Dois mil e vinte e cinco ainda nem terminou, mas, se a retrospectiva fosse feita agora, uma coisa é certa: foi o ano do “morango do amor”. Prová-lo, aliás, virou um verdadeiro evento gastronômico, filmado e compartilhado exaustivamente nas redes sociais. Confeiteiras aproveitaram o momento, a fruta disparou de preço e, agora, já voltando ao valor normal, o episódio se consolida como mais um case de sucesso no país.
No auge do “hype”, a caixa na Ceasa (Central de Abastecimento) chegou a custar R$ 55 e R$ 90 nas mãos de vendedores ambulantes em Campo Grande, conforme apurado pela reportagem. A escalada durou cerca de três semanas, e nada foi tão comentado quanto o “morango do amor”.
Passada a “febre”, é hora de olhar além da tendência e reconhecer o importante papel do morango na economia brasileira. Muito antes de viralizar nas redes, a fruta já ocupava espaço com destaque na agroindústria nacional, sempre associada à sustentabilidade, com polos produtivos que movimentam cadeias inteiras, geram empregos e ampliam a renda em diversas regiões do país.
Além disso, sua versatilidade como matéria-prima de diversos produtos mantém viva a memória afetiva de sabores que marcaram gerações.
Nesse contexto de valorização crescente, o doutor em engenharia Sandro Bonow, geneticista e pesquisador da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) há 19 anos, atual responsável pelo Programa de Melhoramento Genético de Morangueiro, ressalta que provou o fenômeno midiático e gastronômico chamado “morango do amor”, mas destaca que sua paixão mesmo é saborear a fruta in natura.
“Já provei o morango do amor e não nego que é uma delícia, porém, enquanto pesquisador que trabalha com morangos, o olhar é sempre para o começo do morango, no caso, a fruta. Gosto dela pura, vermelhinha, aquele gosto de sabor de infância. O morango é uma delícia e essas formas de preparo vão agregando valor, trazendo novos públicos e é importante que esta fruta saudável esteja dentro do consumo da população brasileira, com diferentes formas de preparo. O morango do amor foi um case de sucesso brasileiro e é uma delícia realmente”, comentou Sandro.
Ao Jornal Midiamax, o pesquisador afirma que a produção de morangos no Brasil tem crescido a cada ano, ou seja, é uma cultura em expansão que alimenta toda a cadeia produtiva — desde o produtor de mudas e frutas até o consumidor final. Neste contexto, as pessoas consomem morangos entre uma variedade de espécies, com diferentes cores, sabores e até capacidade de conservação na geladeira. O que muita gente não sabia, até então, é que os morangos cultivados no Brasil eram todos originários de outros países.
Confira a entrevista exclusiva:
Embrapa iniciou pesquisa inédita para ter morango 100% brasileiro
“Estas cultivares, estas variedades produzidas pelos agricultores brasileiros, tradicionalmente, vêm de outros países, principalmente, os Estados Unidos. E a Embrapa, visando o desenvolvimento de cultivares bem adaptados às condições brasileiras, que atendam à demanda dos produtores brasileiros, mas também dos consumidores brasileiros, que é por frutas mais doces, desde 2010 retomou o trabalho de desenvolvimento de variedades de morango brasileiras, principalmente para atender à preferência da cadeia produtiva e dos consumidores brasileiros”, argumentou Bonow.
Sendo assim, diante de tamanha dedicação dos pesquisadores, no ano de 2024 a Embrapa Clima Temperado desenvolveu uma cultivar nacional de morango, conhecida como Morango BRS DC25 (Fênix), a qual se destaca pela precocidade no início da produção dos frutos e pelo maior equilíbrio entre o açúcar e a acidez.
“Houve essa disponibilização de uma primeira nova variedade, de uma cultivar, que é a BRS Fênix. É algo feito por brasileiros, para os produtores e consumidores brasileiros, procurando atender estas demandas. Então, é uma semente 100% brasileira de morango. É isto que a gente chama de uma cultivar, com mudas sendo vendidas aos agricultores. Eles plantam e produzem as frutas”, explicou o pesquisador.
