Som de Mina, Groove e Melanina: SoulRa brilha na cena autoral de Dourados
Da efervescente cena alternativa de Dourados, MS, um novo som chama atenção por sua musicalidade urbana, letras autorais politizadas, voz doce, que faz bem aos ouvidos, tudo isso embalado por um estilo impactante de Diva Black e banca de rainha do baile. Com apenas 24 anos e uma música lançada nas plataformas, SoulRa está dando […]
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Da efervescente cena alternativa de Dourados, MS, um novo som chama atenção por sua musicalidade urbana, letras autorais politizadas, voz doce, que faz bem aos ouvidos, tudo isso embalado por um estilo impactante de Diva Black e banca de rainha do baile. Com apenas 24 anos e uma música lançada nas plataformas, SoulRa está dando seus primeiros passos na carreira musical (muito bem, por sinal) e aproveitando para levantar a bandeira da Mulher no rap, hip hop e afins.
“Minha carreira musical vai completar um ano em abril. Sou natural de Dourados, MS, filha de pais nordestinos, tenho uma mãe estilista (ela costura desde os 9 anos de idade) e também sou muito apaixonada pela arte do figurino, da expressão através das roupas. Meu pai é professor universitário e músico ele (ele é cantor no grupo de forró “Terra Seca” há 20 anos). Meu primeiro contato com a música aconteceu desde cedo, por influência familiar, pois tive acesso, ainda muito nova, aos clássicos da música popular brasileira e sou muito ligada à cultura e tradições nordestinas. Além disso, cresci gostando da música regional raiz do MS, Tetê Espíndola, Almir Sater…”, apresenta-se SoulRa.
Raíssa Sousa Carvalho é o nome de batismo da artista, que uniu o Soul (alma) e a inicial de seu nome, Rá, para compor seu nome artístico que é pronunciado “Sou Rá”. A influência das músicas urbanas veio desde os tempos de escola, pois onde estudou (na Escola Estadual Presidente Vargas), ela jogou basquete, andava de skate e conheceu o Rap e a cultura Hip Hop.
De forma autodidata, SoulRa aprendeu a tocar violão aos 10 anos de idade. Com algumas dicas do tio aqui, outra ali, ela dominou o instrumento e, mais tarde, foi aprender as técnicas vocais. “Já tinha essa aptidão, só que eu era muito tímida, então eu comecei a fazer aulas de canto num projeto da Casa da Cultura da UEMS, que era gratuito, com a professora Rita de Cássia. Estudei por dois anos, até o projeto acabar e comecei a fazer violino (mas não me dei muito bem)”, relembra.
Em outubro de 2019, SoulRa lançou o clipe de “À Flor da Pele” e o single nas plataformas musicais. Como trabalho de estreia, surpreendeu e, ‘de prima’, agradou muito. Aperta o Play, escute e veja você também:
Como foi que “À Flor da Pele” foi concebida, o que vivia naquele momento?
Na época em que eu me formei, em outubro de 2018, já havia terminado minhas atividades na universidade, TCC e tudo mais, saiu um caminhão das minhas costas, aquele peso! Foi quando veio uma inspiração profunda e escrevi a música À Flor da Pele, que é meu primeiro single.
Quando escrevi aquela música, foi como uma coisa divina… Ali que eu percebi que era aquilo que eu amava, que a música e a arte são os meus caminhos. E reparei que faltava coragem pra realizar algo que eu realmente amo e parar de fazer aquilo que as pessoas estavam esperando de mim.
“Reparei que faltava coragem pra realizar algo que eu realmente amo e parar de fazer aquilo que as pessoas estavam esperando de mim”.
Sobre a escolha do nome artístico, como criou?
A ideia o SoulRa é assim: a música pra mim é uma questão de alma, de essência, está em absolutamente tudo o que faço. E o Soul é da Soul Music, que é rap, é black, o som predominantemente que eu aprecio, embora eu curta muitos outros sons.
Quais artistas te influenciam, quem te representa?
As minhas maiores influências dentro do Rap, hoje e, principalmente de uns anos pra cá, são as mulheres negras. Eu escuto muita mulher, porque na minha infância escutei muito homem. Escutava Dina Di e Negra Li, de mulher, que era o que eu tinha acesso. Cresci escutando Trilha Sonora do Gueto, Facção Central, Racionais MC’s…
Aí quando eu cresci, fui conhecendo as mulheres dentro do Rap. Conheci Luana Hansen, a Preta Rara, a Tássia Reis (que hoje é uma grande influência), a Cris do SNJ, que tem uma carreira solo hoje, a Drik Barbosa... A Elza Soares, pra mim é a “rainhazooona”, ela me inspira mesmo, mesmo, mesmo!
Dourados tem uma cena alternativa fortíssima, mas como está o rolê pras minas?
Existe essa cena Underground muito forte aqui em Dourados. Aqui tem bandas como Tonelada, que tem um público muito grande do metal, a Hard Mato, Overdines, os meninos já fazem eventos, festivais, mas que são predominantemente masculinos, que valorizam muito o autoral, mas de 7 bandas, uma era com liderança feminina, ou com uma cantora mulher, enfim.
Eu conheço muita mina que canta aqui, mas que não tem o mesmo espaço. A gente veio, meteu a cara, começou a se articular pra poder engajar, mobilizar, pra poder dar espaço, visibilidade pras mulheres. Então a gente fez o Power Day (em novembro/19), foi o primeiro festival de música de mulheres, com 10 bandas.
Eu conheço muita mina que canta aqui, mas que não tem o mesmo espaço. A gente veio, meteu a cara, começou a se articular pra poder engajar, mobilizar, pra poder dar espaço, visibilidade pras mulheres.
O que tem de novidades vindo por aí? Vai ser apenas de Rap, Hip Hop…?
Tenho outras músicas autorais que compus e registrei, que eu canto nos meus shows. Estamos no projeto do EP agora, pra sair em abril, quando comemoro um ano de atividade.
Fui desenvolvendo meu som através desta identidade, mas não quero me limitar. Não sou só rapper, se amanhã eu quiser gravar um pagode, ou um funk, eu faço. Mas tem que ser um som que tenha indagação, que sejam questionadores, pra gente fazer reflexões ambientais, sociais, pra construir e reconstruir conceitos e também fazer um resgate histórico, é uma coisa assim.
Finaliza
Ficha Técnica À Flor da Pele
O videoclipe foi produzido em parceria com a Produtora Blue Dog Filmes. As fotografias são de autoria da fotógrafa Fernanda Sabô. O Roteiro foi escrito pela própria Rapper e as edições de vídeo são obras de Willian Nicolai. Os arranjos musicais são creditados aos músicos Igor Além (guitarrista), Wender Carbonari (contrabaixista) e João Gabriel Borges (baterista).
Na capa do single, a representação de um útero simboliza o poder feminino de revolucionar. Ilustração de autoria da artista visual douradense Bi Miura sobre fotografia de autoria da também douradense Fernanda Sabô.
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