Arlequina, Wanda e Round 6: o quanto a Cultura Pop dita o Halloween?’
O MidiaMAIS convidou pesquisadores para explicar o impacto da cultura pop no Halloween e qual a dimensão dessa celebração se não fosse pela produção de massa
Nathália Rabelo –
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Vamos supor que você tenha uma festa de Halloween e a primeira coisa a ser feita é pensar numa fantasia bacana para usar. Quais são as primeiras ideias que vem à sua mente? Algum personagem de filme favorito? Uma série que está todo mundo falando? Ou quem sabe aquele herói de quadrinhos que todos amam? As opções são infinitas, mas será que elas são tão independentes assim?
Afinal, o quanto a Cultura Pop influencia no Halloween, seja por uma ótica mundial, nacional e até mesmo pensando no cenário de Campo Grande? São muitas perguntas, então continue a leitura para descobrir as respostas.
O dia mais horripilante do ano chegou. Hoje, 31 de outubro, é celebrado o famoso Dia das Bruxas e disseminado pela ‘gringa’ como Halloween. Apesar de historiadores apontarem que a tradição surgiu pelos celtas e continuou sendo celebrada na Idade Média, a verdade é que o país mais famoso por viver a essência dessa festividade é os Estados Unidos nos dias atuais.
No entanto, também se disseminou para outros países, como é o caso do Brasil. Dessa forma, essa celebração começou a ser mais forte nos últimos anos e, cada vez mais, conquista novos adeptos.
Entenda essa relação
Tendo em vista que o Halloween só tem graça se você se transformar em outra pessoa com fantasias, é notório perceber o quanto esses personagens são, na grande maioria, integrantes da Cultura Pop. Como esquecer do hype da Arlequina após o lançamento do primeiro filme de Esquadrão Suicida, em 2016?
O sucesso foi tão grande que até hoje a procura pela fantasia é alta. O mesmo aconteceu com a Wanda, a Feiticeira Escarlate da Marvel, após a série Wanda Vision. Como explicar o triunfo das fantasias de La Casa de Papel e Round 6, outros fenômenos que não saíram da boca do povo por meses?
Há também aqueles personagens clássicos que nunca saem de moda e, independente de qual festa você for, com certeza encontrará alguém seguindo alguma dessas referências: Marilyn Monroe, David Bowie, Mario Bros, Elvis Presley e outras personalidades que se consagraram como verdadeiros símbolos da indústria cultural.
Halloween chegou ao Brasil pela Cultura Pop
Frente a isso, o MidiaMAIS convidou dois pesquisadores sobre o assunto para explicar qual é o impacto da Cultura Pop no Halloween e, acima de tudo, qual seria a dimensão dessa celebração se não fosse pela produção de massa.
Soraya Madeira da Silva é professora do curso de Publicidade e Propaganda na UFC (Universidade Federal do Ceará) e mestre em Comunicação. O outro pesquisador é Pedro José Arruda Brandão, publicitário e professor da universidade UniFanor. Tem mestrado em Comunicação e especializado em HQ’s e podcasts.
Vale ressaltar que ambos afirmam existir um peso – e bem grande – da Cultura Pop no Halloween especialmente porque, na hora de escolher uma fantasia, as pessoas recorrem ao que elas conhecem. Assim, permite que as pessoas tenham conteúdo para incluir na celebração.
“Muitas vezes são personagens pertencentes às histórias que permeiam a gente por meio da Cultura Pop. Sem falar que a própria festa de Halloween se tornou algo muito da Cultura Pop […] Ela dá conteúdo pra gente comemorar o Halloween, ela dá essas obras e esses personagens que vão influenciar não só o Brasil, mas o mundo como um todo”, diz Soraya.
Enquanto isso, Pedro complementa que a própria festa se disseminou no país por causa da Cultura Pop.
“A própria ideia de Halloween no Brasil é importada dessa cultura, porque foi divulgada pelo mundo por meio de filmes, séries, quadrinhos e games […] O Halloween é mais recente pra gente, principalmente impulsionado pelas gerações mais jovens que são profundamente influenciadas pelas sitcoms dos anos 90 e assim por diante”, comenta o comunicador.
Halloween em Campo Grande
Não é preciso andar muito para perceber que essa ‘coexistência’ permeia o comércio de Campo Grande. Dias antes do Halloween, a gente conheceu três lojas especializadas em fantasias. Em todas, as vestimentas de personagens são sucesso de vendas e aluguéis.
Segundo Patrícia dos Santos Andrade, dona do empreendimento na Rua Maracaju, as pessoas querem muito fantasias de bruxas, vampiros e piratas. Outra preferência é por palhaços, especialmente após o filme de terror ‘It – A Coisa’, adaptação do livro de Stephen King.
“A gente procura sempre novidades, a gente manda fazer a fantasia quando sai um filme, uma série. A gente dá uma olhada no que está na moda E tem também aquelas que nunca saem de moda, como super-herói, pirata, marinheiro e policial”, diz Andrade.