Ao longo de 14, quase 15 anos de estudo, a serem completados em 2025, o pesquisador afirma que foram realizados testes, estudos e cruzamentos, resultando em uma combinação genética de diferentes plantas reunidas em uma só, que deram origem a um morango capaz de satisfazer as necessidades dos produtores e consumidores brasileiros: uma fruta mais doce.
“O consumidor brasileiro gosta de frutas mais doces e prefere frutas grandes, com cores vibrantes. Por exemplo, o morango é uma fruta que a gente compra muito, inicialmente, com os olhos. É uma fruta grande, de formato bonito, aquele vermelho bonito. Então, a gente precisa oferecer aos consumidores, na parte das pesquisas no caso, plantas e frutas com estas características atrativas”, disse Bonow.
MS tem potencial para o plantio de morangos?
O estudo, que ocorre no Rio Grande do Sul, mais precisamente em Pelotas, está em processo de expansão para regiões com outras condições climáticas, como é o caso de Mato Grosso do Sul.
“O estado está crescendo muito neste sentido e é uma ótima pergunta querer saber sobre as condições favoráveis para o cultivo do morango. A fruta se adequa muito bem a climas temperados, então, por muitos anos, o cultivo tem ocorrido em estados como Rio Grande do Sul e São Paulo ou regiões mais altas. Só que, agora, novas fronteiras de produção de morango estão começando a abrir no país. E Mato Grosso do Sul está dentro deste desafio, por ser uma região mais quente”, explicou o pesquisador.
Conforme Bonow, as pesquisas estão atuando para atender à necessidade do Brasil em desenvolver novas áreas para o cultivo do morango. “Cabe à pesquisa brasileira e à Embrapa, principalmente, desenvolver novas variedades que se adequem a estas condições climáticas brasileiras, fazendo a cadeia se desenvolver, fortalecendo os produtores, consumidores e garantindo uma abundância maior de frutas em outras épocas, além do crescimento interno, até porque o segmento da agroindústria só cresce“, ressaltou.
No caso do morango, a agricultura familiar se estabelece em sua grande maioria. “É aquele pequeno produtor, cuja mão de obra é o pai, mãe e filhos, os quais começam com pequenas áreas, em uma cultura intensiva. Ou seja, ela trabalha a semana toda, mas também fornece colheita semanal. É uma renda semanal que entra na vida destas famílias. E a gente tem acompanhado em todo o país este crescimento”, comentou o pesquisador.
‘Colhe e paga’ faz parte da experiência em fazendas de morango

Bonow comenta também que o aumento da renda favorece o zelo com a produção e que, por isso, muitas propriedades estão incluindo a experiência “colhe e paga”. “É um momento para entender de onde vem a fruta, fazer a própria colheita, então, é uma experiência muito rica, principalmente para crianças.”
Questionado se o preço da fruta pode diminuir com a semente brasileira, Sandro afirma: “A perspectiva é que a gente tenha uma oferta de mudas com preço um pouco mais baixo e de ótima qualidade, de cultivares nacionais adaptadas às nossas condições. Porém, esta é uma questão muito de mercado. Só que eu sempre ressalto: é uma fruta muito atrativa. Quem produz morango, vende. É sustentabilidade, agroindústria e economia circular”, concluiu.
Popularidade do “morango do amor” impulsiona produção e consumo
O aumento na produção e no consumo do morango tem movimentado o campo e a agroindústria em Mato Grosso do Sul, impulsionado pela popularidade do “morango do amor”. A avaliação é da tecnóloga em alimentos e técnica em agronegócios e fruticultura, Juliana Biazon.
Segundo ela, o fenômeno combina dedicação artesanal das confeiteiras, expansão da renda e maior demanda dos consumidores por produtos atrativos e de qualidade. Juliana explica que muitas mulheres encontraram no preparo do morango uma alternativa de sustento, conseguindo pagar contas e ampliar a lucratividade.
