Quem abre a caixa de e encontra um pequeno cartão de visitas feito à mão, em Campo Grande, não imagina a história da corrente do bem que existe por trás dos traços de caneta azul no papel sulfite. A responsável pelo material é uma senhora que, como grande parte das mães solteiras, faz das tripas coração para sobreviver. O diferencial é que além de batalhar por “bicos” diariamente, dona Terezinha também oferece os serviços das amigas e da nora, sem cobrar nada a mais por isso.

Foi com um abraço apertado e um sorriso largo no rosto que dona Terezinha Auxiliadora de Amorim recebeu a reportagem do Jornal Midiamax no final de um dia cansativo de trabalho como diarista em residências da Capital. Aos 54 anos, a mulher com nome da santa espalha bondade ao ajudar, mesmo que sem condições financeiras, familiares e amigos.

Dona Terezinha aproveita o “tempo livre”, que seria de descanso entre um ônibus e outro, para confeccionar cartão de visitas para ela e as amigas em papel sulfite. Nos pequenos quadrados brancos, a diarista oferece serviços de faxina e afirma ter referência. É no banco do coletivo, após um dia de trabalho ou na ida para o curso, que dona Terezinha escreve os papéis, recorta e entrega nos condomínios onde já tem clientela.

O aumento da procura foi tanto que, em pouco tempo, as amigas começaram a pedir ajuda e indicações para a diarista. Agora, dona Terezinha escreve, recorta e entrega “cartões de visita” em seu nome e de mais 4 pessoas, sem cobrar por isso. O coração enorme da “mãezona” não para por aí, ela ainda faz bolos como agrado para as “patroas” e, volta e meia, abre mãos das diárias para as amigas que estão sem serviço.

A rotina do trabalho é dividida com mais duas das suas paixões: a e o ramo da beleza. Há 4 anos, dona Terezinha era para ter concluído o curso de cabeleireira se não fosse um golpe que sofreu da  instrutora do curso. Ela se inscreveu para ter aulas, mas a responsável pelo suposto salão fugiu com o dinheiro das alunas.

Mãezona: Terezinha faz cartão de visita no ônibus para ajudar os outros

O sonho pode ser realizado, no final do ano passado, quando ela juntou dinheiro e se matriculou novamente no curso, desta vez em uma instituição especializada. A diarista também aproveita o amor pela cozinha, com os conhecimentos adquiridos em um curso de gastronomia feito pelo Senac, para produzir deliciosos bolos nas casas onde trabalha e vender para conhecidos.

O dia de dona Terezinha começa por volta das 5h da manhã quando ela acorda para fazer as diárias e só termina às 23h quando ela desce do último ônibus nos dias de curso. O sonho da “mãezona” de todos é poder montar seu próprio e casa de bolos. O mobiliário do salão a diarista garante que já tem, o que falta agora são os materiais de construção.

A mulher conta que não sabe negar ajuda para os outros e, por este motivo, fica ainda mais difícil juntar dinheiro. “Sempre aparece alguém precisando e quando eu não tenho algum (dinheiro) guardado para emprestar, eu faço os cartões de visita ou repasso quem me liga atrás de diária.”

Para complementar a renda, a diarista também vende doces com aquele gostinho de comidinha de vó. Bolo de fubá com goiabada, molhadinho de coco branco e a torta de banana são os que mais fazem sucesso entre os clientes. “Todos feitos com muito amor”, garante.

A doçura de dona Terezinha está presente até na forma de falar. É impossível não ficar encantado com a senhorinha que, apesar do corpo miúdo, luta com braveza todos os dias atrás dos sonhos. Criada pelo pai e madrasta, Terezinha Auxiliadora começou a ajudar a família na cozinha, aos 7 anos, a mando do pai. A garota buscou independência aos 15 anos quando foi trabalhar de faxineira em uma casa de família. Mãe de 3 filhos e avó de 9 crianças, ela se orgulha de espalhar generosidade por onde passa.

“É uma rede do bem de trabalho. Deus me ajuda e eu ajudo os outros. Minha família é grande e também muita gente me procura. Tenho o nome de duas santas e faço jus a isso”, pontua.

Quem quiser contratar os serviços da dona Terezinha ou ajudar com doações pode entrar em contato pelo telefone (67) 9 9244-5375.