Uma suposta trama envolvendo empreiteiras e empresas laranja que prestavam serviço à prefeitura de Campo Grande, revelada com declaração registrada em cartório no ano de 2004, quando André Puccinelli (PMDB) ainda era prefeito de Campo Grande, integra a farta documentação sobre o casal Puccinelli disponibilizada em ação-penal que corre no STF.

O depoimento bombástico, prestado pela ex-mulher de um dono de construtora, foi considerado pelo MPE (Ministério Público Estadual) e implicou o então prefeito. Contudo, a justiça estadual desprezou a denúncia, que hoje tramita em instâncias judiciais fora de Mato Grosso do Sul, no STJ (Superior Tribunal de Justiça) e no STF (Supremo Tribunal Federal).

De acordo com a escritura de declaração registrada no 12º Tabelionato de Notas de São Paulo, a qual a reportagem teve acesso, Marines de Araújo Bertagnolli, disse ter vivido casada por 11 anos com João Alberto Krampe Amorim dos Santos, então dono da MBM Construções e Comércio Ltda. A mulher afirma que era sócia da empresa que, segundo ela, teria sido criada “com o objetivo de realizar obras públicas para o município [prefeitura de Campo Grande] em caso de vitória do André”.

João Amorim, como é mais conhecido, segundo Marinês, era tesoureiro da campanha de Puccinelli, em 2006. À época, segundo o depoimento dela, o marido dividia a chefia de campanha do peemedebista com Eolo Ferrari, outro empreiteiro e Edson Giroto, ex-secretário de Obras da prefeitura e que hoje disputa uma vaga na Câmara Federal pela chapa de Puccinelli.

Marinês diz no depoimento de cinco páginas que ela e a cunhada, Marluci Morbi Gonçalves Beal, eram sócias de fachada na empreiteira. Ela afirma ainda que “as licitações da prefeitura eram previamente acertadas, sendo a MPM (a empreiteira de Amorim, chefe de campanha de Puccinelli) sempre beneficiada com as melhores obras”.

A ex-mulher de Amorim narra ainda que em sua casa, quando vivia junto com o empreiteiro, eram promovidos jantares freqüentados por Giroto, Ferrari, o empreiteiro dono da Engecap, também prestadora de serviços à prefeitura e, “em algumas vezes pelo prefeito André”.

Marinês diz que o então prefeito e os empreiteiros “formavam um grupo para jogar caxeta (baralho), cujas reuniões ocorriam normalmente às quintas-feiras alternadamente na casa de cada um dos participantes, sendo que a maioria delas em sua própria casa”.

A ex-mulher de Amorim diz ainda que a MBM e a Engecap funcionavam num mesmo endereço, no Edifício Quinta Avenida, local “que parecia uma verdadeira fortaleza, com portas fechadas”. Marinês disse ter desconfiado da suposta trama envolvendo seu ex-marido e a prefeitura no dia 28 de agosto de 2002, quando recebeu uma intimação de um Oficial de Justiça. Ali, segundo ela, descobriu que a empreiteira MBM estava encrencada por sonegação fiscal.

À época do depoimento de Marinês, a imprensa divulgou que dois sócios da Engecap, de Eolo Ferrari, eram garis. “… que acredita que foi usada pelo seu companheiro da mesma forma que os famosos garis foram usados na Engecap por Eolo Ferrari, amigo de Edson Giroto”, diz trecho do depoimento da ex do empreiteiro João Amorim.

Marinês afirma ainda que Amorim mantinha em sua casa um cofre cheio de dinheiro e ali é que o ex, Eolo Ferrari e Giroto “efetuavam os pagamentos das despesas de campanha”.

A mulher disse ainda no depoimento que resolveu revelar o suposto esquema por não se “conformar com a denúncia por crime em razão de atos praticados por seu ex-companheiro”.
À época, Edson Giroto disse que desconhecia o esquema e Eolo Ferrari, o dono da Engecap. O então prefeito também negou o caso e o casal parou por ai. A declaração de Marinês está anexada ao processo que corre no STJ.