“Houve um crescimento da renda dessas confeiteiras, das confeitarias no geral e das que trabalham em casa. Por ser um trabalho muito artesanal, elas estão tendo uma lucratividade maior”, afirmou.
Esse movimento no consumo também gera reflexos diretos no campo, com produtores buscando maior capacitação para atender às exigências do mercado.
Para a especialista, o clima de Mato Grosso do Sul representa um desafio, mas ao mesmo tempo exige que o produtor adote técnicas mais apuradas. “Aumentou muito a demanda e, por ser um estado com clima desafiador, o produtor precisou se capacitar melhor para que o produto chegue com ótima qualidade às gôndolas, às confeitarias e ao consumidor final”, explicou. A aparência e o sabor são diferenciais, já que o consumidor começa a comer “com os olhos”, e um produto visualmente bonito tende a ter maior aceitação.
Agroindústria e cuidados sanitários
Além da fruta in natura, a expansão do morango abre espaço para a agroindústria, com a fabricação de geleias, doces, recheios e coberturas. “O morango sempre foi uma estrela. Podemos dar a ele novos formatos, seja em doces cristalizados, em calda ou em geleias, prolongando o tempo de vida útil e reduzindo desperdícios”, destacou Juliana.
Ela ressalta que o chamado “shelf life”, ou tempo de prateleira, depende de boas práticas de manipulação e fabricação. Neste processo, a sanitização é indispensável. “Depois de colher, o produtor deve armazenar corretamente e, antes do processamento, lavar a fruta e deixá-la de molho por cerca de 10 minutos em uma solução de uma colher de sopa de água sanitária para cada litro de água, seguida de enxágue em água corrente. Esse cuidado aumenta o tempo de vida do morango e garante um produto seguro para consumo”, explicou.
Juliana reforça que a saúde do manipulador também é essencial para garantir a qualidade final. “Não adianta ter um produto de excelente qualidade se o manipulador não estiver bem de saúde, ou o contrário. As duas coisas caminham juntas”, afirmou.
Para a especialista, o morango sempre terá espaço de destaque nas vitrines das confeitarias, mas a inovação nos modos de preparo é que vai definir os diferenciais de mercado. Ela comenta que a presença constante da fruta em padarias e confeitarias demonstra sua força tanto no aspecto nutricional quanto na aceitação popular. “Raramente você entra em uma doceria e não encontra um produto com morango logo na vitrine. Ele sempre será consumido”, concluiu Juliana.
Geleia de morango iniciou sonho de irmãs na agroindústria

Primeira a ser produzida e considerada campeã de vendas, a geleia de morango é um produto crucial na empresa campo-grandense das irmãs Leila Oliveira Tinti e Eliana Aparecida Tinti, de 59 e 62 anos, respectivamente. Com apenas R$ 60 e um sonho, há cinco anos, fizeram tudo acontecer, movimentando a economia circular e formalizando a empresa “De Colher em Colher” como agroindústria, com apoio do Senar-MS (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural).
No entanto, no início, tiveram a doce ilusão de que seria algo fácil, principalmente pelo fato de o produto levar somente três ingredientes: fruta, açúcar e um ácido, sendo o limão ou até mesmo o ácido cítrico, por exemplo. Ao mesmo tempo, conscientes de que a maioria das pessoas, inclusive crianças, gostam muito de morangos, escolheram este sabor para a primeira remessa.

“Nós tínhamos o sonho de ter a nossa casa própria e pensamos em algo para complementar a renda e a aposentadoria. Minha irmã era corretora de imóveis na época e, fazendo os cálculos, a gente viu que não daríamos conta, então, veio a ideia de fazer algo para aumentar nossos ganhos”, relembra Leila.
Na época, fizeram a inscrição no MEI (Microempreendedor Individual), em Campo Grande, e discutiram o que seria feito.
“Escolhemos a geleia, compramos os ingredientes e tentamos. Eu ainda era CLT [Consolidação das Leis do Trabalho]. Trabalhava de dia e fazia geleias à noite. Foi assim que tudo começou, bem na época do boom das feiras culturais, mas, primeiro, comecei oferecendo aos amigos e colegas de serviço. Cheguei falando: ‘Estou empreendendo, fiz geleias e gostaria que vocês experimentassem’. E aí fomos evoluindo, melhorando cada vez mais e fazendo cursos”, explicou a empreendedora.
