O presidente do Federal Reserve, Ben Bernanke, afirmou neste domingo (14) que não é claro que as políticas monetárias de estímulo do banco central dos Estados Unidos prejudicam as economias emergentes, ao defender uma estratégia que alimenta preocupações na China, Rússia e Brasil.

Bernanke costuma defender frequentemente as ações do Fed de críticos domésticos, que argumentam que a política de manter as taxas de juros perto de zero ao mesmo tempo em que acelera a compra de ativos prejudica os poupadores e traz o risco de provocar inflação.

Mas, num discurso em Tóquo, Bernanke se pronunciou em relação às críticas feitas no exterior ao dizer que um crescimento maior nos Estados Unidos melhora as perspectivas mundiais. Ele também contestou as afirmações do ministro da Fazenda do Brasil, Guido Mantega, que qualificou o último esforço de estímulo do Fed como “egoísta”.

Críticos dizem que as políticas não ortodoxas do Fed enfraquecem o dólar norte-americano e valorizam as moedas de países em desenvolvimento, afetando sua capacidade de exportar.

“Não está claro, absolutamente, que políticas acomodativas em economias avançadas imponham custos líquidos em mercados emergentes”, disse Bernanke em um evento patrocinado pelo Banco do Japão e Fundo Monetário Internacional. Embora o discurso tenha sido feito numa reunião privada, o Fed entregou uma cópia para a mídia.

No mês passado o Fed anunciou um novo programa de compra de títulos que terá prosseguimento até que haja melhora substancial nas condições do mercado de trabalho, deixando de lado um pico de inflação inesperado e sustentado. Para começar, o banco central dos EUA irá comprar mensalmente 40 bilhões de dólares em títulos de lastro em hipotecas.

“Esta política não só ajuda a recuperação da economia dos EUA, mas, ao aumentar o crescimento e o gasto dos EUA, tem o efeito de ajudar a apoiar também a economia mundial”, disse Bernanke.

Amigo ou inimigo

Em 2010, quando o Fed lançou sua segunda rodada de política de estímulo monetário, conhecida como afrouxamento quantitativo, muitos ministros das Finanças pelo mundo acusaram os EUA de seguir uma política de “tornar o vizinho um mendigo”.

As críticas à rodada atual de compra de títulos, conhecida como QE3, têm sido mais silenciosas, mas não menos evidentes.

Mantega disse na sexta-feira aos 188 países membros do FMI, em , que a política é “egoísta” e prejudica mercados emergentes porque, ao mesmo tempo, rouba sua fatia de exportações e desestabiliza os fluxos de capital e movimentos de moedas.

“Países avançados não podem contar com as exportações como seu jeito de sair da crise à custa das economias de mercado emergentes”, disse ele no FMI, acrescentando que o Brasil tomará medidas que considerar necessárias para evitar efeitos danosos da atuação do Fed.

Em comentários na conferência na qual Bernanke se pronunciou neste domingo, a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, disse que as medidas agressivas do Fed, Banco Central Europeu e Banco do Japão eram “grandes ações políticas na direção certa”.

Mas ela demonstrou estar ciente do problema que essas políticas estão causando e pediu que os bancos centrais intensificassem o diálogo e a cooperação.

“Políticas monetárias acomodativas em muitas economias avançadas provavelmente vão dar origem a grandes fluxos de capital volátil para economias emergentes”, disse ela. “Isso poderia… conduzir a superaquecimento (econômico), bolhas de preços de ativos e surgimento de desequilíbrios financeiros.”

Críticos da política do Fed, tanto nos EUA como no exterior, dizem ser provável que essa política ajude muito pouco a economia dos EUA, mas traga o risco de provocar uma indesejada inflação.

O dirigente do Banco do Povo da China, Zhou Xiaochuan, afirmou que os bancos centrais “deveriam considerar drenar a excessiva liquidez injetada no mercado e eliminar a pressão inflacionária no longo prazo”, segundo informou a agência estatal chinesa de notícias Xinhua.