A relação estoque/consumo mundial deve fechar a safra 2014/2015 em cerca de 32%

A produção de nacional e mundial na temporada 2014/2015 deve ser recorde. Além do aumento da área, estimativas sinalizam que o Brasil pode ter a segunda maior produtividade da sua história.

Como a Argentina também pode ter safra recorde em 2015 e os Estados Unidos tiveram, em 2014, a maior colheita da sua história, os estoques mundiais de soja devem crescer, mesmo com o consumo também avançando. Com isso, os preços em 2015, pelo menos em dólares, devem operar bem abaixo dos registrados em 2014. A análise é do Cepea e foi publicada nesta semana.
 
Aos vendedores brasileiros, um lenitivo vem do câmbio, já que são fortes as sinalizações de desvalorização do real em relação ao dólar. O efeito do câmbio na contabilidade do produtor deve ser potencializado pelos fatos de que as vendas antecipadas estavam menores que no mesmo período da safra passada e os custos já estavam quase que totalmente travados.
 
A relação entre os custos e a receita esperada apontava, desde o final do primeiro semestre de 2014, situação melhor para a soja que para culturas concorrentes em área, como milho e algodão. Isso justificou a expansão das lavouras da oleaginosa que, segundo a Conab, podem ocupar 31,7 milhões de hectares, 4,9% a mais que na temporada passada, um recorde. Deste total, 27,6 milhões de hectares (+4,5%) seriam cultivados no Centro-Sul e 4,1 milhões de hectares (+7,7%) no Norte/Nordeste.

Produção brasileira
 
Apesar de, inicialmente, índices pluviométricos baixos no Sudeste e Centro-Oeste e elevados no Sul terem atrasado o cultivo das lavouras com variedades precoces e superprecoces, a volta das chuvas a partir do final de outubro permitiu o avanço do semeio ainda em período considerado ideal, levando à expectativa de boa produtividade. A estimativa da Conab divulgada em 10 de janeiro apontava a colheita de 50,4 sacas de 60 kg/hectare em média, perdendo apenas para a produtividade da temporada 2010/2011. Com isso, a produção aumentaria 11,38%, chegando a 95,9 milhões de toneladas em 2014/2015. Destes, 83,95 milhões de toneladas (+10,3%) devem ser colhidas no Centro-Sul e 11,97 milhões de t (+19,5%), no Norte/Nordeste.

Somando a produção, estoque inicial e o pouco que é importado, o Brasil teria disponibilidade de 98,2 milhões de toneladas. Destes, 44,2 milhões de ton devem ser processadas internamente, 49,6 milhões exportadas ainda em grão e 4,3 milhões de ton ficariam para o estoque final.

O processamento interno e as exportações de soja em grão também devem ser históricos, assim como a produção e o consumo interno de farelo e de óleo de soja. No caso da exportação, adicionando-se o farelo e o óleo exportados, cerca de 2/3 da produção brasileira de soja deve ser enviada ao mercado externo.

Preços
 
Se a produção parece seguir bem, para vendedores, o problema são os preços. Segundo dados do USDA, a relação estoque/consumo mundial deve fechar a safra 2014/2015 em cerca de 32%, o maior já registrado desde 1964/1965. Com isso, as negociações na Bolsa de Chicago (CME Group) sinalizavam preços na casa de US$ 10,00/bushel para os próximos três anos, pelo menos, o que significaria os menores valores desde a safra 2010/2011. Os preços do óleo de soja também tenderiam a poucas mudanças nos próximos anos, operando entre US$ 0,32/lp e US$ 0,33/lp. Já as cotações do farelo teriam quedas de 7,5% durante o ano de 2015, com o contrato Dez/15 da Bolsa de Chicago chegando a US$ 333,00/tonelada curta.
 
Para o Brasil, levantamentos do Cepea apontavam negócios para exportação entre US$ 23,00 e US$ 24,00/sc 60 kg, FOB Porto de Paranaguá, para o primeiro semestre de 2015, também um dos menores níveis desde 2010. Mantendo-se como referência as negociações FOB, embarque por Paranaguá, dados do Cepea indicam preços ao redor de US$ 400,00/ton. Para os derivados, há tendência de queda mais intensa até abril/15. Para o óleo de soja, os preços médios passariam de US$ 760,00/t, em jan/15, para US$ 695,00/t, em abril, mantendo-se neste patamar nos meses seguintes. Para o farelo, as cotações passariam de US$ 425,00/t para embarque em janeiro por Paranaguá para US$ 383,00/t em abril.

Balanço janeiro 

Em janeiro, com o avanço da colheita, a disponibilidade de produto aumentou nos armazéns. No entanto, a liquidez esteve ainda bastante baixa, diante da retração vendedora em face das quedas dos preços. Compradores, por outro lado, esperavam valores ainda menores e aguardavam o recebimento do produto já negociado. Sojicultores comentavam que aqueles que fixaram o preço ainda em 2014 conseguiram um bom retorno e não aceitavam vender nos patamares vigentes. Com isso, as vendas estavam significativamente atrasadas em relação às temporadas anteriores.
 
A média ponderada da soja no Estado do Paraná, refletida no Indicador CEPEA/ESALQ, caiu 7% em janeiro, a R$ 57,58 sc no dia 30. O Indicador da soja Paranaguá ESALQ/BM&FBovespa, que é baseado em negócios realizados na modalidade spot, referentes ao grão depositado no corredor de exportação de Paranaguá, foi de R$ 61,05/sc de 60 kg no dia 30, queda de 0,23% no mês
 
Em relação aos derivados, o mercado esteve mais aquecido apesar das quedas recentes. Indústrias optaram pelo processamento, em janeiro, pois as margens nas negociações do óleo e do farelo melhoraram bastante ainda nos últimos meses de 2014.