Estilista de sucesso afirma que para manter-se no mercado tem que ter ‘pé no chão’

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Como fazer uma entrevista diferente com quem já respondeu todo tipo de pergunta, várias e várias vezes? Como fazer esse entrevistado se envolver com o assunto, ainda mais quando passou a última hora atendendo diversos jornalistas, supostamente fazendo as mesmas perguntas? Este foi o desafio da reportagem ao deparar-se com Alexandre Herchcovitch, um dos mais bem sucedidos estilistas brasileiros, que há mais de 20 anos mantém-se como referência do mercado da moda.

Para Alexandre Herchcovitch, glamour do 'mundo fashion' pode ser só ilusão

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Sentado no sofá de uma das salas do Sebrae, Alexandre Herchcovitch vestia jeans, tênis e apostou na sobreposição com um moletom esportivo. Nenhuma peça ou look glamouroso – apenas o topete cuidadosamente preparado indicava que ali estava alguém com gosto diferenciado. Talvez porque, aos 46 anos, casado e pai de dois filhos, Herchcovitch já não faça questão do ostentar o visual transgressor pelo qual seu trabalho foi marcado, nos anos 90, quando também produzia as peças de vestuário de travestis e drag queens da cena gay paulistana. Alexandre evoluiu, assim como evoluiu a cidade. E se São Paulo levou seu underground ao mainstrain, o estilista também emergiu na mesma medida.

Apostamos nesse segmento e a entrevista focou-se na moda enquanto mercado. Economia, crise, novos formatos, redes sociais. Foi o suficiente para o assunto fluir e Alexandre mostrar-se mais à vontade. Respondeu as perguntas e opinou sobre rumos que o segmento pode tomar. Destacou o papel dos digital influencers, fenômeno da atualidade. E, acima de tudo, criticou quem pensa a moda apenas como glamour.

Criativo Vs. Empresário

Para Alexandre Herchcovitch, glamour do 'mundo fashion' pode ser só ilusão“Mesmo quando estava à frente da marca [após duas décadas, Herchcovitch vendeu a marca que leva seu nome e até fevereiro do ano passado atuou como diretor criativo], só como diretor eu sempre assumi esse lado empresário. Isso sempre apareceu, porque eu já tinha 15 anos de experiência fazendo os dois. Então, na hora de decidir por um gasto, por uma ação de marketing, enfim, meu lado empresário sempre apareceu. Hoje eu não consigo pensar só com a cabeça de um dos dois. Qualquer coisa que eu faça estará lá o criador e o empresário”, explica Herchcovitch, quando questionado sobre o perfil do empreendedor de moda.

O estilista também arremata. O mercado é pintado de dourado, mas quem está por dentro sabe que não é tão glamouroso – as políticas de importação e alta taxação de impostos no segmento fazem a vida de empresário ser dura. “Ser criativo não é uma necessidade só na hora de produzir, mas também no gerenciamento do próprio negócio”, aponta. “Hoje tem muita faculdade de moda no Brasil. Tem aluno saindo da faculdade e eu não sei se o mercado absorve. Eu me pergunto quantas pessoas saem por ano, por década”, acrescenta. 

Todavia, Herchcovitch é otimista. Ele acredita que profissionais brasileiros exploram bem o potencial que a cultura brazuca pode oferecer, num contexto em que o mercado deixa de simplesmente ditar tendências para alimentar identidades, sempre apostando na sustentabilidade para contornar as crises que vão e vêm. “Quem procura o glamour nesse mercado pode se frustrar”, diz. O recado que ele deixa, portanto, é simples. “É preciso ter pé no chão”.

(O material completo do bate-papo com Alexandre Herchcovicht integrará a entrevista da semana no Jornal Midiamax, que vai ao ar na próxima segunda-feira, 3 de abril. Aguarde!)