#CG123: ‘Dublês de rico’? Moradores do interior revelam o que pensam sobre Campo Grande e os campo-grandenses

Afinal, o que pensam dos campo-grandenses as pessoas que são das outras cidades de MS ou de fora do Estado?

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Campo-grandenses
Avenida Afonso Pena em Campo Grande – (Foto: Marcos Ermínio/Midiamax)

Se os próprios campo-grandenses já se criticam, quem não nasceu na Capital de Mato Grosso do Sul tem menos dificuldade ainda para julgar ou detonar a cidade. São muitos os motivos que levam sul-mato-grossenses de todos os cantos a se mudarem para Campo Grande, e é lógico que essas pessoas, que vêm de culturas diferentes, formam sua opinião sobre a cidade morena e o povo local.

“Cara fechada”, “Não dão bom dia” e “Não cumprimentam” são algumas das considerações mais famosas e reproduzidas pelos próprios campo-grandenses, que confirmam as teses.

Em 123 anos oficiais de história, completos no próximo dia 26 de agosto, foi essa a fama que a população de Campo Grande conquistou. Difícil é achar alguém natural da cidade que não concorde. Mas, e os moradores do interior de MS? E os que nasceram em outras cidades e se mudaram para a Capital? Qual visão eles têm sobre Campo Grande e as pessoas deste lugar?

O Jornal Midiamax conversou com quem veio de fora ou ainda está em sua cidade, mas recorre à Campo Grande com frequência. Sem papas na língua, eles abriram o jogo e contaram suas opiniões.

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Muitas pessoas vêm para Campo Grande em busca de trabalho – (Foto: Marcos Ermínio/Midiamax)

Opinião do corumbaense: ‘nem vizinho fala com a gente’

Anderson Rocha, de 28 anos, é vendedor. Ele se mudou de Corumbá para a Capital há 3 anos em busca de oportunidades. “Tava muito difícil lá em Corumbá. Deixei família, deixei tudo, porque falaram que aqui tinha mais chances de emprego, e deu certo. Com duas semanas que eu tava aqui, já consegui trabalho nessa loja e vou completar três anos agora em dezembro”, comenta.

Quanto às diferenças entre o povo e a sociedade de maneira geral, o vendedor destaca. “É muito diferente, não tem nada a ver corumbaense com Campo Grande. Os campo-grandenses são um povo meio esquisito. Em Corumbá todo mundo é amigo, todo mundo se conhece, se cumprimenta… aqui não tem nada disso, nem vizinho fala com a gente direito”, inicia ele, ponderando que há exceções, mas, em termos gerais, é como avalia as pessoas.

“Lá, se você precisa de uma ajuda é mais fácil, aqui é cada um com as suas próprias pernas. Tanto que minhas amizades daqui são todas de Corumbá, pessoal que mora perto, que veio pelo mesmo motivo. Tem muito corumbaense em Campo Grande e todo mundo pensa igual, que o povo daqui é estranho, não gosta de conversar, que falta gentileza às vezes… mas como cidade, a estrutura é incomparável, de oportunidades, de vida mesmo, tanto que tô aqui até hoje e não para de vir gente de lá”, reflete o trabalhador.

Apesar de não entender muito bem o comportamento dos campo-grandenses, o corumbaense se diz agradecido por tudo que Campo Grande proporcionou e nem pensa em ir embora. “Agradeço demais. Não importa muito o jeito das pessoas, jeito é jeito. O que importa mesmo é que aqui é um bom lugar pra morar. As pessoas a gente conquista com o tempo ou elas conquistam a gente”, finaliza.

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Rua 14 de Julho é polo dos empregos em Campo Grande – (Foto: Marcos Ermínio/Midiamax)

O baiano e a bonitense que vieram de Anastácio

A história do casal Laudemiro, de 83 anos, e Matilde, de 74, é diferente. Ela é de Bonito e ele nasceu na Bahia, mas construiu sua vida em Mato Grosso do Sul. Juntos, os dois saíram de Anastácio em 2007, há 15 anos, e o motivo da vinda para Campo Grande está atrelado, principalmente, à saúde.

Com frequência, Matilde era encaminhada por seus médicos para realizar exames na Capital. Havia gasto com deslocamento, além da ausência de uma moradia para passar os dias necessários longe de casa. Foi aí que o casal tomou a decisão de se mudar e fixar residência em Campo Grande.

