Desde que a se alastrou por Mato Grosso do Sul, em março de 2020, muitas vidas foram levadas pela doença, até então desconhecida. Na época, a possibilidade da vacinação em massa era quase inexistente e tudo o que as pessoas podiam fazer — além das medidas de segurança — era torcer para não serem os próximos alvos. Em um cenário cheio de tristezas e mortes, existem aqueles casos considerados milagres que nem a ciência consegue explicar. 

É o que aconteceu com o empresário Ricardo Gabriel Espíndola, de 54 anos. Com 90% do pulmão comprometido pelo vírus, ele lembra de tudo que viveu desacordado no coma e recorda da sua experiência de ‘quase morte'. Mesmo que os dados científicos não consigam explicar o que, de fato, houve durante esse período, é a história desse sobrevivente que vamos contar.

Ricardo ficou de 9 de dezembro de 2020 até março de 2021 internado, transferido entre hospitais para conseguir o tratamento adequado em meio à superlotação que reinava em todas as unidades de saúde de Campo Grande. Nesse tempo, ele ficou em coma por 45 dias, período muito superior ao considerado ‘normal' dentro dos padrões de saúde. 

Desacordado e à beira da morte, Ricardo afirma que lembra de várias experiências espirituais durante o coma e foi ele, por sinal, quem optou por retornar à vida. Minutos depois, em um movimento brusco, ele acordou num piscar de olhos e surpreendeu todos os médicos na ala hospitalar, que já estavam desacreditados da sua sobrevivência.

Mas afinal, o que é ‘experiência de quase morte' e o que ela mostrou a Ricardo enquanto ele estava em coma induzido por causa do vírus? É o que você vai descobrir agora.

Como tudo começou

Ricardo pegou Covid enquanto trabalhava na sua barbearia, após um dos funcionários testar positivo. Com sintomas característicos da doença, ele compareceu ao médico duas vezes em busca de tratamento, mas foi mandado para casa por ser diagnosticado com “nada”. O empresário também foi receitado a tomar ‘Kit-Covid' que, inclusive, continha medicamento amplamente divulgado pelo governo Bolsonaro durante a pandemia, mas que não possui comprovação científica da sua eficácia no combate ao coronavírus. Posteriormente, profissionais de saúde destacaram que a cloroquina, na verdade, foi a responsável por piorar o quadro de Ricardo.

Foi então que, na terceira vez em busca de atendimento, ele desmaiou em uma Unidade de Saúde e foi internado lá mesmo. “Nessa fase eu só me recordo deles me levando de ambulância para o Hospital Regional […] eram tantas as macas que empurraram a minha maca que parecia um jogo de dominó, empurrando uma a outra”, afirmou Ricardo ao Jornal Midiamax.

Ricardo teve Covid
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Foi então que ele acordou no Hospital El Kadri com total inconsciência de quem era, do seu nome, do que fazia e de onde estava. O nível de contaminação era tão alto, que a mente do homem projetou que ele vivia em uma realidade alternativa. Primeiro, achou que estava na lanchonete e que os médicos eram seus funcionários. Depois, imaginou participar de um show em uma clínica de tortura.

Sem melhoras ao longo dos dias, o pulmão de Ricardo estava 90% comprometido pelo vírus e não funcionava mais. A partir deste momento, precisou ser entubado com uma traqueostomia de 10 centímetros para continuar vivo.

“No hospital, o médico dizia que era absolutamente raro uma pessoa com essa quantidade sobreviver”, alega. Ricardo afirma que quase morreu, no entanto, uma experiência única vivida enquanto estava desacordado fez com que abrisse os olhos e recuperasse as forças.

EQM – Experiência de Quase Morte 

O termo ‘Experiência de Quase Morte' refere-se a um conjunto de visões e sensações frequentemente associadas a situações de morte iminente, sendo as mais divulgadas a projeção da consciência, experiência fora do corpo, desdobramento espiritual e assim por diante. Esses fenômenos são normalmente relatados após o indivíduo ter sido pronunciado clinicamente morto ou muito perto da morte, daí a denominação “EQM”. Foi isso que Ricardo alega ter vivido.

