Goianão ainda existe? ‘Maior de idade’, local busca reviver tempos de fila quilométrica e shorts a R$ 5

Goianão busca manter a mesma tradição de movimento, em épocas como Natal e em período de frio, por exemplo.

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Vendedora mais antiga do local relembra histórias do Goianão. Foto: Marcos Ermínio/Jornal Midiamax

O Goianão atingiu a maioridade. É dos áureos tempos em que o campo-grandense saía cedo de casa e, mesmo assim, se deparava com uma fila quilométrica para comprar roupa barata e de qualidade, vindo diretamente da fábrica, em Goiânia. Muita gente deve se perguntar…mas ainda existe? Sim. E inclusive mantém a mesma tradição de movimento, em épocas como Natal e em período de frio, por exemplo.

No entanto, com a expansão de lojas a preço popular, tanto no Centro como em bairros, além do aumento da oferta de viagens para sacoleiros e aplicativos, deixou de ser a única opção ou a mais rentável. Clientes ‘das antigas’ e da região norte da cidade, porém, jamais deixaram de frequentar o local. Os funcionários, da mesma forma, também sonham em reviver o grande movimento.

Foto: Marcos Ermínio/Jornal Midiamax

A microempreendedora Maria Conceição Maia Silva, de 60 anos, chegou no Goiãnão um ano após a inauguração, em 2005. Na época, ela tinha uma amiga ‘sacoleira’ e sabia que o local era a promessa de vendas do momento. Desta forma, aproveitou o momento que o marido não queria mais trabalhar e foi lá negociar uma loja.

“Nós tínhamos um supermercado no Jardim Aeroporto e meu marido decidiu vender e comprar fazenda. E eu tinha uma amiga aqui, que falava que vendia muito e então pensei que, já que eu sabia comprar alimentos, também ia saber comprar roupas. E aí fechamos o supermercado Limaia e aqui eu abri o Limaia Modas Goianão”, disse Maria ao MidiaMAIS.

Foto: Marcos Ermínio/Jornal Midiamax

Segundo a microempreendedora, é um orgulho enorme saber que, daquele local, ela ‘formou’ três filhos, um médico veterinário e duas médicas. “Uma delas ainda está na Bolívia, estudando. Cada centavo saiu do Goianão e eu pretendo trabalhar enquanto eu aguentar. Não me vejo fazendo outra coisa”, comentou.

Além de filas, Goianão tinha seguranças circulando e preço mais barato da cidade

Ao longo de quase duas décadas, Maria também ressalta as longas filas. “Eu chegava às 6h e já tinha uma longa fila esperando. Eram centenas, milhares de pessoas esperando enquanto a gente entrava pelo fundo. Ficavam de 3 a 4 seguranças circulando aqui também e era o preço mais em conta da cidade mesmo”, explicou.

Foto: Marcos Ermínio/Jornal Midiamax

Conforme Maria, tinham pessoas que brigavam por peças de roupa. “Chegavam shorts a R$ 5, tanto feminino quanto masculino e infantil. Agora, estamos mantendo o mesmo padrão, tem peças neste preço e também vestidos de festa a R$ 100, por exemplo. Tudo com o mesmo padrão e qualidade. De 15 em 15 dias eu saio com a turma de sacoleiros para buscar novidades. Vamos de carro ou ônibus e aproveito e visito parentes”, falou.

Na época do Natal, segundo Maria, o Goianão recebe muitos clientes. “Eu contrato sempre 8 funcionárias freelance neste período, elas ficam esperando a minha ligação. Quando esfria também, o movimento aumenta muito. E nos outros períodos nós também atendemos, em atacado, clientes de Bandeirantes, São Gabriel do Oeste, Miranda Dourados e até Campo Grande, já que muitas lojas são abastecidas ainda pelo Goianão”, ressaltou.

Foto: Marcos Ermínio/Jornal Midiamax

Conhecido como ‘repórter’ entre os colegas, já que é ele quem lê o Midiamax a todo momento e comenta as notícias, Ademilson de Freitas Melo, de 51 anos, nem sempre pôde ter a mesma liberdade no trabalho. Dono de uma loja no bairro Novos Estados, durante 25 anos, ele, a esposa e funcionários enfrentaram inúmeros assaltos, até que migrou para o Goianão, há 5 anos.

Ademilson sofreu vários assaltos em loja, até que se mudou para o Goianão

“Eu fiz 13 boletins de ocorrência, por assaltos à mão armada. Via dois motoqueiros e já ficava preocupada. Tinha a minha família aqui e funcionários, então, pensava que um homicídio poderia acontecer lá a qualquer momento. Conversei com minha esposa, tive que demitir 6 funcionárias e aluguei lá. Em seguida, vim para o Goianão”, falou.

Foto: Marcos Ermínio/Jornal Midiamax

Na época da loja, Ademilson fala que tinha muito mais visibilidade, porém, não tinha a mesma tranquilidade. “Aqui é somente 20% das vendas, mas, como aluguei a loja, aqui é um complemento da renda. Vejo que as vendas pulverizaram muito. As pessoas compram tanto no Centro quanto nos bairros e isso reduziu o movimento mesmo”, disse.

‘Ambiente aqui é muito bom’, diz vendedora mais antiga do Goianão

A vendedora Hilda Alves da Silva, de 57 anos, é a mais antiga no Goianão. Antiga coordenadora pedagógica, ela passou por um tempo desempregada e decidiu trabalhar no local por indicação de uma vizinha. O que era para ser temporário, no entanto, se tornou emprego fixo há 18 anos.

“Fiz muitas amizades aqui. O pessoal é bacana, o ambiente e tem clientes muito bons, então, é uma terapia. Temos almoço também e horário para o café da tarde. Eu passei por muita coisa aqui, até incêndio nós enfrentamos. Mas tá tudo certo, o Corpo de Bombeiros fez um projeto. Aqui nem chamava Goianão, era dividido e o nosso lado se chamava Goiânia Fashion. E espero um dia que aqui cresça de novo, porque merece”, finalizou.

Foto: Marcos Ermínio/Jornal Midiamax

Serviço

O Goianão fica localizado na avenida Coronel Antonino, n° 3.484, no bairro de mesmo nome.

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