Validação do produto
Mesmo com boa aceitação, elas se lembram de alguns desafios.“Quando a gente não é conhecido e o nosso trabalho é boca a boca, é mais demorado fluir a coisa. Teve, sim, feiras e eventos em que vendemos apenas um potinho, mas, hoje, não saímos de nenhum lugar sem vender dezenas de potinhos. A chave do negócio é a persistência. Se não tiver persistência, não vai a lugar nenhum. E aconteceu tanta coisa conosco, nos últimos cinco anos, que tínhamos tudo para desistir, mas, eu pensava: ‘É tudo o que eu tenho’. E não podia desistir”, contou Leila.
Outro momento importante, lembrado pelas irmãs, foi quando Leila precisou pedir demissão. “Eu sei que é algo que aconteceria naturalmente, mas precisou ser na metade do percurso. Foram questões particulares, de família, que necessitavam da minha ajuda e precisei correr atrás para ajudar, saindo do serviço. Foi aí que nós agarramos a ideia como nunca e, inclusive, foi com a minha indenização trabalhista que construímos a nossa cozinha industrial. Tivemos toda a orientação do Senar/MS para isso, juntamente com o Sebrae/MS, pois passamos a participar de vários programas”, ressaltou a empreendedora.
Rememorando a trajetória, as criadoras do “De Colher em Colher” comentam que, mesmo com medo, escolheram o caminho certo. “Além de fazer vários cursos e capacitação, eu entrei na faculdade de gestão e marketing de pequenos e médios negócios. Iniciei aos 50 anos e, desde o início, falei para a Leila sobre a necessidade de formalizar a empresa, ter uma marca, tudo certinho. E foi a minha filha que teve a ideia de fazer uma enquete nas redes sociais, pensando em qual dos três seria o melhor nome. E aí escolhemos o mais votado por amigos e clientes”, afirmou Eliana.
Industrialização assegura mais visibilidade

Com a logo, datas de validade, lacre e etiqueta prontos, faltava apenas a tabela nutricional colada no potinho.“Contratamos uma empresa e continuamos tendo apoio de pessoas que realmente queriam o nosso crescimento. A partir daí, o nosso produto passou a aparecer mais, passou a ter a nossa cara. E isto é muito importante para o cliente também, olham para nossa mesa, para o nosso capricho, a visibilidade do produto é outra”, ponderou Leila.
Neste momento, ambas entenderam que era necessário o crescimento, bem como o apoio das instituições parceiras. Além disso, disseram uma frase marcante: “A vida vai mostrando para você que cada época tem uma etapa.”
“Sem isso, a pessoa pode pagar um preço muito alto, independente do produto que for trabalhar. No nosso caso, contratamos uma nutricionista e começamos a entender mais sobre cada processo. Foi gostoso também estudar depois dos 50 anos. Eu trabalhei a vida inteira como corretora de imóveis e minha irmã no financeiro de uma empresa, áreas bem diferentes. E foi muito legal me formar no mesmo ano que a minha filha”, comentou Tinti.
Inspiração na infância

Paranaenses de Cornélio Procópio, mas sul-mato-grossenses no coração, Leila e Eliana relembram que a mãe e a tia sempre se reuniam para fabricar doces.“Quando era época de abóbora então, elas faziam todo o processo. Minha tia tinha um forno enorme, daqueles de assar pão, de alvenaria e no fundo do quintal, e nós duas temos esta memória afetiva. As duas eram muito sábias e a gente também lembra das geleias que elas faziam, licor, até do pé de jabuticaba no fundo do quintal. A cozinha é isso, tem essa memória afetiva mesmo”, comentaram.

