S.D.M.N teria feito uso de “dolantina”, analgésico de alto poder considerado pela medicina como a versão “legal” da heroína

O médico S.D.M.N foi denunciado ontem na Delegacia de Bonito pelo crime de peculato e falsidade ideológica. O motivo: ele teria se apropriado de uma ampola do medicamento “dolantina” e se automedicado.

O caso aconteceu no hospital Darci Bigaton em Bonito.

Segundo o boletim de ocorrência, o chefe de gabinete da Prefeitura Silvio Roberto Rocca estava em reunião com a junta interventora do hospital quando foi procurado por uma enfermeira que denunciou que o médico tinha pegado a ampola de remédio.

A dolantina é um medicamento anestésico do grupo da Morfina e de forte poder de ação, considerado por alguns médicos como a “heroína legalizada”.

A história começou a ganhar contornos policiais quando a vereador Luiza Aparecida, que também por coincidência estava no hospital para receber atendimento médico, percebeu que o médico havia pegado algo no carrinho de medicamento.

Segundo o procurador do Município e membro da junta interventora do hospital, José Anezi de Oliveira, eles foram informados que o profissional havia pegado uma ampola de remédio e que iria fazer uso dela.

“Já havia denúncias contra o médico sobre o vício dele. Ao final do plantão ontem (17/9) por volta das 19h fomos informados da situação. Ele atendeu um detento da delegacia e foi para uma sala fechada”, contou.

Segundo Anezi, ao tomarem ciência da situação foram até a sala e questionaram o médico que informou que o medicamento havia sido prescrito para o paciente atendido. “Mas era mentira, conversamos com o preso e ele disse que não tomou medicamento endovenoso e sim intramuscular. Foi quando prestamos queixa na delegacia”, explicou.

O procurador informou que no hospital o médico não entra mais. “No meu hospital ele não entra mais. Se ele precisa de tratamento, que vá se tratar em outro lugar”.

De acordo com informações de José Aparecido de Oliveira, advogado que está a frente do caso, o médico foi contratado pelo secretário municipal de saúde, Leonel Lemos de Souza Brito, o Leleco.

Bastante conhecido na cidade, Leleco é engenheiro agrônomo e também faz parte da junta interventora que atua no hospital. “Desde quando o S. chegou ao hospital os outros colegas médicos perceberam que ele tinha problemas com o vício em dolantina. Tentaram conversar com ele, que jurou que não iria mais acontecer”, conta o advogado.

Porém, a situação perdurou e os médicos foram reclamar com o secretário. “Para o secretário era tudo perseguição. O prefeito José Arthur (PMDB) foi informado e também teve a mesma opinião do Leleco”.

Segundo relatos de colegas, o médico continuou fazendo uso sistemático da substância, inclusive na frente de uma enfermeira. “Ela o via usando e pedia para que a enfermeira não contasse a ninguém. Ontem, quando ele fez o uso da ampola, o médico pediu então para ela confirmar que ela tinha feito a aplicação, porém ela se negou”.

De acordo com o relato das pessoas que presenciaram o fato no momento do flagrante, S. ainda tentou negar o uso da droga, mas como havia sangue no local da aplicação, o médico pegou um táxi e fugiu do hospital.

O caso foi registrado na delegacia de Bonito e será investigado. Os advogados da junta interventora já protocolaram denúncia junto ao CRM (Conselho Regional de Medicina) e o médico já responde a processo por crime de concussão.

(O nome completo do médico denunciado foi suprimido às 11h15 de 11/11/2010 e substituído pelas iniciais a pedido do mesmo. Os dados oficiais continuam disponíveis para consulta pública junto às autoridades citadas.)