Da escuridão à luz: Em novo desafio, cooperativas se preparam para transformar sol em energia
Responsáveis por trazer luz quando tudo era escuridão no passado, cooperativas do setor de infraestrutura de Mato Grosso do Sul viram no avanço da tecnologia caminhos para expandir as atividades, gerar mais empregos e melhorar a vida dos cooperados. Em um momento único, as cooperativas encaram o desafio imposto por uma nova era na geração […]
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Responsáveis por trazer luz quando tudo era escuridão no passado, cooperativas do setor de infraestrutura de Mato Grosso do Sul viram no avanço da tecnologia caminhos para expandir as atividades, gerar mais empregos e melhorar a vida dos cooperados. Em um momento único, as cooperativas encaram o desafio imposto por uma nova era na geração de energia: transformar a luz do sol em força energética dentro das casas e propriedades rurais do Estado.
Quando o assunto é cooperativa, muita gente pensa em setores como crédito, agropecuária ou saúde. Mas o trabalho do sistema das cooperativas do Brasil e em especial de Mato Grosso do Sul vai muito além disso. Transitar por estradas asfaltadas, por exemplo, pode ter muito do trabalho de uma cooperativa do setor de infraestrutura envolvido. É na energia na área rural que o trabalho desse grupo se destaca em Mato Grosso do Sul. Na história das cinco cooperativas desse setor no Estado está um feito que marcou a vida de muitos moradores: levar luz a lugares onde só a lamparina ou um gerador movido a combustível eram capazes de iluminar.
Foi da década de 70 para 80 que o trabalho dessas cooperativas se estabeleceu e apresentou para regiões mais afastadas da área urbana as facilidades com o fornecimento de energia elétrica. O trabalho desses grupos cumpria um papel pouco explorado pelo poder público e concessionárias de energia, que, naquela época, não viam vantagem econômica em implantar sistemas elétricos de alto custo para poucos clientes em razão da grande extensão das propriedades rurais.
Dali em diante, os grupos aprimoraram o trabalho desenvolvido na área rural melhorando suas estruturas, adquirindo caminhões, treinando equipes, se firmando na manutenção de redes elétricas e garantindo fornecimento de qualidade para a zona rural. Com o avanço da tecnologia, até fornecimento de telefone e internet passou pelas mãos das cooperativas de infraestrutura. Em um novo momento considerado um dos mais desafiadores por quem tem no cooperativismo uma vocação, as cooperativas se preparam para ingressar em uma nova realidade, a energia solar.
Hora certa
Presidente da Fecoerms (Federação das Cooperativas de Eletrificação Rural de Mato Grosso do Sul) nos últimos seis anos, Jorge Luiz Soares explica o que tem feito as cooperativas olharem para a energia solar como opção viável para os cooperados.
“No Estado temos o modelo das cooperativas autorizadas que compram energia do ambiente regulado com desconto, no nosso caso compramos da concessionária Energisa, colocamos nosso custo operacional e colocamos para o público”.
O que preocupa as cooperativas desde o fim do ano passado e faz a energia solar se apresentar como uma alternativa é um decreto assinado pelo ex-presidente Michel Temer (MDB) em dezembro de 2018. Na publicação, o então presidente determinou redução de subsídios da conta de luz por meio da CDE (Conta de Desenvolvimento Energético). Com isso, em cinco anos os descontos aplicados para as cooperativas serão extintos e o fornecimento de energia para os cooperados tende a ter reajuste.
“É um caminho sem volta que está no nosso radar atualmente e precisamos agir. A energia solar está sendo estudada pelas cooperativas como alternativa. O nosso principal desafio é fomentar o desenvolvimento rural e, por isso, os custos precisam ser justos e o serviço prestado em nível de excelência”, explica.
Como parte do planejamento para a implantação da energia solar e alternativas para as cooperativas, comitiva sul-mato-grossense visitou, em setembro, cooperativas do Rio Grande do Sul, consideradas exemplo na geração de energia no Brasil. A expectativa é que toda teoria estudada pelas cooperativas seja colocada em prática em breve e dê início ao novo momento para as cooperativas de infraestrutura no Estado.
“A cooperativa além de ser uma junção de pessoas que viram oportunidade no passado, é um grupo que busca desenvolvimento para os associados. Temos que nos adaptar ao meio para que isso se torne um negócio”.
De porta em porta
Entre os benefícios para quem recebe energia através do trabalho de uma cooperativa está a relação de proximidade e resposta rápida para qualquer problema no fornecimento de energia.
Na região de Aquidauana, Anastácio e Dois Irmãos do Buriti, mais de 1,8 mil consumidores são atendidos pela Coeso (Cooperativa de Energia e Desenvolvimento Rural do Sudoeste). O padrão é fornecido para o cooperado sem custo, explica o gerente Sebastião Caxias.
“As cooperativas têm uma proximidade maior com o consumidor. Aqui a gente conhece a realidade de cada um. Nosso diferencial é o atendimento. Em alguns casos, os consumidores ligam até no nosso celular”, brinca.
