Ela é a única viva, dos 10 filhos do comerciante

Não diferente da tradução de seu nome, que em árabe quer dizer sol, dona Chance Abrão Possik, disparou um sorriso iluminado à equipe do Midiamax, logo quando chegamos para a entrevista.

Sentadinha em sua sala de estar exalava harmonia e serenidade. A vaidade também pôde ser notada. Com as unhas pintadas, cabelo penteado, brincos de pérola, um colar também perolado e um sapatinho todo pomposo, ela mostra que é possível se cuidar mesmo com a idade que tem.

Aos 95 anos muito bem vividos e recém completados – faz aniversário em 15 de maio, o motivo de nossa procura era falar justamente dessa longevidade e claro, da lucidez que tem.Citamos a lucidez, porque ao perguntarmos sobre a quantidade exata de filhos, netos e bisnetos ela logo completa: “são5 filhos, 8 netos e 10 bisnetos”.

Dona Chance é filha de um dos comerciantes árabes que contribuiu com a construção da nossa Capital, – José Abrão e, segundo ela, era a mimadinha do papai.

“Papai sempre foi muito carinhoso com os filhos, eu era a protegida dele…queria que eu só estudasse, a vida foi muito boa comigo, agradeço sempre”, relembra toda emocionada.

Ela chegou em Campo Grande em 1925, aos 5 anos de idade. Conta que os pais saíram fugidos da guerra e por conta de religião. “Papai era católico e não podia, daí viemos pra cá”.

José Abrão foi um dos primeiros comerciantes de Campo Grande. Chegou aqui, como a filha disse, com uma mão na frente e outra atrás e construiu todo o patrimônio que tem sob muito trabalho. Vale lembrar também, que o primeiro prédio da Capital – na Rua 14 de Julho com a Cândido Mariano é de autoria dele também e, a já tradicional loja – Casa José Abrão, especializada em presentes e decoração passou dele para um filho e hoje é mantida pelo neto.

Como todas as meninas daquela época, dona Chance estudou piano no Colégio das Irmãs – o Nossa Senhora Auxiliadora, o que a fez, ter um encantamento com a música. “Eu adoro, todos os eventos em casa eu sempre toco, hoje deixo trancado, porque aqui em casa vem muitas crianças e não gosto que mexe, tenho receio de estragar ou desafinar”, explica enquanto toca.

Chance é libanesa e casou com um libanês, o Abib Possik com quem teve 5 filhos – Rafael, Reinaldo, Reny, Roseli e Rene. “Todos com a inicial R…preferi assim”, conta. Logo que os filhos entraram na adolescência, ela e o marido decidiram mudar para São Paulo, alegando melhorias e estudos. “Aqui não tinha faculdade e mudamos para proporcionar isso a eles”.

A mudança deu certo. Dona Chance e o esposo formaram médicos, engenheiro e assistente sociais. Logo depois da faculdade, retornaram à Campo Grande que é onde está até hoje. “Lembro-me dos natais, todas as festas eram aqui em casa, os filhos que moram fora vinham e era aquela alegria, bem casa de libaneses, as netas na dança do ventre, comilanças, ô tempo bom”, narra.

Sobre a comilança, hoje ela diz que seu cardápio é feito por uma nutricionista, mas que, de vez em quando, dá uma escapadinha. “Amo charutos, às vezes como uns escondido”, brinca.

Quando perguntei sobre o segredo da vida, a senhorinha respondeu carinhosamente: “ser feliz minha filha, graças a Deus a felicidade sempre esteve comigo, temos que ser feliz diariamente”. Quanto à morte, dona Chance que é católica e ainda vai à missa quando dá, diz: “a vejo como uma coisa muito natural, sem medo, todos nós vamos passar”.