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Economia

Tarifaço encarece churrasco nos EUA, enquanto Brasil vê queda na inflação da carne

Associação dos Criadores de Nelore de MS analisa que o tarifaço da carne saiu mais caro aos Estados Unidos do que ao Brasil
Murilo Medeiros -
Decisões do Ministro Alexandre de Moraes foram o estopim para o tarifaço (Foto: Henrique Arakaki, Jornal Midiamax)

O preço da carne bovina disparou nos Estados Unidos, chegando a R$ 150 por quilo, o valor mais alta da história americana. Enquanto isso, no Brasil o cenário é de desaceleração da inflação do produto. Representante do setor ouvido pelo Jornal Midiamax analisa que o tarifaço de Donald Trump pesou mais ao bolso dos próprios americanos que dos brasileiros, no que se refere à proteína animal.

Na segunda-feira (18), a pesquisa mensal de inflação estadunidense revelou que a carne para churrasco atingiu uma alta de 3,3% em um mês e 9% nos último seis meses. Já a carne moída — usada para hambúrgueres, alimento muito presente na dieta do país — subiu 3,9% em julho e 15,3% no último semestre, chegando a R$ 75 o quilo. Além das tarifas, a redução dos rebanhos americanos também ajuda a elevar o preço por lá.

Em terras brasileiras, a inflação de carnes é inversa: queda de 0,3% no mês e 0,95% em 2025, segundo o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), divulgado dia 12. Em julho, vários cortes de carne bovina registraram deflação no Brasil: filé mignon (-1,36%), patinho (-1,14%), acém (-0,06%) e costela (-0,81). Outros cortes tiveram uma alta, mas menor que um ponto percentual, como picanha (0,43%) e músculo (0,72%).

Tarifaço da carne custou caro… aos EUA

Paulo Matos, presidente da Nelore/MS (Associação Sul-Mato-Grossense dos Criadores de Nelore), acredita que os preços devem subir ainda mais nos Estados Unidos, porque os americanos têm consumo de carne muito alto e vários fatores levam à alta. “Acima de 110 quilos por americano em um ano, o rebanho deles está reduzido e arroba lá já está acima de US$ 120”, diz. A carne brasileira custa US$ 52, segundo ele.

“Acho que a tendência para eles não vai ser boa por conta desse tarifaço. Com certeza o americano vai continuar pagando mais caro pela carne e o impacto vai ser maior em cima do mercado dos EUA”, analisa o presidente da Nelore/MS.

No mês de julho, as exportações de carne bateram recorde no Brasil, apesar das taxas. A expectativa do setor, segundo Paulo Matos, é que agosto também registre bons resultados. “Agosto desenha um novo recorde de . A questão do tarifaço não teve impacto, como a gente já previa”, opina.

Outros motivos para a alta

Por outro lado, Alcides Torres, fundador da Scot Consultoria, empresa que analisa mercados agropecuários, acredita que o efeito do Brasil nos preços dos EUA é menor. “O impacto é realmente em função da queda da produção norte-americana”, explica. Ele avalia que este é “um problema estrutural da produção interna” do país norte-americano.

Segundo ele, o rebanho norte-americano é o menor desde 1951, quando a 2ª Guerra Mundial causou uma série de mudanças na economia global. Além disso, os Estados Unidos continuam sendo grandes exportadores e, por isso, importam carne do Brasil, da Austrália e de outros países. Assim, o consultor analisa que as taxas são absorvidas pelos intermediários e não chegam ao consumidor final.

“Mesmo com um imposto que já era alto, a nossa carne chegava competitiva aos EUA, mais barata. Então, o governo americano exportava os filés deles, os cortes nobres, e consumia para hambúrguer as carnes brasileiras e, claro, alguns outros cortes nobres também. Com o tarifaço americano, praticamente há um embargo. A gente deixa de conseguir entregar mercadoria aos Estados Unidos”, afirma Alcides Torres.

Variação do arroba

Em 15 julho, quando Trump já tinha anunciado as tarifas de 50% e a incerteza tomava consumidores, frigoríficos e produtores, a arroba do boi gordo, à vista, registrou queda em , fechando em R$ 298,50. Em Campo Grande e em , os preços se mantiveram estáveis, em R$ 301,50.

De lá para cá, as taxas entraram em vigor e o mercado se estabilizou. Ontem (18), o preço do boi era o seguinte: R$ 315 em Dourados, R$ 314 em Campo Grande e R$ 312 em Três Lagoas. Apenas esta última registra alta e as outras duas praças estão em estabilidade, conforme a Scot Consultoria.

Em agosto, a tendência natural é de alta no preço do boi no campo. Em 2024, segundo o portal Agrolink, a alta começou em julho e terminou só em novembro. Isso acontece porque, com a seca, os pastos se desenvolvem menos, o que impacta na alimentação do gado e no volume de abastes.

Além disso, neste período há a passagem de uma para outra, conhecido como entressafra, quando nem todas as propriedades conseguem comercializar bois. “Aí, começa a entrar agora o boi de confinamento que também, pelas informações que a gente tem, não vai impactar muito no volume de abate”, afirma Paulo Matos, presidente da Nelore/MS.

O fundador da Scot Consultoria, Alcides Torres, confirma a expectativa de alta. “Teve um baque no anúncio e o mercado aproveitou para especular, causando uma queda na arroba do boi gordo. Agora, a tendência é de alta para os próximos meses”, explica.

Relembre o tarifaço

Entrou em vigor no dia 6 de agosto o tarifaço de 50% imposto pelos Estados Unidos a produtos brasileiros. No entanto, a taxação extra impacta a venda da carne bovina, enquanto, livra outros produtos mais vendidos por Mato Grosso do Sul aos norte-americanos. Isto porque Trump voltou atrás e excluiu 694 produtos da taxação.

A celulose e o ferro-gusa, produtos importantes para , não tiveram a taxação adicional de 40%, que já soma a taxa de 10% de exportação ao país, padrão para tudo que entra nos Estados Unidos. Também ficaram de fora do tarifaço o suco e a polpa de laranja, combustíveis, minérios, fertilizantes e aeronaves civis, incluindo seus motores, peças e componentes.

Os Estados Unidos representaram apenas 5,97% das exportações de produtos sul-mato-grossenses no primeiro semestre de 2025, conforme aponta o relatório Comex de junho de 2025, elaborado pela Semadesc (Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação de MS).

Logo, de um total de 5,2 bilhões de dólares exportados no período, cerca de 315 milhões foram para os EUA. Assim, o país de Trump figura como segundo maior comprador de MS. A carne bovina é o produto mais exportado de Mato Grosso do Sul para os Estados Unidos; rendeu, em 2024, total de 225 milhões de dólares.

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