Nicanor e Fátima reuniram amor e dedicação para criar produto único

 

A necessidade é a mãe da invenção, já diz o ditado que, a propósito, Maria de Fátima Braz, 42, e Nicanor Antônio Lunardelli Ramos, 61, conhecem bem. O casal toca a quatro mãos o apiário Ápis Dourada, em , do qual tiram a matéria prima para produtos artesanais singulares, a exemplo do ‘mel com pimenta', uma iguaria culinária jamais vista em qualquer outro lugar do globo – tão única e especial que representará Mato Grosso do Sul nas próximas Olimpíadas, que acontecem ainda este ano, no Rio de Janeiro.

O produto é utilizado para finalizar pratos, tal qual o azeite: agridoce, carrega o sabor da pimenta, mas sem a ardência, e harmoniza com saladas, tábua de frios e outros alimentos. Será exposto em uma das arenas e praças previamente destinadas pelo Comitê Olímpico, durante o evento mundial. Beatriz e a filha mais velha, Isabela, 16, é quem vão viajar, já que a produção não pode ficar sozinha.

Das colmeias de Terenos, saiu o ‘mel com pimenta' que levará MS às OlimpíadasÉ injusto, todavia, começar esta narrativa pelo final da história, até porque o mel com pimenta não surgiu do acaso: é fruto da insistência num sonho alimentado por duas pessoas, um casal cuja parceria, cumplicidade e dedicação transformaram suas vidas. Adeptos da agricultura familiar, tanto Fátima como Nicanor chegaram onde estão após tentativas, erros e, claro, acertos, após enfrentarem os dilemas da vida, dentre eles redirecionar completamente a carreira profissional. Ele, advogado e ex-campeão de kart no Paraná. Ela, administradora e gerente de lojas. Mas, juntos, acreditaram no sonho da qualidade de vida por meio do trabalho manual, do cultivo da terra e da exploração consciente de outras maravilhas da natureza.

“Eu era gerente de lojas, trabalhava em setor administrativo. A gente se conheceu depois que ele se divorciou e foi ser advogado da Vara de Família. Mas, acabava que em vez de divorciar ele fazia mais era reconciliar os casais. O que ele queria, mesmo, era trabalhar com agricultura familiar. E foi isso que a gente fez”, conta Fátima.

O primeiro passo foi habilitarem-se a um financiamento rural, com o qual apresentaram um projeto de criação de bicho-da-seda. Assim, compraram a Estância Renascer, em Terenos. Por uma série de razões, o negócio tornou-se inviável. “E a gente trabalhava demais, não sobrava tempo”, conta Fátima. Mesmo depois do bicho-da-seda, o casal decidiu apostar na pimenta e em outros frutos, mas o negócio não andava, esbarrava nas limitações do comércio local.

Coisas do acaso

Fátima, Nicanor e as três filhas / DivulgaçãoAssim, necessidade de reinventar-se para ter qualidade de vida e maior lucro nas vendas também contou com o inesperado – no caso, um curso de apicultura que tinha vagas sobrando. Decidiram arriscar, com o investimento inicial em cinco caixas de abelhas. “Mesmo assim a espécie de abelha que a gente tinha não se adaptava com as flores da região, cujo néctar funciona como um antibiótico natural que matava as larvas. Perdemos as colmeias e tivemos que começar tudo novamente”.

O jeito, logo, foi parar de dar tiros no escuro e partir para a qualificação da produção. “Fizemos um curso, em Campo Grande, de um ano e meio, no qual recorremos à tecnologia para aumentar o rendimento do mel”. Com a lição aprendida, dentre elas identificar os ciclos de produção e floradas na região, atualmente as 40 caixas de abelhas do apiário produzem até 80kg de mel, mais de 100% de aumento da produção inicial.

Além do mel de pimenta, o casal produz, também sabonetes artesanais e decorativos, a base de mel, pães de mel e o hidromel – uma bebida com teor alcoólico de aproximadamente 8% semelhante a um vinho seco, a bebida mais antiga que se tem conhecimento. “O termo lua de mel vem dele. O casal que contraia matrimônio passava 30 dias alimentando-se com esta bebida, para celebrar e estimular a fertilidade”, conta Fátima.

A expectativa de apresentar os produtos para o mundo despertam ansiedade e causa empolgação. “É uma grande responsabilidade representar o nosso Estado e o trabalho da APOMS (Associação de Produtores Orgânicos de Mato Grosso do Sul) para pessoas do mundo inteiro. Elas vão comprar e vão ver no rótulo que foi feito em Mato Grosso do Sul. Temos segurança de que nosso produto é bom, estamos até patenteando, mas sempre fica a expectativa”, revela Fátima.

Produtos da Ápis Dourada / Divulgação

Mel com pimenta

O carro-chefe da Ápis Dourada é uma receita secreta, fruto de uma ideia de Nicanor e esforços culinários de Fátima. “Quando ele insistiu que deveríamos tentar esse produto, passei mais de um ano chegando a receita ideal, harmonizando com a pimenta e analisando a qualidade do mel em relação às floradas. Não é um produto considerado orgânico por protocolo, mas tem todas as condições de um”, conta.

Depois de chegarem o que consideraram o produto final, mais um ano se passou até chegarem à forma ideal de apresentar o mel com pimenta. Atualmente, está sendo patenteado. “Você pode procurar na Internet que não vai achar nada parecido. Nosso produto é exclusivo”, releva.

Em Campo Grande, o mel de pimenta está à venda no Recanto das Ervas (Rua 13 de Junho, 1592 – Centro) e custa em torno de R$ 40 reais. Um estande do apiário, com todos os produtos, marcará presença na 78º Expogrande, que tem início nesta quinta-feira (7), no parque de exposições Laucídio Coelho.