Filme traça perfilme de suicidas e mostra o que acontece com quem decide não mais viver.

O que leva alguém a tirar a própria vida? O que acontece com quem desiste de viver? Que sentimento essa pessoa cultiva dentro de si, que o viver é somente dor e tristeza e apenas a morte pode ser o alívio. É difícil responder tais perguntas, até porque quem viveu esses sentimentos não tem mais como dizer.

Mas para filmar ‘Cortes’, o diretor Roberto Leite precisou responder esses e muitos outros questionamentos. Com uma fotografia perfeita e cenas que tocam o espectador, o cineasta conseguiu tratar de um dos temas mais proibidos do mundo de forma sutil e elegante.

Leite conta que o suicídio passou a mexer profundamente com ele depois que um amigo de infância tirou a vida com apenas 21 anos. “Sempre tive o interesse pelo assunto. De falar sobre o psicológico de quem comete o suicídio. Então passei a estudar o tema e pesquisei muito. Isso me incomodava porque tive alguém próximo que cometeu suicídio”, diz.

Em seus estudos, ele diz ter percebido que apesar de que cada história é única, o fio condutor é sempre o mesmo: muita dor e tristeza. Tocado com isso, pensou em fazer um filme que falasse do assunto. “Estava muito mexido. Ai veio a ideia do roteiro. Conversei com o Filipi (Silveira, ator e diretor) e ele colaborou com a estruturação”, diz.

Assim nasceu o filme de 27 minutos, que conta a história de Jade (Camila Schneider), uma jovem que não suportando mais a dor que sente dentro de si decide acabar de uma vez por todas com ela.

Na trama, Roberto ainda mostra como a doença é agravada após a perda do marido, Luis (Vinicius Olivo), momento no qual Jade inicia seu processo de despedida gravando o vídeo que tenta explicar a decisão de se suicidar.

Leo (Filipi Silveira), seu amigo de infância, percebendo a gravidade do problema, tenta mostrar a ela que a vida é feita de novas fases, cortes e cicatrizes. E o filme vai permeando as lembranças da jovem e sua triste saga até se matar. Os atos de mutilação que praticava contra si, na esperança de que a dor externa diminuísse a interna. “Ela deixava giletes pela casa toda e se cortava toda vez que a tristeza a consumia. Era como um ato de redenção. Como se isso fosse aliviar o que sentia”, diz.

E nesse tom de despedida, de quem já sabe que não pretende mais viver, ‘Cortes’ brinca com a beleza e a escuridão. Ao mesmo tempo em que traça um perfil fidedigno de um suicida. “Se o filme de alguma forma alertar as pessoas, mostrar essa situação e poder ajudar, atingiu o objetivo”, diz

Flerte com a morte

Para Filipi Silveira, que atua no filme, o média metragem é muito claro ao pontuar os sentimentos da protagonista. Para ele, o ato de ela se mutilar é como um flerte com a morte. Ela percebe a linha tênue em que vive e gosta. “É como se dissesse eu me cortei e gostei. Um ensaio antes do fim”, diz.

Motivação social

Roberto Leite diz ainda que espera que quem assista ao filme perceba o comportamento de quem está no limite, e quem sabe de alguma forma ajude as pessoas. “Acho que é totalmente social. Os traços são bem objetivos. Se as pessoas pararem e perceberem mais o tema, já me dou por satisfeito”, diz.

Lançamento

O filme deve ser lançado para o grande público apenas daqui uns dois anos. Inicialmente será lançado apenas o Teaser. No dia 28 deste mês, para plateia fechada, o filme será lançado em Miami, nos EUA.

Se selecionado, em maio, ele poderá ser exibido em Cannes. Já que o filme está inscrito no festival. “Tomara que sejamos selecionados. Vamos nos escrever em todos os festivais possíveis e somente depois será lançado para o público”, diz, explicando que não pode lançá-lo antes devido às regras de diversos festivais internacionais.