Após 28 anos, professor volta para dar aulas na mesma escola onde estudou: ‘Turbilhão de emoções’
Docente há 15 anos, é mais um a realizar o sonho da mãe, D. Eunice, que sempre sonhou ser professora. São ao todo 8 filhos, todos de origem humilde, formados e com especialização.
Graziela Rezende –
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Professor, irmão de professores. Todos de origem humilde, que sempre estudaram em escolas públicas e chegaram aos mais altos níveis do estudo, ou seja, fazendo pós-graduação, mestrado e até doutorado. Um deles é Ovídio da Conceição Batista Júnior, de 45 anos. Docente há 15 anos, é mais um a realizar o sonho da mãe, D. Eunice, que sempre sonhou ser professora. Em 2022, a vida ainda trouxe um presente a mais: Ovídio retornou à mesma escola onde fez todo ensino médio e, na mesma sala de aula, agora ensina aos alunos que os planos podem dar certo, basta ter dedicação e escolher o “caminho do bem”.
“Sou analista de sistemas e tenho uma paixão chamada docência. Trabalho com cursos técnicos, então, são escolas que os alunos também têm as bases técnicas e eu transito na parte de marketing, gestão e responsabilidade socioambiental. Neste ano, estou com uma turma de 21 alunos, do ensino médio, na mesma escola e sala de aula onde eu estudei, que é a Escola Estadual Hércules Maymone. A última vez que estive lá foi em 1994 e agora voltei como professor. Foi um turbilhão de emoções”, afirmou Ovídio ao MidiaMAIS.
Segundo o professor, o sentimento aflorou no momento em que ele foi entrando na escola, em uma tarde de sexta-feira. “Cheguei e estava conversando com eles [alunos], fazendo uma contextualização de carreira, principalmente porque acho importante eles saberem a trajetória dos professores, quando me dei conta do que estava acontecendo. Fiquei emocionado, mas, segurei e continuei dando a aula. Acho que comecei a entender todo o contexto da educação em si”, argumentou.
De origem humilde, Ovídio conta que sempre estudou em colégios públicos. “Fiz o mestrado na UEMS [Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul] e agora o doutorado na UFMS [Universidade Federal de Mato Grosso do Sul]. Toda a minha trajetória foi assim. Comecei lá no Vidal Roma, uma escola nas Moreninhas, depois fui para outra no Vilas Boas, para o Clarindo Mendes de Aquino, perto do aeroporto e, por último, no Nova Lima e depois o Hércules Maymone”, contou.
‘Pessoa que está aqui não é alguém pronto e sim em construção’, fala professor
Agora, enquanto professor, ele diz que ministra aulas com a “mesma paixão” que os professores, da época dele, davam aulas. “É algo que eu repito mesmo por ser uma emoção muito grande. Atuar na mesma escola onde eu fui aluno, contribuir com os alunos é muito legal. É aquela coisa de não citar exemplos porque você é o exemplo. E aí eu conto histórias que vi na minha vida, de outros professores, acho legal falar para eles: ‘Olha, a pessoa que está aqui não é alguém pronto e sim em construção’. Não falo que sou o exemplo, mas, uso a minha história para dialogar com eles”, argumentou.
Além de Ovídio, todos os sete irmãos são formados e possuem alguma especialização. “Temos uma longa carreira de professores na família, então, mais uma vez, é possível a pessoa ter origem humilde e fazer todo o percurso na escola pública, chegando aos níveis mais altos da formação. E fazer isso na carreira que mais desejar. No meu caso, tenho o sonho de envelhecer em uma sala de aula, como docente em uma universidade, seja ela pública ou particular”, ressaltou.
Mãe reunia 8 filhos para fazerem ‘tarefa de casa’, relembra professor
Atualmente, Ovídio diz que o pai já faleceu, porém, ele compartilha com a mãe as alegrias de ser professor. “Ela não conseguiu [ser professora] pelas circunstâncias da vida, porém, se realizou nos filhos. Minha mãe tinha uma didática que, nas férias, a gente não saía para brincar antes de terminar a tarefa que ela fazia, uma tarefa que ela estudava antes o livro dos oito filhos e fazia depois, então, nós tínhamos o caderno de casa, com uma tarefa de casa também. Só depois de tudo pronto é que podia brincar”, relembrou ao MidiaMAIS.
Na época, Ovídio fala que a mãe reunia todos os filhos e os fazia estudar, desenvolvendo o gosto pela leitura. “Isso não nos causou nenhum trauma, muito pelo contrário, nos fez gostar ainda mais de ler. E não fazer a tarefa dela era pior do que a da escola. E tinha um único motivo para apanhar: quando a professora mandava bilhete falando que a gente não tinha feito tarefa. Aí tinha castigo, ela cortava o lazer mesmo”, brincou.
Já o pai, ainda de acordo com o professor, era aquela pessoa que conversa bastante e “mantinha os irmãos na linha”. “Ele dizia que a gente era livre para fazermos as nossas escolhas, nunca nos obrigou a nada. Só que conversava bastante. Quando eu passei a estudar marketing, lembro que minha mãe não sabia nem falar a palavra e perguntou para os meus irmãos: ‘O que é isso que ele está fazendo mesmo?’ Aí eles explicavam que era uma faculdade e ficou tudo certo. Eu cresci no caminho do ensino. Só faça sua escolha e vai”, finalizou.
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