E foi justamente nesta imersão ao passado — com muito morango no cardápio — que criaram os “kits do cerrado”. “Estes produtos são vendidos em grande quantidade, principalmente após entrarmos para o Made In Pantanal e ficarmos expostos no site do Sebrae. É uma linha do cerrado, que valoriza o sabor regional, então também temos geleias de guavira, bocaiuva, araticum, jatobá, pequim com pimenta e muitos outros. Os turistas gostam bastante, além de empresas, que adquirem para dar de presente”, contou.
As irmãs falam que a construção da cozinha industrial, no Jardim Petrópolis, em Campo Grande, foi a “virada de chave” do negócio.
“A maioria das pessoas compra no formato delivery, mas muita gente vem aqui buscar também, além do público que conquistamos nas nossas feiras e eventos. Teve mês que fizemos 22 feiras e a gente sente também que é muito no boca a boca. E a nossa campeã, sem sombra de dúvidas, é a de morango, feita com muita fruta”, ressaltou.
Sustentabilidade e economia circular
Nos últimos dois anos, as empreendedoras destacam que vêm trabalhando a sustentabilidade e a economia circular como pilares fundamentais em sua agroindústria. Já na produção, buscam aumentar a variedade de produtos oferecidos ao cliente, mas garantem que alguns ingredientes não podem faltar.
“Tudo começou quando olhamos a casca do abacaxi e da tangerina e pensamos no que poderia ser feito, momento em que criamos um novo produto. Posso dizer que o sabor é um espetáculo. E aí montamos o chutney de cebola caramelizada, principalmente porque jogávamos muita casca de cebola e de alho. Olhando a quantidade mensal, era muita mesmo, então veio a ideia de reciclar, e nasceu o sal saborizado e outros produtos”, argumentou.
Orgulhosas de tudo o que construíram, as irmãs agora participam de um novo projeto, desta vez, dentro da universidade. “A gente entendeu que não é só a fruta em si. É necessário entender como ela age e que cada uma tem uma característica. Então houve muito estudo até chegarmos ao nível que estamos hoje. Aprender a misturar os sabores, entender as características mesmo. E o objetivo é repassar esse conhecimento e continuar participando dos projetos, cada vez mais projetos”, encerrou Leila.
Suspiros artesanais em agroindústria no Pantanal

Em 2019, quando a pandemia chegou como uma tragédia avassaladora, muitas pessoas ficaram desempregadas, isoladas e em busca de novas habilidades. Foi nesse contexto que Adriana Balzan, de 52 anos, encontrou uma nova profissão: confeiteira. Na época, ela havia acabado de se mudar de uma fazenda no Mato Grosso para o Pantanal sul-mato-grossense e buscava uma nova ocupação.
“Um pouco antes de tudo acontecer, a pandemia, no caso, as pessoas iam a muitas festas e os suspiros estavam no auge. Meu filho foi a um aniversário aqui em Coxim e trouxe um. Logo depois eu soube que precisaram encomendar de Campo Grande, porque aqui ainda não tinha. Tive essa conversa com minha filha mais velha e aí decidi o que eu iria fazer. De lá para cá foram cursos, capacitações, com pequenos atendimentos no varejo, até chegar em larga escala”, afirmou Adriana ao Jornal Midiamax.
No início, Adriana oferecia apenas os suspiros modelados. Porém, em 2020, começou a trabalhar com versões saborizadas. “Logo que eu comecei, todo mundo saiu cancelando festas por conta da pandemia. Então tive que me readaptar, até que surgiram os saborizados. Tudo começou com pequenas quantidades, mas aí tomou forma e passei a oferecer em larga escala. São seis municípios que fornecemos: Coxim, Rio Verde de Mato Grosso, São Gabriel do Oeste, Camapuã, Chapadão do Sul e Costa Rica”, ressaltou.
Ao longo de cinco anos, Adriana aprimorou a receita e hoje tem sua própria fórmula. Ela brinca que o suspiro é “temperamental” e exige atenção até às condições climáticas do dia, como calor ou umidade. Conta ainda que a receita original era de uma profissional de Brasília, mas que fez adaptações até alcançar o resultado atual.

