A importância da violeira Helena Meirelles para a história da cultura sul-mato-grossense é imensurável. Com um legado único, Helena completaria 97 anos nesta sexta-feira 13 de agosto. Curiosamente, a dama da viola veio ao mundo justamente em uma sexta-feira 13, em agosto de 1924. 

Helena Meirelles nasceu em Campo Grande, capital do atual Mato Grosso do Sul, mas a família logo se mudou para uma fazenda no município de Bataguassu, no interior do Estado. Em entrevista à Folha de São Paulo, em janeiro de 1994, ela comentou o longo período em que foi dada como morta por seus parentes.

“Até há três anos (1991), ela era dada como desaparecida. Sua família se comprazia num equívoco, o de que Helena havia sido morta numa pândega (festança), pelas mãos de um peão ensandecido. Ela foi encontrada numa praça da cidade de Piquerubie (MT), tocando sozinha, por propósitos indecifráveis. Seu sobrinho, Mário de Araújo, 42, tratou de recuperá-la. E há cinco meses enviou à revista “Guitar Player” uma fita demo, com Helena embravecendo sua viola caipira. Ela ganhou o prêmio de melhor guitarrista do mês nos EUA”, diz o trecho do texto redigido por Cláudio Júlio Tognolli.

Violeira em frente a uma casa que ganhou em Presidente Epitácio (Foto: Ricardo Ojeda)

Depois de desaparecer por mais de 30 anos, a violeira foi encontrada bastante doente por uma irmã, que a levou para São Paulo, onde foi “descoberta pela mídia” a partir de uma matéria na revista estadunidense “Guitar Player”. Foi escolhida em 1993 pela Guitar Player como uma das “100 melhores instrumentistas do mundo” por sua atuação nas violas de 6, 8, 10 e 12 cordas.

Mato Grosso do Sul reconhece a música de Helena como expressão das raízes e da cultura da região. Em dezembro de 2019, a cidade de Bataguassu, onde Helena viveu seus primeiros anos, inaugurou o Museu Helena Meirelles. “O Museu Helena Meirelles é um marco para o município de Bataguassu, pois além de atrativo turístico, ele ainda preserva a cultura do nosso povo. Além disso, o espaço ainda poderá ser utilizado para realização de exposições permanentes e temporárias, estudos, pesquisas e oficinas que compõem projetos de educação patrimonial nas escolas”, disse a – na época – presidente da Fundação de Cultura, Mara Caseiro.

Entrada do museu em Bataguassu (Foto: FCMS)

O museu na cidade é apenas uma das formas de manifestação de respeito e honraria à personalidade única. “Várias são as justificativas para homenagear Helena Meirelles. O fato de ser mulher, sul-mato-grossense, violeira e, apesar da vida rude, no sertão, no meio do pantanal e junto à peonada, foi capaz de escutar seu coração e optou por fazer o que amava: tocar viola e viver de sua arte”, opina Zito Ferrari, da Assessoria Especial de Gabinete da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul, ao Jornal Midiamax.

“Reconhecida mundialmente, sem um dia ter sentado em uma cadeira escolar, somente aprendeu a escrever o seu nome para autografar seus discos. Mato Grosso do Sul devia uma homenagem a essa grande mulher que levou nas cordas da viola o nome do Estado em que nasceu”, afirma Zito ao MidiaMAIS.

Dama da viola posando ao lado de foto promocional (Foto: Ricardo Ojeda)

A violeira nata só se apresentou pela primeira vez aos 67 anos em um teatro, e gravou discos logo em seguida. Em 2012, foi incluída na lista 30 maiores ícones brasileiros da guitarra e do violão (Categoria: Raízes Brasileiras) da revista Rolling Stone Brasil.

Com 14 anos de carreira, Helena gravou quatro albuns:

  • 1994 – Helena Meirelles
  • 1996 – Flor de guavira
  • 1997 – Raiz pantaneira
  • 2002 – Ao vivo (também conhecido como De volta ao Pantanal)
  • 2004 – Os bambas da viola (compilação com um tema de Helena Meirelles)
Capa do álbum Helena Meirelles Ao Vivo, de 2002

Foi tema de dois filmes:

  • Helena Meirelles – A Dama da Viola (2004), direção de Francisco de Paula;
  • Dona Helena (2006) – direção de Dainara Toffoli.

Faleceu em Campo Grande, aos 81 anos, no dia 28 de setembro de 2005, em consequência de uma parada cardíaca, vítima de um quadro de pneumonia crônica. Quase 16 anos após sua morte, a artista segue sendo lembrada e seu legado permanece em constante difusão para as mais novas gerações.

Helena foi e ainda é um ícone para MS