Segundo o deputado, o governador “manda em tudo”, inclusive na Assembleia Legislativa, e elimina do seu caminho quem se arriscar a enfrentá-lo

Em longo desabafo à imprensa na manhã desta quarta-feira (25), o deputado estadual Diogo Tita (PPS) relatou o poder de fogo do governador André Puccinelli (PMDB) e sua impiedade com os aliados que não o atendem. Segundo ele, o chefe do Executivo “manda em tudo”, inclusive na Assembleia Legislativa, e elimina quem se arriscar a enfrentá-lo.

“O André passa, enterra e põe cruz e vai embora”, declarou Tita sobre o comportamento do governador com quem não o atende. “Cadê o (senador) Valter Pereira, foi sepultado ou não? Cadê o Zeca do PT? Foi sepultado”, exemplificou o deputado. Nas últimas eleições, Valter tentou disputar a reeleição ao Senado, mas foi derrotado em prévias pelo candidato de Puccinelli, o então deputado federal Waldemir Moka (PMDB), hoje senador.

Tita não deixou de ressaltar a competência de Puccinelli, mas destacou sua frieza. “É trabalhador, trabalha 18 horas por dia, só que o governador é duro”, lamentou. Para o parlamentar, diante de tanto poder, “enquanto o André estiver vivo a oposição está morta, porque ele interfere em tudo”.

Segundo Tita, quem decide sobre a aprovação de projetos na Assembleia é o governador.  “Veja quem serão os conselheiros do Tribunal de Contas, já está tudo ali (publicado em jornal diário do Estado), mas nós não votamos? Porque está ali? Quer apostar que vai ter 24, 23 votos aqui?”, disse sugerindo que a decisão já passou pelas mãos do chefe do Executivo. “Ele até colocou o inimigo dele Londres (Machado) para trabalhar com ele”, emendou.

Sobre as eleições municipais, o deputado destacou que o poder de fogo do governador é o mesmo. Como exemplo, ele citou o cenário político em municípios da região do Bolsão, onde se concentra sua base eleitoral.

“Ribas do Rio Pardo, quem é candidato, o Zé Cabelo e o prefeitinho do PPS, os dois são André Puccinelli. Você chega em Inocência, quem é candidato lá, primeiro lugar o Toninho que é prefeito, segundo Zé Arnaldo, os dois são do André. Você chega na minha cidade (Paranaíba), quem é o primeiro, é o Tita, segundo Zé Mané, os dois são do André. Você chega em Cassilândia, quem é candidato, o candidato é o prefeito Carlinhos e o Jair, os dois são do André. Você chega em Aparecida (do Taboado), quem é o candidato é o Robinho e o prefeito Andrezinho, os dois são do André”, elencou.

Indagado sobre como o chefe do Executivo alcançou tal domínio, Tita disse que “matando os outros (que o ameaçam)”. “O André é número, olha você e diz Tita você é meu amigo, deixa eu ver o seu número. É igual o Bradesco, minha conta é 108/4”, acrescentou sobre o fato de o governador nortear suas decisões por pesquisas e pelo poder financeiros das pessoas.

Para reforçar que são os “números” que pesam na hora de Puccinelli escolher seu candidato, Tita contou como foi excluído da disputa pela sucessão da Prefeitura de Paranaíba em 2008. “Eu era candidato na eleição passada, quando o Mané era prefeito e deu a Sanesul para o André. Daí ele (o então prefeito) falou vou te dar a Sanesul, mas você não pode deixar o Tita ser candidato. Então, chegou eu e meu pai e mostramos os números (da pesquisa), foi quando o André disse, mas você não é amigo meu, então não pode ser candidato”, contou. “Quem não o atende, está excluído”, reiterou. “Antes você chegava numa cidade tinha a UDN e o PSD, depois, tinha o doutor Wilson e o doutor Pedro, hoje tem o André de um lado e do outro o Puccinelli”, reforçou sobre o poder do governador.

O desabafo, pelo relato de Tita, teve origem em discussão com Puccinelli por causa da Sanesul. “Esta semana tive um arranca-rabo com a Sanesul. Ai o André mandou um recado para mim, você não precisa de mim, está brigando com o meu povo, aí eu mandei um para ele, a minha indignação é do tamanho da minha lealdade”, relatou.

“Não compensa ser deputado”

O desabafo de Tita também passou pela Assembleia Legislativa. Segundo ele, depois de onda de denuncismo, “a fonte secou” e não existem mais recursos disponíveis para atender a base eleitoral. “Hoje aqui não dá para manter as pessoas que acreditaram em mim, me elegeram e agora me cobram, mas não cobram eficácia parlamentar, cobram ajuda para não deixar o filho morrer”, disse relatando inúmeros pedidos por vagas em hospital, por exames de tomografia, ultrassom e outros. “Se eu não fizer isso, eu sou um bosta, sou um péssimo parlamentar’, explicou.

Segundo Tita, antes de onda de denuncismo que desmontou esquema de pagamento de propina a autoridades dos três Poderes do Estado, o deputado tinha dinheiro para atender suas bases e ajudar a eleger prefeitos e vereadores. “O deputado tinha 50 vereadores, 80 vereadores, eu não, era prefeito cheguei aqui agora, quero ver como vai fazer agora sem dinheiro. Eu quero ver como vai ser essa campanha, é novo, é inédito para nós, aqui sempre deputado bancou tudo”, contou.“Não sei com que dinheiro bancavam isso, eu não era daqui”, emendou ao ser questionado sobre a origem da verba. “O denuncismo levou essa Casa a recrudescer, hoje tem imensas dificuldades financeiras aqui”, prosseguiu.

Indagado se a nova realidade mudará o cenário político do Estado, Tita prevê renovação de lideranças em Mato Grosso do Sul. “Agora tem muita oportunidade de novas pessoas se tornarem deputados, porque os deputados não têm mais o que tinham, era difícil tirar um cacique aqui, agora não”, pontuou.

“Não compensa ser deputado, a não ser se você for um grande empresário, com recursos de outras fontes. Agora você suar a camisa para ser um bom político não sei o retorno que eu tenho porque as pessoas não ficam focadas no meu trabalho parlamentar, ficam focadas nas ajudas que eu posso contribuir. Hoje, no interior, a cultura não é para você vir fazer projeto aqui, é para você não deixar meu filho morrer lá, você compreende?”, finalizou.