Hoje, quinta-feira (16), sofre um luto coletivo com a partida do lendário cantor de Blues Zé Pretim. Com décadas de carreira no Estado, a vocação pela música levou o nosso eterno Bluesman a vários lugares do Brasil, mas a verdade é que ele sempre ocupou o espaço especial no coração de todos. Em meio ao luto e a tristeza, Zé Pretim é relembrado pela suas maiores heranças: o sorriso e a felicidade de viver sobre os palcos.

O jornalista e radialista Clayton Sales comanda um programa de Blues em uma rádio de Campo Grande. Dentre as maiores inspirações que possui, Zé Pretim era um deles. Da voz inconfundível à presença de palco, o carisma do Bluesman era o que mais encantava.

“Eu sempre fui muito fã do Zé Pretim. Há muito tempo eu acompanho o trabalho dele, principalmente da parte do Blues aqui em Mato Grosso do Sul. Sem falar que o Zé era um grande camarada, um grande ser humano, uma pessoa sempre para cima, com um astral muito legal, muito divertido. Uma figura que ele era”, recorda Clayton.

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Clayton Sales e Zé Pretim (Foto: Arquivo Pessoal)

Recentemente, o radialista ainda descobriu que Zé Pretim era ouvinte assíduo do seu programa de Blues. E foi a partir disso que começou a troca entre ídolo e fã, unidos pelo amor à música.

“A perda dele significa muito, vamos ficar órfãos desse tocador de Blues, um dos poucos tocadores de Blues negros no Brasil. O Blues é uma música que tem uma ancestralidade negra, a ancestralidade africana. É uma música nascida nos Estados Unidos, mas feita por negros e negras. No Brasil, nós não temos tantos negros e negras tocando e cantando Blues e o Zé Pretim era um dos poucos. E essa negritude era muito perceptível na musicalidade dele, principalmente na voz, no canto, no swing e principalmente na guitarra dele”, afirmou Clayton sobre a referência que Zé Pretim é para o estilo no país.

Da viola ao baião, Zé Pretim tinha o talento de transformar qualquer musicalidade em Blues. E por aqui, ele já deixou saudade.

“Um dos muitos legados dele é esse: a forma de mostrar que o Blues é essa linguagem aberta, receptiva a todas as outras formas de música. E na voz dele ficava muito bonito, muito legal. Já estou com saudades do Zé Pretim, mas tenho certeza que na eternidade ele vai encontrar outras figuras que já se foram”, se emociona Clayton.

Conhecido por transformar qualquer musicalidade em Blues, Zé Pretim deixa saudade em Campo Grande.

Irmãos unidos pela música 

O músico Luis Henrique Ávila era uma das pessoas mais próximas a Zé Pretim e a que mais dividiu palco com ele. Das viagens pelo Brasil até os programas do Raul Gil, os artistas sempre tiveram uma ligação que cresceu além da amizade. Foi a música que juntou os dois irmãos de alma. “É um irmão que a música acabou trazendo para a minha vida”, começa Luis.

Guitarrista e produtor musical, Luis começou a tocar com Zé Pretim há cerca de 12 anos, em 2009.

“Viajamos o Brasil juntos, tocamos em outros Estados, em grandes festivais de Blues. Ele é um cara bem respeitado pelo Brasil dentro do mercado. Dentro do circuito do Blues, ele é considerado uma lenda”, relembra.

 Luis Henrique Ávila e Zé Pretim (Foto: Arquivo Pessoal)

 

De origem humilde e com uma vida cheia de dificuldades, tudo mudava quando ele subia ao palco, onde o seu principal objetivo era levar alegria ao público. Claro, ele fazia isso com maestria.

“Ele é um cara que vem de uma família muito humilde, que veio da roça, ele é um cara que nasceu dos meios desprivilegiados da nossa sociedade, um cara de família negra, pobre e nunca deixou de fazer aquilo que ele faz com alma, alegria e sempre o sorriso. Por mais que ele tivesse com a vida sempre muito difícil e turbulenta, quando ele subia no palco ele só espalhava alegria para as pessoas. Todo mundo que ia no show dele dançava, cantava e sorria”.

 Luis Henrique Ávila e Zé Pretim (Foto: Arquivo Pessoal)

 

Agora, os bons momentos ficam guardados para sempre na memória do músico. “Eu vejo o quanto ele alegrava e emocionava as pessoas”, finaliza Luis Henrique. Confira a participação do Zé Pretim no programa do Jô Soares:

 

Legado em romper barreiras

Para o músico e jornalista Marcelo Rezende, Zé Pretim também deixa saudades. Eles se conheceram quando Marcelo ainda tocava em uma banda de blues em Campo Grande. Após os shows, eles se reuniam para fazer o famoso jam sassion, quando músicos se reúnem em um palco de bar para tocar juntos. Na época, Rezende também fazia um TCC sobre a história do Blues na cidade, então Zé Pretim foi uma das principais fontes da sua pesquisa.

“A amizade só aumentou. O que antes era só aquele coleguismo de se ver de repente virou amizade. Ele entrou primeiro na minha vida como colega de estilo musical que acabou virando amigo porque ajudou no meu TCC”, recorda Marcelo.

Para ele, o legado do Bluesman é único. Isso porque foi na terra do sertanejo que Zé levou o Blues regional para fora mesclando outros estilos, como MPB, caipira e regionais. Não foi à toa que ele chegou até o Jô Soares.

“Por ter rompido barreiras e levado o nome de Mato Grosso do Sul para outros Estados, paro Brasil inteiro, o Zé Pretim passa a ser conhecido nacionalmente. Ele era um exímio guitarrista, tinha uma voz única, as composições dele também são muito boas, é um cara que não tem substituto”, diz o músico.

Morte Zé Pretim

Zé Pretim foi encontrado morto na manhã desta quinta-feira (16), em casa. De acordo com informações repassadas ao Jornal Midiamax, o bluesman mais famoso de MS teria morrido há dois dias, mas o óbito só foi descoberto hoje.

O corpo de Zé Pretim foi liberado por volta das 9 horas da manhã e levado pela Pax para ser preparado para o velório. As irmãs do cantor estiveram no local e constataram o falecimento.

Ao MidiaMAIS, a irmã de Zé Pretim revelou que a síndica do condomínio em que ele morava foi quem acionou o socorro, já que ele não aparecia em seu apartamento há dois dias. 

Ela informou que o cantor foi encontrado sem ferimentos e disse que ele já estava com muitos problemas de saúde. Maria acredita que pode ter sido um problema no coração ou a os responsáveis pela partida de Zé.

“Ele não estava muito bem de saúde. A diabetes dele estava muito alta, agora eu não sei o motivo. A gente tá aqui na delegacia, daqui a gente vai para o IML, aí que a gente vai ficar sabendo”, contou.

Na tarde desta quinta-feira, a irmã do cantor afirmou que o laudo médico sobre o motivo do óbito ainda não havia saído. Por enquanto, as causas continuam desconhecidas. Além disso, o velório será realizado amanhã (17) em Campo Grande, durante cerimônia restrita a familiares e amigos próximos.

Zé Pretim deixa um filho, que mora em Rondonópolis e está vindo para Capital se despedir do pai.