“Eu sempre tive os sabores tradicionais e, mais recentemente, lancei o de tereré. Passei por uma consultoria do Sebrae/MS para me ajudar com a embalagem, rótulo, até que deu certo oferecer sabores nossos, como baru e pequi. São produtos de altíssima qualidade, não usamos nada de essência. Pego tudo do zero e transformo. O baru, por exemplo, vem das comunidades que catam, processam e vendem para a gente. E aí fazemos todo o descarte correto da produção. As cascas de ovos vão para adubo, as cartelas são doadas para reaproveitamento, e até as gemas que sobram viram ração para os cães. Digo que não é um suspiro, é o suspiro”, argumentou.
Sobre o sucesso recente do “morango do amor”, Adriana afirma que acompanhou com atenção, apenas confirmando o que já sabia:
“O sabor morango sempre foi o campeão de vendas. Atendo cinco municípios com os sabores tradicionais e o morango é o mais vendido, é o saborzinho da infância. O morango está em alta agora, mas ele sempre esteve em alta comigo, muito antes deste sucesso todo. Esse sabor é bom demais”, finalizou.
Cultivo orgânico em MS

A explosão do “morango do amor” impulsionou a procura pela fruta em todo o estado. Em Campo Grande, no entanto, o produtor João Duarte Nogueira, de 68 anos, já apostava no cultivo orgânico bem antes da tendência viral.
No sítio Sagarana, na zona rural da capital, ele mantém uma produção ainda considerada pequena, mas que vem atraindo famílias interessadas em viver a experiência da colheita direto do pé.
Em entrevista ao Jornal Midiamax, ele contou que a produção, ainda considerada pequena, se tornou destino de famílias interessadas em vivenciar a experiência da colheita diretamente do pé. Há cerca de dois anos e meio, João cultiva 2,5 mil plantas de morango em sistema semi-hidropônico, ou seja, fora do solo, com substrato e sem uso de agrotóxicos.
As variedades cultivadas por lá são importadas da Espanha e dos Estados Unidos. O produtor explica que cada planta pode produzir até 1 kg da fruta por ano, o que dá à produção um potencial de até 3 toneladas anuais.“Aqui nós estamos produzindo morangos sem o uso de produtos químicos, principalmente agrotóxicos”, ressalta.
Segundo ele, o fenômeno do “morango do amor” impactou diretamente na demanda: “As mídias sociais divulgaram muito essas receitas. O brasileiro gosta desses impactos, onde todo mundo se apaixona por um produto e isso viraliza”, observa.
João explica ainda que o cultivo começa em maio, aproveitando o período de dias mais curtos, que favorece a floração. A colheita se estende até o fim do ano, embora com menor volume nos meses mais quentes: “Estamos em uma época favorável à produção do morango porque a floração é maior. Então, a produção é maior”, afirma.
Alto potencial para fruticultura
O secretário executivo de Desenvolvimento Econômico Sustentável da Semadesc (Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação), Rogério Beretta, destaca que a exemplo do cultivo do morango, o estado possui alto potencial para a fruticultura.
“Por aqui estamos no auge com a produção de laranja. É algo que já está acontecendo — este grande crescimento do plantio. São mais de 35 mil hectares de projetos com a laranja, que serão implantados no estado. E podemos ainda falar do potencial que Mato Grosso do Sul tem para melão e melancia, já que existe uma região que produz muito no sul do estado”, argumentou.
Beretta também cita exemplos como a produção de goiaba na região de Dourados e Itaporã, além de grandes áreas cultivadas com acerola, limão e, mais recentemente, açaí em Aparecida do Taboado. “Isso sem falar no grande potencial para a produção de maracujá e caju, por exemplo. Então, existe clima e solo favoráveis para a produção de frutas aqui em Mato Grosso do Sul. Obviamente, isso depende de um arranjo com as indústrias, as agroindústrias”, finalizou.
Pioneirismo

O produtor rural Julio Cesar Ricart, de Maracaju, a 159 km de Campo Grande, começou em abril deste ano uma nova fase em sua trajetória no campo: o cultivo de morango. Com 500 mudas da variedade San Andreas, importadas da Espanha, ele implantou um sistema semi-hidropônico em sua propriedade, tornando-se pioneiro na cidade com essa tecnologia. Toda a produção está sendo destinada à alimentação escolar do município.
