Para especialista Eline Kullock o grande dilema das empresas é preparar os novos líderes

Chefes mais jovens, menos experientes e com pouco conhecimento de gestão. Em um momento de fraca atividade econômica e com pouca oferta de emprego qualificado, o Brasil verá este cenário no mercado de trabalho em 2015. Essa é a opinião da especialista em RH e comportamento de gerações, Eline Kullock, que prevê um ambiente de alta rotatividade entre a mão de obra jovem nos altos cargos e onde o salário, para esses profissionais, interessa menos do que a felicidade profissional imediata. “Não vamos ter uma economia aquecida, mas a geração Y vai continuar saindo dos empregos que não lhe dão mais prazer. Já não é uma questão de salário ou crescimento de carreira. É uma decisão baseada no conceito mais presentista”, afirma Kullock. 

A especialista acompanha há décadas o comportamento dos jovens dentro das empresas, tendo atuado no setor de RH da Mesbla e da Servenco. Para ela, o momento atual de crescimento econômico próximo ao zero, com o “final do ciclo de pleno emprego” e maiores demissões em massa, favorecerá a escalada da geração Y. “Como uma forma de diminuir custos principalmente. As pessoas vão sendo demitidas e jovens com pouca experiência irão assumir posiões de chefia – para bem ou para o mal”, diz.

Aí é que está o principal dilema atual, avalia. Segundo a especialista, a “geração que chega não foi treinada para ser chefe” e sobe de posições em um momento que o papel do chefe espelha cada vez mais os valores e perspectivas que os funcionários carregam da empresa. “As pessoas veem seu chefe direto e não o presidente, valores e missão. Se esses chefes não estiverem treinados, haverá uma rotatividade muito maior”. Preparação de comando implica para ela fatores como interesse pelo crescimento de cada funcionário, auxílio direto no desenvolvimento, ser menos chefe e mais coach, estímulo a novas ideias – e vontade genuína de ouvi-las. 

A ascensão da Geração Y também é influenciada por uma perspectiva dos próprios jovens que carregam outra “noção do que é rápido e do que vale a pena esperar”, avalia Eline. “Não adianta prometer para eles boa aposentadoria lá na frente. É preciso falar sem adjetivos, ser específico. Para reter os talentos, só funciona sendo claro: você será promovido em 4,5 anos”. 

Para lidar com esses dilemas, Eline avalia que as empresas precisam se preparar tanto para treinar os chefes jovens como para criar uma cultura que valorize as pessoas – que as opiniões de cada um, e não necessariamente as metas, sejam levadas em conta. “Esse valores – clareza, perspectiva – que são reproduzidos pelo chefe contam mais na hora de um jovem decidir se ele fica na empresa”. Além disso, é preciso investir em um “aprendizado contínuo” da equipe. “Acabou de vez aquela ideia de que me formei em jornalismo, engenheiro ou que usarei aquelas informações para o resto da vida. Estamos em um mundo de mudanças e as pessoas têm o direito de exigir em saber como a empresa os manterá atualizados”, afirma.