Jesus apaga a luz! Só que não: acende. Lendas típicas do folclore de Mato Grosso do Sul são de fazer qualquer um tremer de medo e arrepiar a espinha. Explorando figuras animalescas e toda a regionalidade sul-mato-grossense, o folclore do Estado é pouco conhecido e perde feio para as histórias nacionais quando os assuntos são mitos e lendas.

Qualquer pessoa nascida em MS conhece e sabe muito mais sobre a mula sem cabeça, Iara, saci-pererê, caipora, curupira, boto-cor-de-rosa, negrinho do pastoreio, cuca e boiatá do que sobre mãozão, pé-de-garrafa, Sinhozinho e come-língua, por exemplo.

“Nunca ouvi falar”, comenta a advogada Mariana Lopes. “Credo, ainda bem que ninguém conhece”, opina o assistente de marketing, Rafael Miranda, ao saber da lenda do come-língua.

Quanto às histórias do folclore nacional, os dois sabem de cor e salteado. “Na escola, né? Desde pequeno, é boto, mula, curupira… mas essas nunca ouvi não”, diz Rafael sobre as regionais. Aos 32 anos, Mariana também se surpreende com o folclore de Mato Grosso do Sul e afirma espanto por não conhecer as lendas. “Como assim, Brasil?”, dispara ela.

22 de agosto é o dia do folclore e, como todo mundo já está cansado de saber do folclore brasileiro, o MidiaMAIS elencou as principais lendas de MS para quem não conhece conhecer, e para quem conhece relembrar. Confira:

Mãe-d’água

Parente da sereia mantém o mesmo hábito de se pentear em cima de uma grande pedra. Nos dias em que o pescador não consegue pegar peixe, dizem se tratar da benção da mãe d’água sobre o anzol. Protetora dos peixes é considerada um mito ecológico.

Minhocão

O Minhocão tem grande semelhança com a Boiúna do Amazonas. Segundo pesquisas, o Minhocão é uma espécie de serpente longa e cabeçuda, não tendo cor definida, mas sabe-se que é escura devido ao seu habitat. Vive sob o barro das barrancas do rio e ao passar deixa marcas no chão, em forma da sua imensa cabeça. Quando fica zangado e faminto, serpenteia no rio de tal forma que derruba as embarcações, devorando pescadores e afundando canoas.

Alguns dizem que produz imenso ruído ao se aproximar e os mais crédulos preferem referir-se a ele como o bicho. Pode acontecer que a pessoa, ao presenciar um ataque do Minhocão, não supere o fato e enlouqueça. As lendas dizem que não se pode reformar ou restaurar a igreja matriz, pois o minhocão encontra-se preso pelos fios de cabelo de Nossa Senhora.

Sinhozinho

Na região de Bonito, tem o mito do Sinhozinho, um frei que andou pregando ensinamentos religiosos pela região nos anos 30. Pequenino, mudo, benzia, curava e se comunicava, mesmo sem dispor de voz. Desapareceu sem deixar vestígios, mas sua presença foi marcada pelas obras que fez, pelas cruzes e capela que construiu.

Uma das histórias contadas pelo povo é que Sinhozinho teria prendido, em um grande buraco de um dos morros da cidade, uma cobra gigante, selando com uma de suas cruzes. Se a mesma for descoberta e retirada a cobra sairá e poderá devorar os moradores da cidade. Em torno desse personagem, existem vários causos e cada contador enfoca um aspecto diferente. Outra fala que a retirada da cruz inundaria a cidade de Bonito.

Come-língua

Come-língua é outro ser que povoa o imaginário das pessoas que moram na região do bolsão. É uma variante do Arranca-língua, lenda do Araguaia, trazida pelos goianos. Trata-se de um bicho que vive a arrancar a língua dos animais, que são encontrados mortos no pasto, sem vestígios de ataques de outros animais.

Em Mato Grosso do Sul, o mito apresenta-se de forma de um menino-bicho. Quando vivia, o menino era mentiroso e sua mãe, antes de morrer, rogou-lhe uma praga. Tempos depois, o menino foi encontrado morto e sem língua. Numa ocasião, um fazendeiro encontrou um gado morto no pasto e viu correr, no meio da mata, o menino com uma língua ensanguentada nas mãos verificando que o gado não mais possuía língua.

Mãozão ou Pai do Mato

É descrito como um bicho peludo, inicialmente assemelha-se a uma anta, em seguida, cresce vertiginosamente, transformando-se em um homem negro, cabeludo e barbudo.

Os crédulos afirmam que ao passar sua mão pela cabeça de uma pessoa, esta ficará louca. Apesar do nome, o Mãozão não possui mãos grandes; elas, porém, são extremamente poderosas, de onde resulta a denominação do personagem.

Pé-de-Garrafa

O bicho Pé-de-Garrafa é um dos mitos mais conhecidos em Mato Grosso do Sul. Descrito como um bicho homem, cujo corpo é coberto de pelos, exceto ao redor do umbigo, dando a impressão de ter coloração branca, ponto vulnerável ao mostro. Alguns afirmam que tem cara de cavalo com um só olho no meio da testa, outros juram que tem cara de gorila, enquanto ainda tem que diga que tem cara de cachorro.

A grande maioria descreve o bicho como possuidor de apenas um pé (embora poucos digam que ele tem dois pés), no formato de um fundo de garrafa. Isso faz com que se locomova aos pulos, como se fosse um canguru, deixando no chão, um rastro com marca de fundo de garrafa. Solta fortes assobios para comunicar que é dono do território, podendo até hipnotizar aquele que se atreve a encará-lo. A vítima é levada para sua caverna, onde é devorada, rezam as lendas.

Negro-d’água

O Negro-d’água é outra das lendas da mesma região, uma espécie de bicho-homem peludo que vive nos rios, assustando pescadores e afundando embarcações. Também conhecido como Caboclo d’água em outras regiões é uma espécie de Saci-Pererê do rio, que vive fazendo travessuras com os pescadores.

Andam em bandos e, no fundo dos rios, há a cidade dos negrinhos d’água. Às vezes, quando capturam um pescador, rezam as lendas, o leva para o fundo do rio para dar-lhe surras.