André Morato, gerente de outra loja na Rua José Antônio, afirma que muita gente está procurando a fantasia do Sandman esse ano. A série foi lançada em agosto e foi um verdadeiro hit na Netflix.
No local, outros personagens que continuam no hype são Harry Potter, caracterização dos anos 60, super-herói e palhaço It.
“Quando La Casa de Papel lançou, teve muita procura pela fantasia, daí parou. Ai agora saiu uma nova temporada e começou de novo a procura. Por causa desse novo filme, Top Gun também teve muita procura. O pessoal vai acompanhando o que está na mídia e vem atrás. Muitas vezes a gente não consegue a roupa por causa dessa velocidade de produção, mas a gente sempre tenta”, explica André.
Hype da Arlequina ainda não acabou
Enquanto isso, em outra loja de fantasias, dessa vez na Rua 14 de Julho, o que não sai das araras são as fantasias de Arlequina, Malévola e Pânico.
“A fantasia que tá saindo muito ainda, apesar de não ser tão de Halloween, é a de Round 6. La Casa de Papel também não parou de sair. E tem aquelas que todo ano tem gente que procura, tipo Pânico, Arlequina, esqueleto e Malévola”, comenta Ana Carolina Horário, supervisora de vendas.
Ou seja, é notório perceber o quanto essas mega produções de filmes e seriados têm peso nas festas de Halloween do mundo todo, incluindo a Capital de Mato Grosso do Sul. Além disso, todos os entrevistados afirmam que a procura pelo Halloween é recente na cidade e os números aumentaram ainda mais em 2022.
Se complementam, mas não são a mesma coisa
Apesar de Cultura Pop e Halloween se complementarem, são propostas distintas. Enquanto a primeira é uma produção cultural ligada ao capitalismo, a festa está vinculado a essa dinâmica.
“Se a gente for falar de festas vinculadas à Cultura Pop, a gente tem todo ano uma centena de milhares de filmes relacionados ao Natal, por exemplo, que também é uma comemoração bastante vendável, ligada ao capital [dinheiro]”, destaca Pedro.
Nessa lógica, nota-se que as mídias mais influentes são justamente as que mais recebem investimentos financeiros, ou seja, filmes, séries e produtos audiovisuais.
“O audiovisual vem divulgando essa comemoração do Dia das Bruxas de forma muito vendável e isso acabou sendo assimilado na nossa cultura importadora desses fenômenos. Halloween vem de fora, então os filmes e as séries fazem isso, até porque são essas mídias que possuem maior investimento de divulgação”, pontua o pesquisador.
Além do mais, Soraya complementa afirmando que essas produções vagam por diferentes mídias, a exemplo quando um livro vira filme e assim por diante.
“Os personagens vão migrando. Todas essas mídias influenciam em seu determinado grau. Se há um viés financeiro e mercadológico por trás da produção desses filmes e séries, isso significa que essas obras são produzidas visando o lucro. Se elas visam o lucro, precisam ter uma grande audiência. É um raciocínio de produção capitalista na cultura”.
Existiria Halloween sem a Cultura Pop?
Depois de tudo isso abordado até aqui, é possível imaginar a existência do Halloween sem a Cultura Pop? Nesse ponto, os entrevistados discordam. Soraya, por exemplo, acredita que sim a partir de fantasias mais genéricas e que não fazem referência direta a um personagem.
“Dá demais pra imaginar o Halloween sem a Cultura Pop, seja por questões criativas de querer ir para outros rumos, seja por tempo ou falta de dinheiro que faz com que as pessoas produzam suas próprias fantasias”, diz ela.
Pedro, no entanto, segue por outra linha de raciocínio e afirma não ser mais possível fazer essa ruptura.
“Um Halloween sem Cultura Pop é nosso carnaval. Que é a ideia do fantasiar: a gente poder ser outra coisa. A válvula de escape que a gente tem numa sociedade profundamente vinculada a costumes até certo ponto conservadores. No carnaval a gente desliga isso, a gente vai pra esbórnia. Já o Halloween tem essa característica da fantasia, do teatro, das máscaras. A Cultura Pop foi a grande emissora dessa do Halloween no Brasil e, por ter sido misturada essas duas coisas, não dá pra diferenciar uma da outra”.
Efeito manada: dá certo o que dá dinheiro
Por que, então, esses personagens da Cultura Pop são tão requisitados? Para a ciência, é porque são produtos ligados a inúmeras estratégias de marketing. No mundo capitalista, o que dá certo é o que dá dinheiro.
Não é à toa que, recentemente, até mesmo Jeffrey Dhamer – o canibal norte-americano que virou série da Netflix – se tornou uma fantasia ‘desejo’ para o Halloween, trazendo à tona uma problemática que vai muito além de uma mera referência estética.
“As pessoas se identificam com os personagens por uma variedade de fatores, então essas histórias também têm essas conexões e quando elas causam conexões, elas despertam esse desejo de querer se vestir igual determinado personagem”, explica Soraya.
Citando Titãs, Pedro ainda reforça que a Cultura Pop é só mais um produto do modelo capitalista em que vivemos e que as pessoas, no fim de tudo, só querem ‘comida, diversão e arte’.
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