Em casos de falta de energia em propriedades que dependem da luz para manter os animais vivos, como é o caso de aviários por exemplo, o tempo resposta das equipes da cooperativa é o mais rápido possível. “Nós fazemos uma correria para conseguir resolver e chegamos o mais rápido possível porque vidas dos animais dependem da energia”, explica o gerente.
Na área rural de Campo Grande, quem atua no fornecimento de energia para 260 unidades consumidoras é a Cercampo (Cooperativa de Eletrificação Rural de Campo Grande). Diretora administrativa da cooperativa, Maria Francisca de Melo também fala sobre os caminhos estudados pela cooperativa.
“Estamos buscando outras fontes para comprar a energia com menor preço e se manter. Estudamos montar uma usina de energia solar em parceria com nossos cooperados para fazer isso juntos e o preço cair”.
Da teoria à prática
O sistema de geração de energia brasileiro vem colecionando avanços nos últimos anos. As mini e microgerações, como são chamadas, por exemplo, as placas solares instaladas em residências, têm se destacado tanto pela facilidade no acesso aos equipamentos quanto no investimento que a médio e longo prazo se torna vantajoso para os geradores.
Os custos para a instalação de uma mini ou microgeração de energia solar em casa, áreas rurais ou empresas varia muito. Vários fatores influenciam no preço final do serviço, entre eles estrutura do telhado, tamanho das placas e voltagem gerada.
Responsável pela área de orçamentos de uma das empresas de energia solar de Campo Grande, Lucas Almeida explica que para uma casa padrão de três quartos, por exemplo, o custo de implantação varia de R$ 15 mil a R$ 25 mil. Financiamentos, entre eles os oferecidos por cooperativas de crédito, facilitam ainda mais o acesso ao sistema.
O prazo para instalação das mini usinas é de 60 dias e o impacto na conta de energia é imediato. Para as cooperativas que se preparam para essa nova fase, os custos de operação podem ser reduzidos e a redução das contas para os cooperados é uma realidade cada vez mais próxima.
Em casos de geração de energia superior ao consumo mensal, os kilowatts gerados a mais são devolvidos para a rede elétrica e ficam como “crédito” para serem abatidos nas contas no mês seguinte. Todo investimento na implantação do sistema, seja para cooperativas de médio porte ou residências, tem retorno previsto no prazo de 4 a 5 anos.
Cuidados necessários
Para o engenheiro elétrico e professor da Faculdade de Engenharias da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), Edson Batista, os novos formatos de geração de energia exigem atenção para que não seja prejudicial à rede elétrica.
“A geração de energia alternativa, como a solar, é um caminho sem volta, o que temos que fazer é buscar melhorias. Hoje na UFMS temos um grupo que trabalha especificamente no cuidado ao injetar essa geração na rede de uma forma que não prejudique”, explica.
Ainda de acordo com o professor que também é pós-doutor na área pelo Departamento de Engenharia Nuclear do Tennessee, nos Estados Unidos, é necessário sempre um olhar técnico para a implantação da energia solar. “O conselho é sempre buscar empresas cadastradas para ter um resultado adequado”.
Competir cooperando
Mais do que busca por conhecimento, as cooperativas do setor de infraestrutura de Mato Grosso do Sul vivem um momento de adaptação e mudança na mentalidade. Presidente do sistema OCB-MS (Sindicato e Organização das Cooperativas Brasileiras no Mato Grosso do Sul), Celso Régis, afirma que o modelo de operação das cooperativas se tornou inviável economicamente e a diversificação é mais que necessária.
“A energia solar está em evidência no mundo todo e, no nosso entendimento, a legislação deve ser adequada para essa geração de energia também. As cooperativas precisam se adequar para a nova lógica da matriz energética, é necessário sair da zona de conforto porque daqui a pouco teremos uma energia mais barata para oferecer aos cooperados”, afirma Celso.
Seminários, encontros e aprendizado com quem é mais experiente no assunto são algumas das estratégias incentivadas pela OCB para fomentar a nova forma de produzir energia nas cooperativas do Estado. “O principal é adquirir conhecimento e nós da casa do cooperativismo incentivamos isso. Esse é um momento ímpar de planejamento e crucial para olharmos os vizinhos como parceiros e competir cooperando”, completa Celso.
Raio-x da infraestrutura
Levantamento divulgado anualmente pelo sistema OCB, revela um verdadeiro raio-x pelas cooperativas do Brasil. O Anuário do Cooperativismo publicado em julho deste ano mostra o desempenho dos grupos no ano passado.
No setor da infraestrutura, conforme os números, há atuação de 135 cooperativas em todo território brasileiro. Dessas, 69 tem o trabalho voltado para distribuição de energia. Ao todo, são 1 milhão de cooperados atendidos atendidos e 5,8 mil empregados gerados. Confira nos gráficos abaixo a evolução desse setor de cooperativas nos últimos 8 anos.
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