“Eu trabalho com a merenda escolar desde 2010 com a produção de mel. Depois parti para hortaliças e, mais recentemente, frutas como mamão, goiaba, pocã e melancia. Sempre tive a ideia de buscar inovação, de trazer produtos que não existem no município. Foi aí que surgiu o interesse pelo morango”, contou Julio.
Sem especialistas no município e com pouco acesso local à assistência técnica para o cultivo da fruta, Julio buscou conhecimento por conta própria. “Fui pesquisar variedades, cultivos e tecnologias pela internet, até encontrar o sistema semi-hidropônico, muito usado no Sul do país. Fiz cursos online, preparei o solo, construí a estrutura suspensa com estufa e sombreamento. Tudo isso foi novo aqui.”
‘Toda a produção está sendo entregue às escolas’, diz produtor
A colheita começou recentemente, com média de 400 a 500 gramas por planta. Toda a produção está sendo entregue às escolas municipais por meio do PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar). “Conversei com a nutricionista responsável pelo cardápio e ela aceitou fazer o teste com as crianças. Foi muito bem aceito, sem nenhuma rejeição.”
Julio também destaca que, por fornecer diretamente ao município, a forte oscilação de preços do morango no mercado, que chegou a custar R$ 60 o quilo, não o afetou. No entanto, ele reconhece o potencial comercial da fruta em Maracaju. “Estou recebendo muitos pedidos no particular. A ideia para o próximo ano é ampliar a produção, montar uma estufa maior com dois mil pés e levar também para as prateleiras dos mercados da cidade e da região.”

Com a safra atual prevista para mais 30 dias, Julio realiza colheitas semanais e já despertou o interesse de outros produtores e técnicos. “Já recebi visitas do Sindicato Rural de Maracaju e de técnicos do Senar/MS. Tem muita gente querendo conhecer como funciona esse tipo de cultivo”, disse.
Apesar do entusiasmo, ele reconhece os desafios do clima e das pragas. “A temperatura elevada aqui é muito diferente do Sul. Também enfrentamos pragas e foi difícil saber quais defensivos usar. É um projeto piloto e estou anotando tudo para melhorar na próxima produção”, explicou.
Julio cultiva em uma pequena propriedade rural, e aposta na diversificação e na inovação como caminhos para valorizar a agricultura familiar. “É um trabalho novo, mas com muito potencial. Agora é continuar aprendendo e expandir com segurança”, concluiu.
MS: dinamismo econômico e industrial


Os relatos claramente evidenciam que Mato Grosso do Sul consolida-se como um dos estados de maior dinamismo econômico e industrial do país, resultado de investimentos robustos de diferentes segmentos, crescimento consistente do PIB e expansão de setores estratégicos que fortalecem a base produtiva estadual, de acordo com a Fiems (Federação das Indústrias de Mato Grosso do Sul).
Neste processo, a estrutura geral da agroindústria de transformação aponta que, aproximadamente, existem 600 empresas ativas, em torno de 80 mil trabalhadores formais diretamente empregados, o que representa 47% do total da indústria estadual. Sendo assim, a agroindústria é responsável por cerca de 50% do PIB Industrial do Mato Grosso do Sul.
Em 2025, a estimativa é de R$ 25 bilhões, sendo este o “valor adicionado”, a riqueza que deve ser gerada ainda este ano. No caso das exportações, a agroindústria do Estado teve mais de US$ 6,2 bilhões exportados em 2024, sendo o destino para mais de 140 países. Ou seja, a agroindústria responde por mais de 90% de toda a exportação da indústria estadual.
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E aí, como foi absorver tanto conhecimento sobre o morango e as agroindústrias de MS? Complete o quebra-cabeças sobre o morango e envie para o número (67) 99124-7007, além de um pequeno texto com a sua percepção. Você pode receber um morango do amor na sua casa!