Praticamente toda a Santa Casa foi considerada em condições insatisfatórias pela vigilância sanitária

Relatório da coordenadora estadual de vigilância sanitária aponta que a Santa Casa de Campo Grande está funcionando com condições insatisfatórias em sua estrutura. Dentre os setores, quatro correm sério risco de serem interditados por apresentarem elevado risco. De acordo com o diretor clínico, Heitor Soares de Souza, a Santa Casa inteira tem irregularidades, que estão sendo sanadas na medida do possível.

A inspeção foi realizada entre os dias 01 e 08 de agosto por uma equipe de 17 profissionais. Foram verificadas as condições físicas, técnico-operacionais e sanitárias da Santa Casa, que é um hospital referência para o Estado de Mato Grosso do Sul e realiza cirurgias de alta complexidade. Conforme relatório, o hospital possui 680 leitos, sendo 61 de unidade de terapia intensiva de adultos, 11 de unidade de terapia intensiva pediátrica e 08 de unidade de terapia neonatal.

Os setores mais graves, segundo o documento e que podem ser interditados são: a ala C do 4º andar – que está sem revestimento de parede, mofo, mobiliário com ferrugem e outros; a unidade coronariana – que guarda medicamentos em refrigerador sem medidor de temperatura, infiltração no teto, faltam de pias e outros; o centro cirúrgico – 16 salas comprometidas por não possuir separação física entre área suja e limpa e por guardar utensílios esterilizados enrolados em papel pardo; e o centro obstétrico que continua com as mesmas irregularidades da inspeção de 2011, com vaso sanitário sem tampa, rachadura na parede da sala de parto, vestuário com cortina rasgada ao invés de porta.

O centro obstétrico aparece mais uma vez na lista dos seis setores que necessitam de urgente adequação física e de profissionais, por apresentarem elevado risco sanitário. São eles: UTI neonatal, centro obstétrico, unidade de alimentação e nutrição, Prontomed, radiodiagnóstico e pediatria.

Na UTI Neonatal, que tem oito leitos, as irregularidades encontradas vão desde falta de incubadora para transporte de bebês até medicamentos tipo multi-dose abertos sem identificação.

No centro obstétrico, onde são realizados cerca de 200 partos normais por mês, não tem desfibrilador no andar, há enfermeira sem treinamento na área de ginecologia e obstetrícia e ainda foram encontrados três recém-nascidos com conjuntivite, no dia da inspeção, sendo apontada a pouca quantidade de pias um dos empecilhos para conter o surto. Também não tinha placas identificando isolamento das crianças.

Na Unidade de Nutrição e Alimentação – que abastece os pacientes e a creche que funciona dentro do hospital – a vistoria constatou câmara de hortifrutigranjeiros em estado ruim, caixas de esgoto dentro da área de produção, ovos em caixas de papelão junto com alimentos já pré-preparados, ausência de controle de qualidade dos alimentos prontos, manipulação de alimentos feita em local inadequado e até utilização de água não filtrada. A comida que é levada para a creche vai em panelas, em um carrinho improvisado e os produtos alimentícios estavam com prazo de validade vencidos.

No Prontomed – que atende cerca de 200 adultos e crianças por dia, mediante convênios e particulares – havia pacientes internados na sala de atendimento de emergência, falta de sala exclusiva para atendimentos infantil, irregularidades nos repousos feminino e infantil como falta de pias, alçapão e rachaduras com acúmulo de sujeira e possível foco de bactérias – o que pode ocasionar infecção hospitalar.

No radiodiagnóstico, o relatório destaca que todo o setor de raio X continua precário, nas mesmas condições da vistoria de 2011. Não foram encontrados laudo de blindagem de portas e paredes nem levantamentos para prevenir a equipe da exposição à radiação.

Praticamente toda a Santa Casa foi considerada em condições insatisfatórias pela vistoria, como setor de endoscopia, ala de queimados, ginecologia e obstetrícia, ortopedia, psiquiatria, oftalmologia, creche e até lavanderia e necrotério. Apenas a UTI pediátrica, foi considerada satisfatória, entretanto não escapou das observações e tem irregularidades como presença de duas crianças, podendo dificultar o atendimento em caso de intercorrências.

Ajustes como reformas dependem de verba de Brasília, afirma diretor clínico

Procurado pela reportagem, o diretor clínico da Santa Casa informou que o hospital inteiro tem irregularidades que serão sanadas na medida do possível. “Tivemos uma reunião na semana passada com a vigilância sanitária. Havia processos errados que precisavam ser ajustados de imediato e já foram. Contudo alguns dependem de processos de fluxo e trabalho e outros, como reforma do centro cirúrgico, depende de dinheiro de Brasília”, explicou.

Heitor disse ainda que a vigilância sanitária conhece a realidade do Hospital e está atuando no sentido de regularizar a situação junto com os gestores. “Mesmo com tudo isso o entendimento é de que o hospital não pode parar e nós estamos aqui trabalhando”, concluiu. Sobre prazos e verbas para as adequações apontadas no relatório, a assessoria da Santa Casa informou que a junta administrativa não irá se pronunciar a respeito.