Cada vez mais comuns e fazendo a cabeça, literalmente, dos sul-mato-grossenses, as tranças africanas transmitem valores culturais e podem ser feitas com material sintético em vários formatos, rentes à cabeça ou soltas, que permitem experimentar diferentes estilos de cabelo e cores. Nagô, twist e box braids são algumas das opções.

A habilidade de ser trancista corre nas veias da família de Gisele Camargo, com 45 anos, há pelo menos três décadas. A experiência vem de família, da tia Valquíria, já falecida, mas que ensinava a arte aos nove sobrinhos, incluindo Gisele com 13 anos, quando passavam as férias em São Paulo. 

“Minha tia ensinou a todas as sobrinhas da minha geração, ela deixou um legado para todos da família, onde a maioria é mulher e trancista”, relembra Gisele.

Para divulgar o trabalho, Gisele fazia anúncios em jornais e lista telefônica, panfletagem e também procurava abordar mulheres negras em terminais de ônibus para falar sobre o serviço. “Acredito que [o trabalho de trancista] era pouco visto antigamente. Desde que comecei a trançar atendia clientes e assim pude fazer de trancista minha profissão”, ela conta. 

Empoderamento deu liberdade às tranças

Gisele vê que hoje a aceitação do cabelo é maior devido ao empoderamento que deu liberdade para as pessoas abraçarem a própria imagem, especialmente no ambiente das redes sociais, com muitas referências de cabelo e cor de pele. 

Valor do trabalho de Gisele varia de R$ 50 a R$ 700. (Foto: Arquivo Pessoal)

O perfil dos clientes varia, são homens e mulheres de 7 a 60 anos de idade, inclusive pessoas brancas. “Vejo aqui a exposição e divulgação da nossa cultura [negra], aceita por pessoas que não são da nossa cor”, descreve a trancista.

O preço inicial do serviço prestado por Gisele é de R$ 50 a R$ 700 a depender do que será feito, como:

  • Boxbraids;
  • Fulani braids;
  • Dreads;
  • Tranças boxeadora;
  • Tranças mandrake;
  • Tranças stick; 
  • Entrelaçamento; 
  • Crochê braids; 
  • Twist;
  • Tranças nagô; 
  • Frizadinho; 
  • Trança nina.

Trança muda o visual, mas não esconde raízes

Já na geração de trancistas que entraram no ramo recentemente, Rebeca Pereira de Sousa, de 22 anos, vê com orgulho que as pessoas procuram trançar o cabelo para mudar o visual, em busca de algo diferente, e não mais para esconder as raízes. “Até um tempo atrás as pessoas faziam progressiva ou relaxamento por medo do volume ou curvatura do cabelo e é lindo de se ver que a maioria está voltando ao seu natural. Me sinto privilegiada em trabalhar nessa profissão”, ela conta.

A jovem trabalha há três anos na área e acrescenta que entre os benefícios de colocar tranças está o aceleramento do crescimento do cabelo e praticidade para o dia a dia.

Tranças africanas podem ser feitas em diferentes formatos. (Foto: Arquivo Pessoal)

Rebecca tomou interesse pela técnica depois que tentou trançar o próprio cabelo com a ajuda de amigas. “No começo não foi nada fácil aprender a fazer. Eu tive o interesse porque quis fazer em mim para mudar um pouco. Duas amigas minhas fizeram em mim e demoram dois dias. Com o passar do tempo quis fazer de novo, mas elas não quiseram porque ficaram traumatizadas com o tempo, então fiz em mim e gostei”, relembra a trancista sobre o começo.

Depois desse dia, ela começou a treinar e confessa que demorou meses para aprender a fazer corretamente, mas depois que deu certo começou a trabalhar na área, em 2019. “Pelo que eu saiba, eu sou a única trancista da minha família, mas em relação aos meus ancestrais com certeza posso ter tido alguém”.

A maior parte do público é de mulheres com todas as curvaturas de cabelo e meninos cacheados. “Amo meu trabalho e todos que gostam e querem fazer estou atendendo”, finaliza. Os valores cobrados pela trancista variam de R$ 25 a R$ 500.

Para os interessados em conhecer o trabalho das trancistas, o Instagram da Rebeca é @queen_black_ms e da Gisele é @camargotrancas