O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente da Comissão Europeia, Jose Manual Barroso, não perdem a oportunidade de declarar que Brasil e União Europeia (UE) são aliados. Mas, nas fronteiras, a realidade é diferente. Dados da Frontex – agência europeia de controle de fronteiras – mostram que, no primeiro trimestre de 2010, os brasileiros foram os mais barrados em aeroportos da Europa. Segundo a agência, 25.400 estrangeiros tiveram entrada rejeitada entre janeiro e março – número menor que o de trimestres anteriores, provavelmente pela crise na zona do euro. Deles, 1.842 eram brasileiros – 6,3% a mais que no final de 2009.

 O volume só perde para o total de ucranianos barrados, que chega a 5 mil. Estes, porém, não são obrigados a tomar aviões – até andando podem tentar cruzar a fronteira de seu país com a UE. Para os europeus, os brasileiros barrados não deram garantias de que voltariam ao País e eram suspeitos de tentar entrar de forma irregular. Muitos deportados, no entanto, têm versões diferentes.

 Assim como outras nacionalidades, os brasileiros também reduziram suas viagens à Europa no auge da crise. Há um ano, eram 2,2 mil detidos. Mas, naquele momento, cidadãos russos e georgianos, além dos ucranianos, eram em maior número. Segundo a Frontex, os dados se justificam pela distância entre Brasil e Europa. Se africanos podem tentar entrar por barco e a cidadãos do leste europeu basta pegar um carro, os brasileiros precisam do avião. Mesmo assim, os vetos a brasileiros superam os de nigerianos, chineses e indianos.

Sem visto.

 Oficialmente, não é preciso visto para um brasileiro entrar na Europa. Mas, com políticas imigratórias cada vez mais restritas, a UE e seus 27 países vêm endurecendo os controles em fronteiras e aeroportos. No caso dos brasileiros, a instrução dada aos policiais aduaneiros é a de pedir provas de que têm dinheiro, hotel para ficar e, principalmente, passagem de volta. Nos últimos anos, a diplomacia brasileira tem se queixado da situação e solicitado que cidadãos sejam tratados com dignidade até a deportação. Fontes do Itamaraty contaram ao Estado que a pressão continua sendo feita. “O tema de imigração sempre surge nas reuniões com a UE”, resume um experiente negociador brasileiro na Europa.