“A gente tava mais aqui do que lá. Toda vez que vinha tinha que ficar em casa de parente, às vezes, vários dias, então procuramos uma casa pra morar. Vendemos as casas que tínhamos em Anastácio pra comprar e reformar essa aqui. Procuramos muito em vários bairros e foi difícil achar”, contam ao MidiaMAIS.

matilde e laudemiro são quase campo-grandenses
Matilde e Laudemiro estão juntos há 55 anos e são felizes em Campo Grande – (Foto: Arquivo Pessoal)

O problema foi que a mudança fez os dois ficarem a alguns quilômetros de distância das filhas. “Eu voltaria pelas meninas. Ele não”, afirma Matilde. Mas Laudemiro, que curte a independência de sua locomoção por meio dos ônibus do transporte coletivo de Campo Grande, não troca essa liberdade. “Se eu tivesse um carro, voltaria. Por que eu vou deixar meu meio de transporte aqui pra voltar pra Aquidauana pra comer poeira dentro de casa?”, diz ele.

Sidrolandense gosta dos shoppings, mas acha campo-grandenses ‘fechados’

A família da artesã Sônia Oliveira vem quase toda semana de Sidrolândia para a cidade morena, já que é na Capital que ela abastece o estoque para produzir suas peças. Junto com os filhos e o marido, a mulher de 44 anos diz já estar acostumada com Campo Grande, e faz suas avaliações.

“A gente adora ir ao shopping, às vezes, vêm só pra dar um passeio, comprar uns materiais. A variedade é muito boa. É bom vir lanchar, as crianças gostam… cinema também. É gostoso”, inicia, comentando que também recorre à Capital para realizar consultas médicas e exames.

“Precisa muito, médico não tem jeito. Pelo menos umas três vezes por mês sobe todo mundo no carro e a gente vem. Tem uma parte da minha família morando em Campo Grande, então as idas também são pra matar um pouco da saudade”, relata a artesã.

saúde santa casa
Santa Casa de Campo Grande é referência para todo o Estado – (Foto: Marcos Ermínio/Midiamax)

E quanto aos campo-grandenses? “É complicado, porque é diferente. A gente viaja pra tudo que é canto, conversa com as pessoas, mas Campo Grande é diferente mesmo. É um povo mais fechado, menos interessado. Acho que as pessoas são cansadas pela rotina de cidade grande, e aí acaba faltando um pouco de calor humano. Em toda parte… se você vai em outra cidade, não é assim”, conclui Sônia.

Por que as pessoas vêm para Campo Grande?

As razões que levam um sul-mato-grossense a visitar Campo Grande, com frequência ou não, ou simplesmente a se mudar para a Capital, são sempre muito semelhantes.

Além dos relatos acima, o Jornal Midiamax conversou informalmente com outras diversas pessoas que se encaixam nesses perfis. Abaixo, elencamos as motivações que trazem os interioranos para a cidade morena mais repetidas nos depoimentos.

1. Quem mora no interior adora os shoppings campo-grandenses

Centros comerciais voltados para o lazer e compras gerais, os shoppings de Campo Grande são o principal atrativo para quem vem fazer uma visitinha. Mesmo que não tenha nada de novo, quem vem de fora adora dar uma passadinha e bater perna nesses locais é quase indispensável, seja pela praça de alimentação, supermercados, lojas ou cinema.

2. Rede de atendimento médico traz muita gente do interior

Tratamentos médicos, consultas e exames em geral. É unânime que Campo Grande oferece o maior suporte à saúde em Mato Grosso do Sul, o que leva gente de todo o Estado a se deslocar com frequência ou até mesmo se mudar para ficar mais perto do auxílio médico.

SHOPPING CAMPO GRANDE
Campo-grandenses ou não, todos são loucos pelos shoppings de Campo Grande – (Foto: Marcos Ermínio/Midiamax)

3. Acredite: opções campo-grandenses de compras são legais

As compras não estão restritas aos shoppings e também foram muito mencionadas pelos entrevistados. A Capital conta com a maior variedade de atacadistas, onde os preços costumam ser mais em conta, e isso traz pessoas dos quatro cantos de MS para a cidade. Além dos atacadistas, Campo Grande também conta com uma variedade dos mais diversos tipos de comércio segmentados, que, da mesma forma, atraem os interioranos.

4. Não adianta reclamar: em MS, todo mundo tem campo-grandenses na família

Todo mundo tem algum parente que mora em Campo Grande. As visitinhas recorrentes também acontecem para matar a saudade dessas pessoas especiais. Muitos adolescentes que moram no interior adoram o período de férias para visitar os parentes campo-grandenses, chatos ou não, e passearem na Capital.

