não ganhava nada, só uma lanche aqui outro acolá. Usava barba postiça na época, o cabelo era curto. Depois, uma pessoa chamou para fazer uma filmagem lá em Cuiabá, mas, acabou não dando certo e me colocaram para fazer o Papai Noel para a Coca-cola”, relembrou Silvio ao MidiaMAIS.

Desde então, são muitos anos fazendo este serviço em Campo Grande. “Teve uma vez também que eu estava na rua e fui convidado para trabalhar em uma festa de magistrados. Trabalhei um tempo no shopping depois, veio a pandemia e depois retornei. No Shopping Bosque dos Ipês, onde estou atualmente, já é o quinto ano fixo que estou lá e comecei no último sábado (4). Foi uma festa danada entre a criançada”, explicou Degaspari.

Rotina apertada nos dias 24 e 25

Papai Noel (Alicce Rodrigues, Midiamax)

E como é na noite do dia 24 de dezembro e almoço do dia 25? Trabalhando. É justamente por isso que Silvio é o Papai Noel sem Natal, já que não consegue comemorar a data assim como a maioria das pessoas, mas, na companhia da Mamãe Noel, fica extremamente feliz e realizado.

“É uma rotina bem apertada nestes dias. Eu saio do shopping e vou fazer a casa dos clientes. Um deles vai fazer 12 anos que eu vou. Vi o filho nascer e hoje é um adolescente, por exemplo. Outras casas, em que já tinham adolescentes, hoje são adultos e alguns têm até filhos, então, é uma cliente certa no dia 24. Começo às 19h30 na primeira e vou indo de hora em hora, até de madrugada. Quando chego em casa, só como algo que tem lá e vou dormir. No dia 25 tem que trabalhar de novo, tem pessoas que preferem que eu vá no almoço do outro dia, para a troca de presentes”, disse.

Histórias e amizades marcantes

Ao longo da carreira, Silvio, ou melhor, o Papai Noel, acumula muitas histórias, algumas que até o emocionam só de lembrar. De vasilha com 17 chupetas a amizades, diz que vale a pena cada esforço.

“Tem uma mãe que chegou atordoada uma vez, enquanto eu estava lá no shopping. Ela me pediu para conversar com a filha, que não dormia. Fui falar com ela e começou a chorar muito, o shopping inteiro olhando, ela não parava. Deixei ela se acalmar e depois ela falava que tinha medo de dormir, não conseguia dormir sem a mãe. Foi aí que eu conversei, disse que ela podia dormir que o Papai Noel estaria lá todas as noites para cuidar dela. No outro dia a mãe chegou chorando, contando que foi se arrumar pra deixar e a menina disse que ela podia ir pro outro quarto porque o Papai Noel estava cuidando dela. Essa amizade tenho até hoje, a menina fez 15 anos esses dias, é um amor”, comentou.

Além disso, Silvio conta a magia (veja no vídeo) que usa para tirar a chupeta das crianças. “Eu ganhei uma vasilha com 17 chupetas de uma mãe uma vez. Ela me deu como agradecimento. Tem gente que não acredita, mas, é o símbolo, é o amor do Natal. Eu sou uma pessoa que se emociona fácil, dou muito presente para crianças carentes. No ano passado, um menino me pediu canetinhas e dei pra ele. Outro, falei pra escolher o que quisesse na loja de brinquedos. Este escolheu um dinossaurinho e a mãe disse que dorme com ele até hoje”, ressaltou.

Papai Noel também gosta de andar de moto. (Alicce Rodrigues, Midiamax)

Passado este período, Silvio volta a trabalhar como advogado. “Este é um papel que faço com muito carinho. Não sei dizer, gosto de conversar com as crianças, as mães, os responsáveis. E minha esposa me acompanha, ela gosta também. Nós também vamos, gratuitamente, em instituições, asilos. Ela, aliás, gosta mais do que eu. E passado este período eu volto a trabalhar, gosto também de viajar de moto com a minha esposa. Já fizemos o litoral todo, Paraguai, Bolívia e romarias. Antes, ela tinha aversão e hoje adora. Tirou carteira e tudo”, disse.

Por fim, o Papai Noel foi questionado sobre os próprios desejos. “Primeiro eu queria a paz no mundo. Fazem guerra por nada e quem faz a guerra não na guerra. E o povo passando fome e necessidade. Outro seria saúde para todos, porque precisamos ter essa força para viver melhor. A gente ainda tem uma condição, mas, é difícil ver tanta gente passando necessidade. E o terceiro é que acabassem os desvios de dinheiro para que todos pudessem viver melhor… muito amor, amor é o que a gente precisa”, finalizou.

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