Para a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), o cenário mundial não oferece espaço para queda nos preços da carne bovina, e o brasileiro terá de substituir, gradativamente, o bife por frango, peixe ou carne de porco. “Com certeza podemos ter aumento da carne”, disse o vice-presidente de Finanças da CNA, Ademar Silva Júnior, ao ser questionado sobre a elevação dos preços da carne bovina, em movimento que teve aceleração no ano passado.

O comentário foi feito durante entrevista à imprensa na qual a CNA apresentou o Congresso Internacional da Carne, que será nos dias 8 e 9 de junho em Campo Grande (MS). Com o tema ”Carne de qualidade para todos os povos”, o congresso tem por objetivo melhorar o posicionamento da carne bovina brasileira no mercado internacional e, portanto, promover aumento das exportações.

Segundo Silva Júnior, há uma mudança mundial no perfil de produção e consumo de carne bovina em escala global, com reflexos também no Brasil. “Talvez o bife não vá mais combinar com o arroz e feijão. Carne é um artigo de luxo”, disse. Ele citou que há uma tendência de redução do rebanho e de aumento da produtividade, por meio de criações intensivas, pois não é mais possível abrir novas áreas para pastagens. “Com certeza a carne vai aumentar de preço”, afirmou. Dados da CNA indicam que o total de cabeças criadas em confinamento deve subir de 2 milhões para 3 milhões de animais, ainda este ano. O Brasil tem um rebanho bovino de 200 milhões de cabeças.

Para o dirigente da CNA, em cenário de carne bovina mais cara, outras fontes de proteína animal ganharão espaço no prato do brasileiro. “O Brasil tem demanda reprimida de carne de ovino, peixe, vamos ter que fazer esse mix”, disse.

O presidente do Fórum Nacional Permanente de Pecuária de Corte da CNA, Antenor Nogueira, explicou que boa parte do reposicionamento dos preços da carne bovina deve-se aos custos de produção. “A carne é uma proteína animal que não é diferente das outras. Como o frango, depende de insumos. Se o custo de produção é alto, a conta não fecha”, explicou Nogueira, argumentando que, em alguns insumos de suplementação mineral, o criador enfrentou elevação de preços de até 100% nos últimos 12 meses. “Outro aumento importantíssimo é o dos grãos. Isso vai impactar no custo de engorda dos bovinos, suínos e aves. Vai haver aumento do custo de produção e, portanto, aumento do preço do produto”, concluiu Nogueira.

O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul), Eduardo Riedel, argumentou que é impossível tentar manter os preços baixos no mercado interno, tentando isolar o Brasil das movimentações internacionais. Citou como exemplo o que ocorreu na Argentina. “A Argentina tinha 50 milhões de cabeças, e a demanda vinha aumentando no mundo inteiro. Aí fizeram reserva de mercado. O resultado foi que de 50 milhões de cabeças, foram para 40 milhões”, explicou.

Segundo Riedel, o fechamento de mercado na Argentina reduziu os preços pagos ao criador, que optou por encolher o rebanho, gerando efeitos negativos justamente no mercado interno daquele país. Ele argumentou que o efeito final foi a redução do consumo per capita de carne bovina de cerca de 70 quilos, em 2008, para 60 quilos, atualmente. No Brasil, no entanto, o consumo per capita é bem mais baixo, em torno de 37 quilos, patamar que se mantém desde o ano 2000, informa a CNA.