5. Resolver problemas

Campo Grande não é só a Capital de Mato Grosso do Sul, mas também a Capital da resolução dos problemas no Estado. Isso se deve ao quase infinito leque de possibilidades oferecidas. Peça de carro? Tem em Campo Grande. Conserto? Campo Grande. Oculista e óculos novos? Campo Grande. E por aí vai…

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Afonso Pena, a principal avenida de Campo Grande – (Foto: Marcos Ermínio/Midiamax)

Campo-grandenses são “dublês de rico”?

Se mudar do interior para a Capital é um bom negócio? A dúvida paira sobre muitos sul-mato-grossenses que têm uma espécie de “sonho americano” quanto à Campo Grande, buscando melhores oportunidades e condições de vida no principal centro de Mato Grosso do Sul. Mas o que alguém que pensa em viver na Capital dos Ipês precisa saber antes de tomar essa decisão?

Disposto a descobrir como é residir na Cidade Morena na prática, pela boca dos próprios campo-grandenses e de quem passou pela experiência de sair do interior, um morador de Ponta Porã tomou coragem e perguntou.

Em publicação no famoso grupo “Aonde ir em Campo Grande – O Legítimo”, o rapaz indagou: “Queria saber se em Campo Grande é bom morar. A qualidade de vida é boa?”

Post deu o que falar entre o campo-grandenses - (Foto: Aonde ir em Campo Grande/Reprodução)
Post deu o que falar entre os campo-grandenses – (Foto: Aonde ir em Campo Grande/Reprodução)

Muita gente se dispôs a responder o sul-mato-grossense curioso sobre a capital morena e as inúmeras opiniões e recomendações da cidade podem ser capazes de arrancar boas gargalhadas dos mais bem-humorados.

“Cidade dos dublês de rico, com seus iPhones comprados em 24 vezes, copos Stanley e suas 4 Heineken no rolê inteiro… mas tirando isso, é uma ótima cidade”, comentou um morador.

“Você conhece seta de carro? Conhece bom dia, boa tarde e boa noite?”, brincou um campo-grandense, fazendo referência à má fama de Campo Grande sobre o trânsito e a “cara fechada”.

Outra moradora já foi mais direta e delatou a cidade para o interessado. “É bom, as paisagens são lindas. De preferência, more em um bairro não tão longe do centro, mas nem tão afastado da cidade. O único problema é o pessoal que se acha a última bolacha do pacote, os(as) cornos(as) que não querem aceitar o que são, os(as) talaricos(as) etc.”, disse ela.

“Se você é mal-humorada, não quer ter contato com vizinho, gosta de ser mal atendida no comércio e, de quebra, ser roubada à luz do dia ou ser atropelada por um bêbado a qualquer momento, aqui é o paraíso pra você. Seja bem-vinda”, disparou outro.

Campo Grande vista de cima. - (Foto: Marcos Ermínio/Jornal Midiamax)
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Campo Grande vista de cima – (Foto: Marcos Ermínio/Jornal Midiamax)

Na contramão do tom de brincadeira, alguns se mostraram bem carinhosos e apaixonados pela cidade onde vivem. “Amo Campo Grande, uma cidade acolhedora, bem arborizada, comida deliciosa e pessoas especiais. Adotei esta cidade de coração. Cidade muito abençoada, tenho só gratidão por morar em Campo Grande”, comentou Maria José Santanna.

“Sou de Anastácio, há 12 anos morando aqui. Não tenho do que reclamar, pelo contrário. Saí da minha cidade praticamente só com a roupa do corpo e aqui conquistei casa, carro, moto… Todo início é difícil, principalmente quando se trata do desconhecido, mas se você for uma pessoa que corre atrás dos seus sonhos, aqui é uma ótima cidade. Desejo sorte e se precisar de algo, pode contar comigo”, declarou outro morador.

Vale a pena se mudar para Campo Grande?

Depois de tantas opiniões, a dúvida que fica é se o dono do post decidiu se vai ou não se mudar, e se os comentários o ajudaram a chegar a alguma conclusão. Houve até quem recomendasse que ele fosse até a Capital tirar suas próprias impressões. O MidiaMAIS tentou contato com o rapaz para saber o que ele achou da repercussão, mas não obteve sucesso.

A tirar pela publicação e pela opinião dos próprios moradores, o problema de Campo Grande é mesmo “o povo”. De forma predominante, as maiores e principais reclamações são sobre “as pessoas”.

A máxima do “eu sou daqui e por isso posso falar mal, quem não é, não tem esse direito”, parece não valer para a Capital. Todo mundo critica e detona, sem perder o amor e o carinho pela cidade. “É sobre isso… e tá tudo bem”.

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