“Quando eu acordei [do coma], eu só lembrava de uma coisa: de um sonho que eu tinha tido durante o coma que foi bem longo. Durante esse coma, eu sonhei com o meu guia, o meu orixá Bará, e ele estava em um lugar”, disse.

“Aí ele fez a seguinte pergunta: ‘você quer continuar ou descansar para sempre?'. E eu achei muito interessante porque eu sempre acreditei em reencarnação e ele usou a expressão ‘para sempre'. Quando ele usou a expressão eu disse que não gostei e queria continuar”.

Seguidor da religião africana na época, ele afirma que depois de dar sua resposta, foi enviado para ser curado por seres espirituais na Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro, mas situada nos primórdios da civilização, com montanhas e natureza vasta.

Foi então que a divindade envolveu ele em água. “Ela me envolveu em suas águas geladas e muito rápido, ela me jogou na lagoa […] e tinha outro ser, uma divindade aquática, que falou ‘respira como os peixes' e eu, segurando o ar, soltei e comecei a respirar na água”. Depois disso, Ricardo abriu os olhos no hospital.

Mesmo depois de ter sofrido AVC, trombose no braço e na perna, e ter falência renal, o empresário sobreviveu. “Miraculosamente, eu não precisei sofrer diálise. E uma médica disse que eu acordei do nada”, revelou.

Novas surpresas 

Depois de ter passado pelo pior momento da sua internação, Ricardo ainda precisou lidar com uma notícia extremamente difícil: a morte da sua mãe, por Covid-19, enquanto estava em coma. Sem chances de se despedir, o seu quadro de saúde chegou a piorar por questões emocionais e ele ficou praticamente em estágio vegetativo.

Os pais de Ricardo foram infectados pelo vírus na mesma época que ele. A mãe chegou a ser internada, mas não resistiu e faleceu quando o filho estava desacordado.

“Um dia entrou uma enfermeira muito estranha, com uma roupa toda branca, mas não parecia enfermeira. Ela me disse que minha mãe estava na espiritualidade. Eu virei para a pessoa que estava me acompanhando, uma grande amiga, e ela disse que realmente a minha mãe tinha morrido”, lamentou o empresário.

Depois de todas essas provações, Ricardo finalmente ganhou alta em março de 2021. Com inúmeras sequelas pulmonares, nos olhos, ouvidos e grande dificuldade respiratória, o que marca na memória do homem é o questionamento de por que voltou à vida.

Ricardo se recupera do Covid
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“Por que eu voltei?”

Essa pergunta rondou a cabeça de Ricardo por muitos meses após sair do hospital. Afinal, por que justamente ele foi escolhido para viver quando tudo em seu organismo reagia de forma contrária? Seria pelo motivo de ter pedido para ficar durante sua EQM? Foi por que foi induzido a respirar no ‘plano espiritual' quando não conseguia fazer no universo físico? Para Ricardo, o seu retorno está ligado a uma missão, apesar de não se considerar  missionário, nem estar atrelado a uma religião atualmente.

De acordo com o empresário, a visão de como percebe o mundo e as pessoas mudou completamente. Além disso, afirma ter recebido algumas informações de que o futuro do planeta está na transformação da humanidade, principalmente no quesito da sustentabilidade e evolução da mentalidade humana. Assim, ao entender de Ricardo, a pessoas precisam:

  • Buscar a felicidade pessoal interna;
  • Se alimentarem adequadamente com nutrientes importantes;
  • Dar atenção ao oceano. Uma vez que a vida surgiu nele, é necessário que as pessoas ‘comuns' entendam o que ele faz pela sociedade.

Assim, depois de quase falecer diversas vezes, tomar inúmeras medicações, ter várias infecções paralelas enquanto hospitalizado, como pneumonia e infecção urinária, Ricardo apenas agradece ao universo por sua sobrevivência que lhe rendeu uma grande lição.

“Eu acredito em um futuro bem melhor do que o que a gente está vivendo, espero contribuir de alguma forma para que esse futuro venha e pessoas possam viver felizes, respeitadas, prósperas e sem que isso custe a vida de outros seres, principalmente do planeta. Eu estou me transformando em algo que eu creio que foi um compromisso assumido do lado de lá para o lado de cá”, finaliza o empresário, emocionado com a sua história.