“Toda vez que eu chego para procurar emprego, vejo aquele preconceito escondido”, lamenta Pamela Fernandes, mulher trans de 32 anos. Ela trabalhou como cabeleireira em Corumbá até 2023, veio a Campo Grande cheia de sonhos, mas não conseguiu oportunidades. Na Capital, viu a prostituição como única forma de sobreviver e, agora, decidiu mudar de vida e procura por um emprego de carteira assinada. Pamela é uma das participantes do feirão de emprego para o público LGBTQIAPN+, que acontece na sede da Funsat (Fundação Social do Trabalho) entre as 8h e 12h desta quinta-feira (26).
“Nessa situação, qualquer vaga eu aceito”, afirma Pamela, otimista. Esta edição do Emprega CG oferece 300 vagas de emprego, algumas para contratação imediata, em 32 funções de 19 empresas. As áreas de trabalho são diversas: de açougueiro a vendedor, passando por auxiliar de enfermagem, atendente de padaria, operador de telemarketing, porteiro e jardineiro. De acordo com a Funsat, o objetivo principal é ampliar a inclusão e representatividade no mercado de trabalho.
A letra T de LGBTQIAPN+
O evento é aberto para todas as letras da sigla LGBTQIAPN+, mas o principal público que compareceu à Funsat hoje foram as pessoas trans. Para essa população, a empregabilidade é ainda mais difícil e a Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais) estima que 90% das pessoas trans brasileiras têm a prostituição como principal possibilidade de subsistência.
“Eu não quero mais sofrer preconceito. Às vezes, a única saída é a prostituição. Eu parei há uns dois meses, depois que fui agredida aqui em Campo Grande. Quero uma nova vida, trabalhar, ter minha casa própria e poder ajudar minha família. É muito gratificante ter empresas acolhendo a gente”, afirma Pamela Fernandes.

Assim como Pamela, Elisa Magno de Jesus, 36 anos, quer um serviço formal para “sair da rua”. “Vai ser um oportunidade para mudar de vida. Quero conseguir um emprego porque está muito difícil. A gente está na rua e é perigoso até um homicídio, brigas”, afirma a mulher trans. Ela calcula que há cerca de dez anos não tem uma colocação no mercado de trabalho. “O preconceito dificulta bastante, mas vontade de trabalhar, a gente tem”, explica.
Sobreviver é lutar
Pamela Fernandes vive em casa de acolhimento para pessoas em situação de vulnerabilidade, porque não tem condições de pagar água, luz, aluguel e alimentação. “Levantar da cama todos os dias e me ver nessa situação é muito triste mesmo. Eu corro atrás de serviço, mas nada dá certo. As pessoas me dão um olhar estranho e nunca tem vaga, dizem que vão entrar em contato, mas nunca dão retorno. Será que se fosse uma mulher ou homem cis, seria do mesmo jeito? O preconceito está aí, as pessoas pensam que é pouco, mas ele ainda é muito forte”, denuncia a cabeleireira.
Nayara Thalita, 20 anos, está há 2 meses na fila do desemprego, depois que saiu de um salão de beleza de Campo Grande. Ela é outra que aceita qualquer vaga, porque o importante é trabalhar. Depois de sofrer tanto preconceito, Nayara vê o feirão de empregos como mais uma forma de resistência. “Acho gratificante isso aqui, primeiramente, porque é uma luta nossa. E não é só você colocar uma roupa de mulher, se vestir como mulher. É sair na rua, dar seu nome e gritar: ‘sou desse jeito e pronto'”.

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